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De olho na mídia

De olho na mídia

Maioridade Penal

Um dos maiores especialistas brasileiros em educação da juventude, Paulo Carrano não tem dúvida em questionar a maioridade penal, tema destacado pela grande imprensa nas últimas semanas e que já está na pauta do Congresso

Afasta de mim este cale-se - Destaque - Abril de 2007

Para Carrano, que coordena o programa Observatório Jovem do Rio de Janeiro, a grande questão é pensar a atual estrutura social brasileira de desigualdades e procurar meios de se alterar a causa real da violência, ao invés de buscar soluções paliativas. Em entrevista à equipe do Afasta de Mim Este Cale-se, no quinto andar do Bloco D da Universidade Federal Fluminense, onde funciona o programa, o educador analisou também o papel da mídia na cobertura da criminalidade e defendeu a aplicação efetiva do Sinase (Sistema Nacional de Atendimento Sócio-Educativo) e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

O país inteiro ficou mobilizado, em fevereiro, com a morte do menino João Hélio Fernandes, de seis anos. O assassinato brutal cometido no Rio de Janeiro por cinco assaltantes, um deles menor de idade, virou destaque nos grandes meios de comunicação e suscitou reações inflamadas por parte da população. Casos semelhantes, em que jovens praticam atos de violência, ocorreram em 2006, como os assassinatos do guitarrista carioca da banda Detonautas, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e da socialite Ana Cristina Joahannper, no Leblon. Diante de tais fatos, o rebaixamento da idade penal é apontado por grande parte da sociedade como uma das possíveis soluções para a diminuição da violência.

Entretanto, para o professor da Faculdade de Educação da UFF e também coordenador do programa Observatório Jovem do Rio de Janeiro, Paulo Carrano, a redução da idade penal é uma saída simples frente a uma situação muito mais complexa, com raízes na estrutura de oferta desigual de oportunidades a jovens e adolescentes. “O tema da maioridade é a ponta de um iceberg. As pessoas estão clamando por uma ação imediata, enquanto na verdade a violência é um fenômeno que tem causas mais profundas. A maioridade penal é aparentemente uma coisa que poderia resolver”.

ECA e Sinase

Instituído como Lei Federal no 8.609 em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA ) constitui-se de 267 artigos e promove à criança (até doze anos) e ao adolescente (até dezoito) a condição de sujeitos de direitos em fase de desenvolvimento. Em relação aos jovens infratores, o capítulo IV prevê a aplicação de medidas sócio-educativas, com o objetivo de proporcionar condições dignas de reintegração à sociedade.

Em comemoração aos 16 anos de publicação do ECA, foi criado o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) para o enfrentamento de situações de violência em que se envolvem adolescentes, tanto como praticantes de infrações quanto como vítimas de violação de direitos no cumprimento de medidas sócio-educativas. O Sinase reafirma a diretriz do ECA sobre a natureza pedagógica de sua aplicação, priorizando as medidas de meio aberto, como prestação de serviços à comunidade e liberdade assistida, em detrimento da pena de prisão, que deve ser aplicada apenas em caráter de excepcionalidade e brevidade.

Para Carrano, uma das tentativas para corrigir a situação de criminalidade está na efetiva aplicação do ECA e do Sinase, apesar de certos preconceitos em relação ao Estatuto. Segundo ele, faz parte do imaginário popular que o ECA é flexível demais, não pune, e que três anos é pouco para determinado tipo de crime. “Essa é uma desinformação. o ECA é rigoroso, mas o Estado brasileiro nunca investiu na sua real aplicação. Três anos de privação de liberdade não é pouco tempo para quem está em processo formativo. Essa é outra dimensão do ECA que não pode ser descuidada. São medidas para sujeitos em formação”.

O professor esclarece que a realidade sócio-educativa brasileira é falha. As condições das unidades de internação são subumanas, e esses espaços acabam não cumprindo seu papel fundamental de ressocialização. “É o Estado cometendo violência. A grande contradição é essa: o infrator é punido pela violência por meio de uma nova violência, e os espaços que deveriam servir de socialização acabam servindo de espaços de opressão, com falta de higiene, insalubridade e atendimento com violência física e simbólica”.

Cobertura Midiática

As práticas de punição de jovens criminosos é um assunto que vem ocupando espaço de destaque nos grandes meios de comunicação. Muitas das vezes são privilegiados depoimentos dos familiares envolvidos, enquanto opiniões de especialistas são deixadas de lado. Para o professor, a maioria das propostas que sugere a redução da maioridade penal, inserida num sentimento de comoção nacional, tem objetivo de “tirar da vista da sociedade o incômodo social, sem saber que manter em condições subumanas de privação da liberdade não resolve a questão da violência. Pelo contrário, contribui para que o ciclo do crime se perpetue, pois produz violência concentrada naqueles espaços e que será manifestada futuramente”.

Um mapeamento da situação do atendimento dos adolescentes em cumprimento de medidas sócio-educativas realizado em 2002 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) demonstrou que 71% das unidades de internação de jovens infratores são irregulares. Os principais problemas são a falta de projeto pedagógico, a construção de instituições ainda concebidas nos padrões do antigo Sistema Febem, a superlotação, o uso de maus tratos, tortura e falta de capacitação dos recursos humanos. Segundo o documento, existem casos extremos de violência em diversas unidades, culminando em rebeliões e mortes de adolescentes. Acesse o documento divulgado pelo IPEA

Também uma inspeção nacional realizada em 2006 pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em parceria com o Conselho Federal de Psicologia (CFP) detectou, em todo o país, inadequação das unidades de privação de liberdade de adolescentes em relação aos parâmetros do ECA. A maioria delas serve como contenção e encarceramento para adolescentes, constituindo-se como “mini-presídios”, pois os adolescentes já estariam, na realidade, sendo processados (condenados), cumprindo medidas de privação de liberdade (penas) em atendimentos sócio-educativos (prisões). No Rio de Janeiro, por exemplo, a equipe vistoriou o Instituto Padre Severino (Degase), localizado na Ilha do Governador. Constatou condições absolutamente inadequadas das “celas” e superlotação, com todos os efeitos que este fato acarreta. Os adolescentes apontaram o sofrimento cotidiano, constituindo esses locais como instituições punitivas e não educativas e de ressocialização. Leia a análise das unidades de internação de adolescentes em conflito com a lei.

Pesquisadora do Observatório Jovem recebe prêmio por monografia

Priscila Bastos é pesquisadora do Observatório Jovem, mestranda em educação na Universidade Federal Fluminense e professora do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro.  Priscila terá parte de sua monografia de graduação publicada na coletânea “Prêmio Territórios Quilombolas 2a edição” na categoria “Ensaio Inédito”

NEAD e Ppigre lançam a coletânea “Prêmio Territórios Quilombolas 2ª edição”

Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por meio do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD) e do Programa de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia (Ppigre), ao lado da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e demais parceiros, lança, no dia 10 de abril, em Brasília (DF), a publicação “Prêmio Territórios Quilombolas 2a edição”.

Apresentada na forma de coletânea, “Prêmio Territórios Quilombolas 2a edição” reúne os trabalhos premiados nas categorias “Ensaio Inédito” e “Experiências e Memórias” da edição 2006 do concurso, que teve o objetivo de fomentar a participação das comunidades e desenvolver o pensamento crítico, para dar subsídios à formulação de políticas públicas. O lançamento da publicação vai contar com a participação dos autores, com representantes do NEAD e do Ppigre e demais colaboradores na iniciativa.

De acordo com Renata Leite, uma das coordenadoras do Ppigre, a diversidade de temas, linhas teóricas e áreas do conhecimento expressadas no livro mostram como a temática quilombola tem ganhado visibilidade. “Esperamos que os trabalhos publicados contribuam para qualificar a reflexão sobre o tema, incentivando ainda mais a produção do conhecimento junto às comunidades remanescentes de quilombos”, diz.

Artigos premiados
Na categoria “Experiências e Memórias”, o trabalho publicado é de Jovita Furquim de França. Moradora do quilombo de Galvão – que fica na região do Vale do Ribeira, estado de São Paulo – “Dona” Jovita, como é conhecida, relata sua trajetória de trabalho e sofrimento desde a infância, e a luta para manter uma família numerosa no campo. O texto trata, ainda, de outras questões comuns ao meio rural, como a migração para a cidade e a doação de filhos para familiares com melhor estrutura financeira.

Na categoria “Ensaio Inédito”, estão no livro sete artigos. Parte da monografia de Graduação de Priscila Bastos, “Entre o quilombo e a cidade: trajetória de uma jovem quilombola” conta a vida da jovem Meri, moradora da Comunidade de São José da Serra, em Valença (RJ). No artigo “Do passado geral ao passado que se presentifica; memória e história em uma comunidade negra rural”, o autor Marcelo Mello analisa a história da Comunidade Negra Rural de Cambará (município de Cachoeira do Sul - RS), a partir da memória oral dos moradores e de documentos.

No ensaio “Negros do Tapuio: estudo etnográfico de uma comunidade quilombola do semi-árido piauiense”, Carlos Alexandre dos Santos aborda a construção da identidade quilombola na comunidade de Tapuio (Nova Queimada - PI) trabalhando a memória coletiva das comunidades negras rurais do estado. O etnodesenvolvimento é o tema central do trabalho de Ricardo Scoles, “Comunidade Negra de Itacoã: território, biodiversidade e organização social, pilares para o etnodesenvolvimento?”

A comunidade Manoel Barbosa, no município de Gravataí (RS), é retratada por Vinícius de Oliveira no artigo intitulado “Diálogos entre a pesquisa histórica e a memória quilombola: um estudo sobre a Comunidade de Manoel Barbosa/RS”. O autor utiliza documentos históricos e narrativas da comunidade como fontes de pesquisa.

O texto “Os bairros de São Pedro e Galvão/Vale do Ribeira: território e parentesco” mostra a estruturação desses bairros localizados no município de Eldorado (SP), a partir da descendência de um ancestral comum. Dona Jovita, vencedora da categoria Experiência e Memórias, é uma das personagens desse artigo. O autor José Maurício Arruti também retrata a região do Vale do Ribeira no trabalho “Uso comum, regularização fundiária e mercado de terras – estudo de caso da comunidade do Cangume”.

Serviço:
Lançamento da publicação “Prêmio Territórios Quilombolas 2a edição”
Data: 10 de abril
Local: Auditório da Reitoria da Universidade de Brasília
Horário: 17h15

* A atividade deve acontecer dentro da programação de evento de capacitação dos antropólogos do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Originalmente publicado em: Notícias Agrárias - 02 a 08 de Abril de 2007 nº 370

Quando a barbárie sai do gueto

É nos guetos que ocorre a maior parte dos crimes violentos. Quase sempre encontram o silêncio e a indiferença como respostas

Folha S.Paulo - 10.04.2007 - TENDÊNCIAS/DEBATES

É nos guetos que ocorre a maior parte dos crimes violentos. Quase sempre encontram o silêncio e a indiferença como respostas

A BALBÚRDIA em torno da necessidade do rebaixamento da idade de responsabilidade penal e da revisão do tratamento dado aos adolescentes infratores não é novidadeno Brasil.  A busca da solução mágica na forma da lei e do discurso duro pedindo justiça tem sido a regra dos debates que sucedem crimes bárbaros, especialmente se cometidos fora dos guetos. Basta ver o Datafolha do último domingo, que mostra crescimento do apoio à pena de morte: 55% da população é a favor da medida. O maior percentual de apoio (64%) está entre os que têm rendimento familiar superior a dez salários mínimos mensais.

E, no entanto, é nos guetos -favelas e bairros das periferias das metrópoles onde estão segregados os afrodescedentes e os pobres- que ocorre a maior parte dos crimes violentos e neles prevalecem as maiores taxas de homicídios de adolescentes e de jovens no mundo. Quase sempre essa violência encontra o silêncio e a indiferença como respostas.  Quando uma barbaridade se abate sobre uma vítima fora dos guetos, porém, o choque de realidade segue implacável rotina. Após uma cacofonia de repúdio ao crime, governantes ostentam sua indignação e solidariedade com as famílias das vítimas, legisladores ameaçam votar projetos de lei a toque de caixa, passeatas clamam pela paz etc. Tanto barulho para nada.

Com o tempo, o tema da segurança volta para baixo do tapete. Nas semanas após o crime bárbaro, muitas chacinas, algumas balas perdidas de revólverde policiais acertam casualmente uma moradora no gueto. Mal são notadas:compaixão e clamor só para vítimas de fora dos guetos.  O debate aprofundado sobre a prevenção da violência é entediante demais, frio diante da tragédia. Já a retórica do sangue é ágil, combina docemente com a sede de vingança. No Carnaval das respostas fáceis, a escola da mão pesada ganha novos adeptos entre intelectuais que também babam sangue. Pregam penas de internação mais longas para crianças e adolescentes em conflito com a lei, condenando-os alegremente às sevícias e aos estupros que prevalecem nas instituições fechadas.

Esquecem que o direito penal é a vertente mais discriminatória do direito, pois se abate quase que unicamente sobre os habitantes dos  guetos. A pregação furiosa pelo endurecimento penal agrava a discriminação racial e social sem sequer arranhar a escalada da criminalidade.  As mais de duas décadas de consolidação da democracia no Brasil foram acompanhadasde uma explosão sem precedentes da violência. A perversa associação entre o aumento da insegurança e o estabelecimento de um Estado democrático de Direito é utilizada no ataque aos supostos defensores dos "direitos dos bandidos".

Falar de prevenção da violência e reforma da polícia (estrutura intocada desde a ditadura), apurar adequadamente crimes cometidos por agentes do Estado, assegurar plenamente o acesso à Justiça, mencionar eficiência e transparência ao divulgar informações sobre criminalidade e ação policial, proteção das vítimas etc. dá trabalho e rende pouquíssimo ibope. Por que lembrar (como fazem as 500 páginas, Estado por Estado, do 3º Relatório Nacional de Direitos Humanos, publicado pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP) que a maioria dos homicídios no Brasil não é apurada e que a fácil obtenção de armas de fogo (referendada com apoio da escola da mão pesada) tem papel determinante na carnificina?

Para que reconhecer que a larga maioria dos crimes cometidos por adolescentes não é violenta, que a maioria dos adolescentes e adultos detidos não tem processos julgados em prazos razoáveis? Por que lembrar que as prisões mesclam criminosos perigosos e primários?

No ritmo contagiante do endurecimento penal, compensamos o sempre adiado espetáculo do crescimento econômico com o incomparável e espetacular crescimento na população carcerária. Entre 2000 e 2006, aumentamos em 72% o número total de presos. Temos em números absolutos e proporcionais a maior quantidade de presos da América Latina. Sem que a criminalidade diminua. Reduzir a idade da responsabilidade penal e garantir estadas mais prolongadas no sistema de detenção de crianças e adolescentes contribuirá para aprofundar ainda mais o ciclo de comprovada incompetência para proteger a população.

Ocupar "manu militari" os guetos, deixando livres os chefes do crime, saciar a sede de vingança, torturando suspeitos, e encarcerar mais não trará paz. Ao contrário, alargará ainda mais a insegurança, engabelando a população até a próxima temporada de guerra (frouxa e incompetente) ao crime.

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3º Relatório Nacional de Direitos Humanos no Brasil
O Núcleo de Estudos da Violência, a Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos e a Universidade de São Paulo lançou no dia 16/03/2007 o 3º Relatório Nacional de Direitos Humanos no Brasil. O relatório foi elaborado pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo e pela Comissão Teotônio Vilela, com a colaboração de organizações da sociedade civil, do governo federal e de governos estaduais e municipais de todas as regiões do Brasil.

http://www.nevusp.org/downloads/down099.pdf

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PAULO SÉRGIO PINHEIRO, 63, é expert independente do secretário-geral da ONU
para a violência contra a criança. Publicou em 2006 o Relatório Mundial sobre
Violência contra a Criança. Foi secretário de Estado dos Direitos Humanos
do governo FHC. MARCELO DAHER, 29, é especialista em direitos humanos do
Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU (Genebra).

Intercâmbio escravo

O drama dos estudantes brasileiros que vão para o Exterior em busca de melhor formação e acabam escravizados nas mãos de quadrilhas internacionais

Nove entre dez famílias brasileiras sonham um dia mandar seus filhos para o Exterior. Desejam que eles possam estudar, trabalhar, dominar mais de um idioma, conhecer outras culturas e que voltem qualificados para enfrentar um mercado altamente competitivo. É um desejo absolutamente legítimo, que tem se tornado cada vez mais possível. Nos últimos cinco anos, segundo pesquisa realizada pela Association of Language Travel Organizations, maior entidade de empresas de intercâmbio do mundo, o Brasil se transformou no quarto “exportador” de estudantes do planeta, responsável por 32% dos jovens que cruzam oceanos em busca de melhor formação, ficando atrás apenas de Japão, Espanha e Alemanha. No ano passado, pouco mais de 70 mil brasileiros deixaram o País em programas de intercâmbio. Para este ano, a estimativa é de que o número de brasileiros nesses programas supere os 94 mil. O problema é que o crescimento desse mercado trouxe consigo uma série de armadilhas até agora pouco conhecidas dos brasileiros. Ninguém está imune a elas e não são raros os casos em que o sonho se transforma em dramático pesadelo, com os jovens sendo submetidos a trabalho escravo.

Extrovertida, alegre, filha de médicos bem-sucedidos, Nathália de Souza e Castro, 21 anos, desembarcou no aeroporto de Miami em 14 de dezembro do ano passado. Estava certa de que começaria ali a viver “os dias mais felizes de sua vida”. Na verdade, começava a protagonizar um filme de terror, como ela mesma define sua passagem pelos Estados Unidos. Queria aperfeiçoar seu inglês e conhecer uma outra cultura. Quando saiu do avião, Nathália ficou dez horas enclausurada dentro de uma van na companhia de outros brasileiros. Depois, todos foram levados ao Burger King. “Comam porque vocês não sabem a próxima vez que vão comer!”, gritava o motorista, um armênio chamado George, que de vez em quando dava um cascudo no seu auxiliar, o mongol Eddy. Quando deixou o Brasil, Nathália e outros estudantes de Brasília assinaram um contrato determinando que o grupo iria trabalhar junto em um mesmo local nos EUA. Lá, ela e sua amiga Paola Carvalho foram levadas para a cidade de Naples, a 40 minutos de Miami. As duas trabalharam em uma loja chamada Alvim, cujo proprietário chama-se Yosban. Duas semanas depois, foram levadas para a fábrica Sun Art, de Aras Khurshudyan, em Hollywood. No chão do quarto do apartamento onde elas foram morar, apenas dois colchões de ar. E muita barata. “Os colchões esvaziavam e acordávamos no chão frio”, diz Paola. As duas trancaram a porta do quarto para dormir, pois descobriram que teriam de dividir o apartamento de dois quartos com Aras, o motorista George e o auxiliar Eddy. “Era horrível, não sabíamos quem estava dormindo ao nosso lado”, lembra Nathália.

As jovens tiveram de comprar talheres, pratos e panelas. Nos galpões da fábrica trabalhavam com colombianos, mexicanos, peruanos e outros brasileiros, muitos ilegalmente nos EUA. Produziam e embalavam estampas de camisetas. Ninguém falava inglês. Comiam na calçada, em rápidos intervalos. Trabalhavam das 9 horas às 22 horas e tinham direito a 30 minutos de almoço. Não sobrava tempo para estudar. Pelas duas primeiras semanas de trabalho, Nathália recebeu US$ 230. Paola recebeu US$ 165. O dinheiro não deu para pagar o que elas gastaram com alimentação e venenos para matar as baratas do quarto. Mais duas semanas de trabalho e resolveram voltar, depois de conseguir contato com as famílias no Brasil. Paola ainda teve de devolver US$ 21 ao empregador, como restituição pelo uso do alojamento. Resultado de um mês de trabalho: US$ 143. Aras tem o hábito de beber e gosta de ficar “cantando as garotas”, como diz Nathália. Desesperada com as notícias que recebeu da filha, a mãe de Nathália, Maria de Fátima, foi pessoalmente aos EUA para trazer a garota de volta. “A perda da ilusão destes jovens é maior do que a perda monetária”, lamenta Maria de Fátima.

Nathália e seus amigos foram vítimas de um tipo de intercâmbio que requer cuidados especiais: o Work and Travel, ou Trabalhe e Viaje. A modalidade ganhou prestígio internacional após os ataques terroristas de 2001, quando os Estados Unidos – destino preferido por 48% dos brasileiros – adotaram a política de endurecer contra os clandestinos e ao mesmo tempo ampliar o número de vistos para absorver trabalho temporário. Nesse contexto, diversos jovens são vítimas de uma quadrilha que atua basicamente na Flórida, promovendo o intercâmbio escravo. Os estudantes são impedidos de falar inglês e ganham pouco mais de 10% do salário de um trabalhador clandestino. Os donos das empresas providenciam moradia, mas cobram tarifas de luz e aluguéis extorsivos. No final do mês, a exemplo do que aconteceu com Paola, muitos ficam devendo dinheiro aos empregadores. O esquema envolve empresas de sete cidades da Flórida, segundo os relatos dos jovens, e explora centenas de pessoas.

Diego Critter Melhado, 20 anos, de Campinas, no interior paulista, chegou a Miami no dia 18 de dezembro, trabalhou dois dias e no terceiro desistiu do emprego. Ele trabalhava numa fábrica lavando com as próprias mãos as telas de alumínio utilizadas em serigrafia, sujas de tinta. Diego tinha de misturar produtos químicos e não recebeu máscaras nem luvas. “Tive vários pequenos cortes nas mãos e aquilo ardia muito nos olhos”, lembra. Ele morava com três amigos, todos submetidos a trabalho escravo. No apartamento de um quarto só havia quatro colchões de ar, dois deles furados. “Tivemos de pagar adiantado US$ 2,6 mil de aluguel para sermos liberados pelo empregador”, diz o rapaz. “É trabalho escravo.” Os rapazes de Campinas fecharam contrato com a empresa brasileira Experimento Intercâmbio Cultural. “A Experimento não nos ajudou em nenhum momento”, reclama. Eles procuraram o consulado brasileiro em Miami, que os encaminhou para o advogado Joel Stewart. Mas o advogado disse aos jovens que os contratos de emprego estavam irregulares e que nada podia fazer. Quando os estudantes falavam em procurar o consulado, os empregadores ameaçavam e diziam que tinham o controle sobre o visto. A gerente da Experimento, Patrícia Zocchio, lamentou o tratamento que os estudantes receberam no Exterior. Ela afirma que a empresa realizou todos os esforços para “recolocar” os jovens em outro trabalho. A mãe de Diego, Márcia Melhado, quer a devolução de tudo o que gastou. “Eles extorquiram o dinheiro dos meninos”, reclama Márcia.

A promessa feita pela maioria das 70 empresas que enviam estudantes para o Exterior é de um emprego digno ao longo de uma temporada de até quatro meses. Cada jovem gasta entre R$ 10 mil e R$ 12 mil com passagens, taxa de agência e outras despesas. As empresas de intercâmbio costumam cobrar R$ 3 mil de cada jovem, só de taxas. Mas nada assegura que por trás de uma fachada bem montada não haja uma arapuca. O estudante André Lima, que trabalhou um mês em Miami, diz ter conhecido vários outros brasileiros vivendo em condições subumanas. Além de Naples e Hollywood, ele diz que o esquema tem lojas em Cocoa Beach, Anna Maria Island, Clearwater e Fort Lauderdale. Uma das agências nos EUA que providenciaram os falsos empregos para os brasileiros é a Aspire Wordwide. “Esperávamos uma resposta melhor da Aspire”, lamenta Natália Payne, responsável pela Bex, agência brasileira que mandou seis jovens de Brasília para as mãos do esquema. Ela admite que os jovens pagaram taxas extorsivas. Cada um tinha que entregar US$ 71 para pagar energia elétrica na residência coletiva. Um mesmo apartamento de dois quartos acomodava até dez pessoas. Mesmo em residências coletivas, esses jovens pagaram US$ 422 de aluguel e caução. Bex e Aspire romperam o convênio assim que ISTOÉ começou a investigar o intercâmbio escravo, há três semanas.

“Não tenho o que comentar”, disse Sara Molan, a responsável pela Aspire em Laguna Beach, na Califórnia. Aras Khurshudyan, um dos empregadores identificados, também se recusou a atender a reportagem. “É lamentável que isso ocorra, mas o governo dos Estados Unidos vistoria essas agências e empresas que cuidam de intercâmbio e com certeza tomará providências”, diz Tatiana Visnevski, presidente da Brazilian Educational & Language Travel Association – entidade que congrega 70 empresas brasileiras de intercâmbio. Os pais que tiveram os filhos humilhados, no entanto, não estão dispostos a esperar que o governo americano tome providências e já planejam a adoção de uma série de processos tanto aqui como lá. A advogada Maria Bilotta, tia de Flávia Escobar, outra vítima do esquema, afirmou que os processos no Brasil serão apresentados com base no Código de Defesa do Consumidor. “As agências não cumpriram contratos e fizeram propaganda enganosa”, constata. Aos 22 anos, Flávia chegou este mês dos EUA e se diz traumatizada. “A gente não podia conversar em inglês, não podia sentar, a gente tinha que estar sempre trabalhando.” A estudante Elisa Carvalho, 21 anos, ficou irritada ao saber que ganharia US$ 6 na segunda quinzena de trabalho. “Infelizmente, tem muita gente lá que aceita essas condições por falta de opção melhor no Brasil”, diz Elisa.

Joel Stewart, advogado do consulado brasileiro em Miami diz que de fato alguns jovens brasileiros têm feito reclamações sobre as condições a que ficam submetidos, mas assegura que o problema está mais no Brasil do que nos Estados Unidos. “Esses programas não concretizam em contrato todos os detalhes necessários. A culpa é das agências brasileiras, que contratam essas pessoas e nada explicam. É uma bagunça”, acusa o advogado. Ele sugere que antes de viajar os jovens coloquem no contrato todos os detalhes do programa, como salário, condições de moradia e tipo de emprego. No Brasil, o Itamaraty pediu às famílias que apresentem denúncia formal na Divisão de Assistência Consular, em Brasília, pois assim o governo poderá promover uma ação coordenada com o governo dos Estados Unidos para coibir qualquer tipo de exploração de mão-de-obra semi-escrava de brasileiros. “Essas empresas têm que ser identificadas para que respondam juridicamente”, diz o secretário Acir Pimenta. “O Itamaraty vai instruir os postos no Exterior a fazer representações para evitar que os jovens sejam enganados”, promete.

Com a rápida expansão do mercado de intercâmbio, as agências no Brasil oferecem dez tipos de programas no Exterior. O trabalho remunerado é o que tem mais crescido nos últimos cinco anos. O programa é para jovens entre 18 e 30 anos, que tenham bom nível de inglês. Até então, um dos mais procurados era o Programa High School, pelo qual os estudantes entre 14 e 19 anos podem ficar até 12 meses na casa de uma família americana, para terminar o segundo grau. Mas, nesses casos, as famílias podem e devem ser bem escolhidas.

Publicado originalmente em 04/04/2007, pela revista ISTOÈ Online

Veja o original em: http://www.terra.com.br/istoe/1953/brasil/1953_intercambio_escravo.htm

18% dos jovens de 15 a 17 anos não freqüentam a sala de aula, diz pesquisa

Os principais motivos apontados são desinteresse, trabalho e falta de transporte. Estudo foi divulgado nesta terça-feira (3)

Dezoito por cento dos jovens com idade entre 15 e 17 anos não freqüentam a sala de aula, segundo pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV ) do Rio de Janeiro. Os principais motivos alegados pelos jovens que estão fora da escola são desinteresse (45%), atividade profissional ou doméstica que impede o estudo (22%) e falta de acesso à escola ou transporte (10%).

O resultado da pesquisa é uma mensagem clara aos governos, na opinião do coordenador da pesquisa, Marcelo Nery. Segundo ele afirmou à Agência Brasil, órgão do Governo federal, o atual modelo de escola não vem despertando interesse suficiente dos alunos.

Nery destacou ainda a necessidade de um conteúdo pedagógico mais identificado com a realidade dos jovens e também mais eficiente do ponto de vista do mercado de trabalho, com ênfase nas escolas técnicas. Além da promoção de uma maior conscientização de pais e gestores públicos sobre a importância da educação.

Os dados do estudo mostram que Rondônia é o estado com a maior taxa de jovens que não querem estudar por desinteresse, com 13,75%. Já o Acre se destaca por apresentar os mais altos índices dos que não estudam por falta de escolas acessíveis, 4,99%, e dos que têm que trabalhar, 7,88%.

Entre os jovens de 15 a 17 anos, os que têm maior jornada na escola são os de Brasília, com uma média de 4,9 horas por dia. Já o estado de Santa Catarina, segundo Nery, surpreendeu negativamente, ocupando o último lugar entre as unidades da federação, com 3,1 horas.

O Rio de Janeiro ocupa o primeiro lugar do ranking nessa faixa etária para os índices de matrícula, e Pernambuco, o último. Já no quesito presença, os mais assíduos são os alunos do Amazonas e os menos, do Maranhão. A pesquisa foi feita com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Veja a pesquisa completa no site da FGV.

Notícia originalmente publicada www.g1.com.br, em 03/04/2007 - 20h21 - Atualizado em 03/04/2007 - 21h50

Para ver o original: http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL17835-5604,00.html

Jornal destaca mobilização dos jovens diante do período eleitoral

Durante os processos eleitorais é comum, por parte de diversos setores da sociedade, o questionamento da atuação e do papel da juventude na escolha dos políticos. Surge a dúvida de onde estariam os estudantes no momento em que deveriam ocupar as ruas, como fizeram em vários momentos decisivos. As pesquisas têm revelado que os jovens se sentem desconfortáveis com a política tradicional, já que a lógica de ação dos políticos não é fácil de ser compreendida

Em matéria para o jornal O Estado de Minas, o presidente da UNE, Gustavo Petta e o presidente da UBES, Thiago Franco, afirmaram que os jovens hoje se distribuem e atuam em diversos movimentos sociais tanto culturais, como políticos, demonstrando dessa forma que eles não estão alheios aos processos que estão se desenrolando na sociedade.

Thiago esclarece que a indignação tem motivado os jovens e que estão buscando saídas. "Hoje, a mobilização se dá em torno de várias bandeiras. O próprio movimento estudantil diversificou a atuação, se organizando para exigir melhorias na ciência, cultura e esportes, além da tradicional luta pelas demandas educacionais" , diz.

Já Petta argumenta que apesar das organizações se esforçarem para a defesa das causas coletivas, a sociedade estimula o consumismo desenfreado: "A pressão por emprego, formação e sucesso financeiro faz com que cada um se preocupe consigo e, de forma geral, não tenha tempo ou interesse de se envolver em questões de maior abrangência". Nesse mesmo sentido, ele também declara que as mobilizações dos anos 50 e 60 são diferentes dos atuais que são mais pontuais.

Confira abaixo a íntegra da matéria publicada do suplemento jovem D , do jornal O Estado de Minas.

Mobilização juvenil

Parece que desde o impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992 , a juventude perdeu a motivação política. Parece. A verdade é que os jovens estão mais interessados em militar em causas próprias do que em levantar bandeiras pelo bem geral da nação. É através de coletivos, ONGs, entre outras formas de associação, que os estudantes se mobilizam para exercer a cidadania em defesa de causas diversas. "De lá para cá, a própria sociedade adulta, que cobra atitude dos jovens, não participou de movimentos tão amplos, de caráter nacional", observa o coordenador do grupo de pesquisa do Observatório Jovem da Universidade Federal Fluminense (UFF), Paulo Carrano, responsável pela pesquisa Juventude brasileira e democracia, que ouviu jovens de oito regiões metropolitanas do país. O levantamento revelou que 28% dos entrevistados participam de algum grupo, de caráter juvenil ou não.

De acordo com Carrano, essa mobilização segmentada não indica que os jovens estão alheios ao processo político representativo. "Eles reconhecem na política um espaço importante de decisão. Por outro lado, encontramos cada vez menos jovens dispostos a furar o bloqueio das instituições tradicionais, principalmente os partidos." Carrano afirma ainda que as pesquisas têm revelado que os jovens se sentem desconfortáveis com a política tradicional, já que a lógica de ação dos políticos não é fácil de ser compreendida. "Eles também desconfiam muito das pessoas que dedicam a vida profissional à atividade política." Outra questão, na avaliação do coordenador, é que os partidos não estariam criando espaços propícios à participação de um maior número de jovens.

Há quase 10 anos atuando como liderança jovem, desde grêmios a DCEs, o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gustavo Petta, de 25 anos, reforça as afirmações de Carrano. Segundo ele, apesar da idéia generalizada de que a juventude anda alienada do processo político, há indicativos que provam o contrário. "É crescente a participação dos jovens em organizações sociais, que têm caráter político. Além dos movimentos estudantis, que são os mais tradicionais, a juventude tem tido voz ativa através de ONGs e movimentos, como o hip hop, que revela a participação efetiva da periferia, que conquista cada vez mais espaço de interlocução com o poder público."

Ele menciona, ainda, dados recentes da Justiça Eleitoral que indicam um crescimento de 39,3% no número de jovens de 16 e 17 anos que tiraram título de eleitor, apesar de não serem obrigados a votar. "Os dados surpreenderam muitos analistas, que pensavam que os jovens se afastariam do processo por causa da atual crise política, dos escândalos e da corrupção." Segundo essas estatísticas, o percentual de eleitores nessa faixa etária é de 2,45%, o que corresponde a cerca de 3 milhões de pessoas.

Indignação

A participação juvenil tende a ser cada vez mais consciente, na avaliação do presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Thiago Franco, de 21, que assumiu o cargo ano passado, durante a eleição indireta realizada pela entidade durante congresso. "A indignação e o descontentamento têm levado os jovens a buscarem saídas ativamente, sem esperar apenas a ação do poder público. Hoje, a mobilização se dá em torno de várias bandeiras. O próprio movimento estudantil diversificou a atuação, se organizando para exigir melhorias na ciência, cultura e esportes, além da tradicional luta pelas demandas educacionais."

Novos atores sociais

Por que razão os jovens não manifestam indignação nas ruas, com novas faixas e cartazes? Essa é uma pergunta que intriga muitos brasileiros. De acordo com Paulo Carrano, do Observatório Jovem da UFF, realmente há uma latência dos movimentos, e não só dos que envolvem jovens. "De certa forma, é um traço positivo, que reflete o processo construtivo de consolidação da democracia depois de um período histórico de luta árdua contra a ditadura."

O presidente da UNE, Gustavo Petta, observa que as organizações de juventude se esforçam para que as pessoas se envolvam em causas coletivas, enquanto a sociedade estimula o individualismo e o consumismo desenfreado. "A pressão por emprego, formação e sucesso financeiro faz com que cada um se preocupe consigo e, de forma geral, não tenha tempo ou interesse de se envolver em questões de maior abrangência."

Sob as rédeas do neoliberalismo, a juventude parece reproduzir a lógica individualista em movimentos coletivos. Dessa forma, os jovens não deixam de se organizar, mas o têm feito, muitas vezes, em defesa dos interesses de um grupo específico. "As características contemporâneas de mobilização são adaptações dos movimentos dos anos 50 e 60, quando surgiram novos atores sociais, entre eles os jovens e as mulheres. Os objetivos voltados para um futuro distante vão dando lugar a ações mais pontuais, desde problemas no bairro até questões ambientais específicas ", explica Carrano.

Apesar da falta de debates mais amplos, o jovem não está despolitizado, na opinião do coordenador geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFMG, Leonardo Rodrigues Carvalho Silva, de 19 anos. "O que acontece hoje é uma dispersão, que aponta grupos organizados em diversas frentes – cultural, esportiva, ambiental, social, entre outras – e tudo isso pressupõe transformação, esforço, envolvimento, que é participação política."

* Matéria originalmente publicada no jornal Estado de Minas (26.09.2006)

leia mais sobre a mbilização juvenil:
Estudantes voltam às ruas no Dia Nacional de Luta Pelo Passe Livre

UFRJ estuda desigualdade avaliando determinantes e conseqüências

Desigualdade é parte do cenário social e econômico no Brasil, marca da nossa História, desafio político e preocupação na rotina da população. O tema também é objeto de estudo de pensadores do porte do Prêmio Nobel de Economia, Amartya Sen, autor de obras como Desigualdade reexaminada, e de pesquisadores fluminenses reunidos no Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre a Desigualdade no Brasil – Nied. O núcleo, baseado no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, é coordenado pela professora Elisa Reis, que lidera o projeto Desigualdades no Brasil: determinantes, conseqüências e políticas de combate, com apoio da FAPERJ pelo programa Pronex

Divulgação/ Vinicius Zepeda

"A finalidade do projeto é estudar a eficácia das políticas redistributivas. Em dois anos chegaremos na conclusão dessa análise. Por ora ninguém sabe se o Estado está abrindo mão ou se é uma questão de criar sinergias. Há no momento uma revisão da forma que a sociedade e o estado interagem", diz a cientista social Elisa Reis.

Ela relembra que na década de 1990 instituições diferentes trabalhavam a questão da desigualdade, que se tornou tristemente célebre no Brasil alçado ao ranking dos países com maior índice no mundo. Hoje pesquisadores da área social e econômica como Peter Fry, Ricardo Paes de Barros, Yvonne Maggie, Carlos Hasenbalg, Isabel Ribeiro, Lena Lavinas, Marcelo Néri, Nelson Valle e Silva estão reunidos nessa empreitada.

O projeto parte da identificação de tendências históricas apontando focos da origem da desigualdade como renda, educação e ocupação. Analisará determinantes do fenômeno diferenciando a desigualdade de condições e a desigualdade de oportunidades. Também avaliará o impacto sobre poupança, crescimento econômico, demanda de bens duráveis, receita tributária e despesa governamental, e conseqüentemente sobre o déficit público. Uma das linhas da pesquisa tem como objetivo explorar em que medida a desigualdade afeta a natureza e o ritmo do processo de democratização, assim como os níveis de violência e tensão social nas grandes áreas urbanas. Além disso investiga políticas redistributivas, seus fundamentos, viabilidade e eficácia.

"Quero estudar a desigualdade além da percepção dos não-pobres. A pobreza é vivida pelos pobres, mas é a elite que tem capacidade de interferir e transformar essa condição. Em segundo lugar, verificar de que maneira o Estado lida com a percepção da pobreza e da desigualdade", esclarece. Professora do IFCS/UFRJ, Elisa investiga as novas configurações sociais implicadas nesse processo: "Esses três atores – o Estado, a sociedade civil e o mercado - têm funções e divisões clássicas. Com os processos globais, essas funções começaram a ser revistas. Procuramos investigar como o estado e o mercado passaram a abordar essas questões", diz.

A atuação da filantropia e das ONGs também é objeto de estudos dessa abordagem: "As ONGs aparecem geralmente como alvo de denúncias de oportunismo. Quero verificar o panorama geral de atuação das ONGs e suas dimensões na sociedade. Há muito estudo de caso, mas pouca coisa sistemática. Com a ajuda do Pronex produzimos um banco de dados de 301 ONGs", explica.

Essa amostragem contempla seis centros urbanos – Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte e Salvador. Brasília, Rio e São Paulo têm a maior concentração de ONGs. Belo Horizonte e Porto Alegre foram selecionados porque são os dois centros urbanos com maior índice de associativismo. Salvador por representar a capital do Nordeste com o maior número de ONGs.

"A Abong (Associação Brasileira de ONGs) tem mais de 600 cadastros. O IBGE apresenta mais de 200 mil cadastros. Há muita fundação e associações sem fins lucrativos registradas como ONGs. Levamos mais de um ano para levantar dados e estabelecer critérios. Agora essas informações estão sendo analisadas", conta, ressaltando que a pesquisa Desigualdades no Brasil: determinantes, conseqüências e políticas de combate conta com a colaboração do economista Ricardo Paes de Barros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), um dos maiores especialistas em estudos sobre desigualdade do país. "Há um projeto como esse sobre ONGs na Hungria. Vamos comparar a ação das ONGs do Brasil e da Hungria aplicando o mesmo questionário".

Um núcleo de pesquisa que veio da web

"O Nied foi formado antes do primeiro Pronex, apoiado pelo CNPq no final da década de 1990, e existe desde o final de 1999. É resultado de minhas ligações com o Crop (Comparative Research Programme On Poverty), uma network originada no International Council of Social Sciences (ICSC) na Unesco. Surgiu como programa de network global com secretaria em Bergen, na Noruega, que reunia gente preocupada com essas questões de desigualdades sociais", explica a cientista social.

Segundo Elisa Reis, o Crop foi o ponto de partida que resulta agora na atual pesquisa sobre o panorama da desigualdade nacional: "Eles me ajudaram muito no primeiro Pronex sobre Pobreza e percepções sobre a Desigualdade - um estudo comparativo em cinco países (Brasil, África do Sul, Filipinas, Bangladesh e Haiti), coordenado nesses países graças à ajuda do Crop e do CNPq. O resultado está no livro Elite Perceptions on Poverty and Inequality editado pela Zed Books, em Londres.

"Ao terminar esse projeto estava com o Nied funcionando. O núcleo atua como um instrumento de coordenação de pesquisas", esclarece a coordenadora. O Nied reúne hoje profissionais e alunos da graduação e pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ; Universidade Federal Fluminense - UFF; Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA; Laboratório Nacional de Computação Científica - LNCC; Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro - IUPERJ.

Notícia originalmente publicada em "Boletim da FAPERJ; Semana de 4 a 11 de abril de 2007. Ano 3. Nº 133"

RAP and roll

Body Count - BandDe música de guetos negros a trilha sonora das classes médias brancas, gênero é tema de quatro novos estudos no Reino Unido e nos EUA

São Paulo, domingo, 25 de março de 2007 - Folha S.Paulo - Caderno mais!

JOHN SUTHERLAND

Nas últimas semanas de fevereiro passado, a mídia britânica agitou-se em pânico moral por causa de uma série de tiroteios entre jovens negros nos encraves pobres de Londres.

"O que tornou nossos jovens violentos? Foram os filmes, a música rap, a cultura de rua?", perguntou-se um líder no jornal "Daily Telegraph".

Os políticos britânicos -apesar da retórica eleitoreira sobre "ser duro com o crime e duro com as causas do crime"- pareciam singularmente despreparados para responder a essa pergunta.
Nem o "nossos" do "Telegraph" soa totalmente verdadeiro. O principal público leitor do jornal não vive nos prédios da prefeitura em Peckham [subúrbio de baixa renda de Londres].

Uma reação construtiva seria avaliar o crescente número de livros sobre a erudição do rap, por assim dizer. Os estudos de mídia não recebem boa divulgação, considerados antitemas para preguiçosos.
Mas, nos últimos 20 anos, os teóricos da disciplina fizeram análises perspicazes das formas culturais e práticas sociais reunidas em torno do que, em resumo, se pode chamar de rap.

Os políticos poderiam aprender com ele. E deveriam, na minha opinião. Para começar, os ingredientes contraditórios nessa mutação da "música do diabo" desafiam uma análise fácil.

O rap em si é o que Jacques Derrida (santo patrono dos estudos da mídia) chama, em seu ensaio "A Farmácia de Platão" [ed. Iluminuras], de "phármakon": isto é, uma palavra radicalmente de duplo sentido (pense em "droga" como em "drogaria" e em "traficante de drogas"; ou "coca" como bebida ou pó para cheirar).

Esquizofrenia
"Rap" implica, em inglês, "bater" com raiva (como em portas fechadas) e dor física (um cascudo). Implica também, na gíria das ruas, "rapport", relacionamento, como em "Can"t we all just get along?", de Rodney King [A gente não pode simplesmente se dar bem?, declaração do taxista negro que fora espancado pela polícia de Los Angeles em 1992].

Nelson George [autor de "Hip Hop America", Penguin, 238 págs., US$ 15, R$ 31], um crítico negro que fala corretamente e despreza a gíria, chama o termo de "esquizofrênico".

A maior de todas as contradições é o público do rap, dentro do público maior do hip-hop.É uma música que, como o jazz, tem sua origem e (cada vez mais) seus meios de produção na comunidade negra e seu maior público na comunidade branca (segundo uma estatística amplamente citada na mídia dos EUA, cerca de 70% do hip-hop é vendido para brancos).

Citando Nelson George: "Em certos momentos, quando o hip-hop é mais tragicamente cômico, posso imaginá-lo como uma batalha, em que jovens afro-americanos entram na arena para se injuriar verbalmente, emocionalmente e, sim, fisicamente uns aos outros para o prazer de espectadores predominantemente brancos em todo o mundo". Não é puro prazer. Como na era do jazz de F. Scott Fitzgerald, a "jungle music" (como era chamada nos anos 1920 não-esclarecidos) provoca nos brancos reações gêmeas de medo e fascínio.

Rap significa o coração das sombras. Com brilho.
"Eles me vêem -e eles correm", como disse o finado Tupac Shakur em sua faixa "homicida" "Hit 'Em Up". E Leonardo DiCaprio, no filme "Diamante de Sangue", corre pela selva.
O hip-hop é o tema de "Other People"s Property" [Propriedade Alheia, Bloomsbury, 254 págs., US$ 24,95, R$ 52], de Jason Tanz. Essa música negra "crua" é "expropriada" (roubada, para ser direto) por seus fãs brancos?

Ou é um canal de comunicação étnica potencialmente vital e mutuamente enriquecedor?
Tanz (branco, classe média e totalmente fascinado) olha-se no espelho. Seu consumo viciado de hip-hop, enquanto não se expõe a nenhum dos riscos e privações que geram a música, é vampirismo cultural ou voyeurismo?

Rapper s reais
Posso citar exatamente quando tomei plena consciência da música rap -em 1992, com o furor em torno da música "Cop Killer" [Matador de Tiras], de Ice-T e sua banda Body Count, e da campanha da Associação Nacional de Rifles e Charlton Heston contra a Warner por comercializá-la.

Este é um trecho mais publicável da letra: "Serrei minha calibre 12/ Desliguei o farol/ Vou dar uns tiros/Vou acabar com uns tiras". A resposta de Ice-T foi gelada: "Se você acredita que sou um matador de policiais, você acredita que David Bowie é um astronauta".

Em uma virada típica, Ice-T uniu forças com a lei no filme de 1991 "New Jack City" [DVD Warner] e tem feito o detetive Tutuola na série de TV "Law and Order" desde 2000.

Essa capacidade de iludir o preconceito, embaralhar imagens e fazer os branquelos parecerem imbecis é uma das características mais interessantes do rap. Isso e os aspectos histriônicos da música.
O produtor Quincy Jones (cuja filha Kadida estava noiva de Tupac Shakur quando ele foi assassinado, em 1996) explica que, como "gangstas", Shakur, seu adversário Biggy Smalls e seus respectivos grupos eram "piadas". Jones sugere que eles estavam para os verdadeiros "Gs" [gânsteres] como Sylvester Stallone para Rocky Marciano. Os gangsta-rappers são, para usar uma de suas palavras preferidas (outra "phármakon"), "atores" no sentido de "atores de palco", e não os "mais reais", como se gabam de ser e os "tolos" acreditam que sejam.

Mas os tolos e seu dinheiro logo se separam. "Nós somos milionários. Nossos discos são platina quádrupla", grasnou Shakur. Dinheiro branco, na maior parte.

Há duas abordagens (ou "binarismos") para entender o rap: diacrônica e sincrônica. A primeira examina suas origens históricas, sociais e musicológicas. Ela se encaixa facilmente na tese exposta por LeRoi Jones (o poeta beat pioneiro, depois rebatizado de Amiri Baraka) em seu livro "Blues People - Negro Music in White America" [Gente do Blues - Música Negra na América Branca], de 1963. Jones afirmou que a escravidão deixou os afro-americanos oprimidos e analfabetos com apenas três instrumentos: a voz, um dialeto inglês alienígena (em que se podia habilmente inserir africanismos) e o tambor.

Some-se a esses o banjo de caixa de charuto e o resultado foi o blues. A guerra civil americana -e o enorme estoque de instrumentos de sopro militares abandonados em Nova Orleans depois da guerra- resultou na "jazz band". Dezenas de milhares de negros morreram em Gettysburg para que Louis Armstrong nos desse "Potato Head Blues".

Eithne Quinn, uma professora de estudos ingleses e americanos na Universidade de Manchester, observa em "Nuthin" But a ‘G" Thang" [Nada além da Bandidagem, Columbia University Press, 251 págs. US$ 24, R$ 50] que as condições no início da década de 1980 na região South Central de Los Angeles eram notavelmente semelhantes às que, segundo LeRoi Jones, fertilizaram a cultura do blues no sul do país cem anos antes.

Um garoto do bairro de Compton (onde o analfabetismo funcional entre adolescentes chega a 50%) podia, com equipamentos baratos (ou roubados) de "sampling", seqüenciamento e bateria, dominar a tecnologia e produzir uma faixa vendável. Mas essa análise historicizada das "raízes do rap", como indica Quinn, pode ser conveniente demais. Como o blues, e o jazz de Nova Orleans antes dele, a música rap passa a ser promovida (geralmente por gente que não faz a música) a "voz do povo", exageradamente investida de significado político e social.

O outro lado do hambúrguer
De modo mais nocivo, conceber o rap como "a autêntica música de uma minoria oprimida" fecha a música em si mesma, como um hino nacional. "Eles sempre querem que eu toque como os velhos de Nova Orleans", queixava-se Louis Armstrong enquanto, graças a Deus, seguia seu próprio caminho.
Quinn combina astutamente seus binarismos. Historicamente, ela vê o gangsta rap como gestado no cadinho de South Central nos anos 1980.

A indústria fabril havia se mudado do sul da Califórnia, levando consigo os empregos -um fato social vividamente narrado nos romances sobre Easy Rawlins, de Walter Mosley.
O trabalho que restou era degradante: "virar hambúrgueres", como se dizia com desprezo.
Como afirmou Snoop Dogg, com sua habitual mordacidade: "Era o que eles chamam de 'cargo em nível inicial", sem jamais lhe dizer que só existe um nível".

A economia de Ronald Reagan enriqueceu as classes médias e altas. O dinheiro não se distribuiu naturalmente, como prometido. O chefe de polícia Daryl ("Gravata") Gates, da polícia de Los Angeles [responsável pelo controle dos protestos que se seguiram à absolvição dos policiais que espancaram Rodney King], foi selvagemente repressivo. Assim como as sentenças dos tribunais. Era uma "cultura de penitenciária". Para os jovens negros, a vida lá fora só oferecia desemprego, falta de moradia, a onipresente câmera de segurança (daí os abrigos com capuz, totalmente desnecessários na aprazível Costa Oeste) e, o mais prejudicial, a cocaína em forma de crack.

O principal interesse de Quinn está, sincronicamente, na "estrutura de poder discursivo" do rap -os significados sociais e políticos inseridos na forma artística. Seu próprio discurso é carregado de teorias -muitas vezes desconcertantes.

A seguinte sentença é típica: "O termo central no estudo de Omi e Winant, apropriado de Gramsci, é rearticulação (também um favorito de Hall)". Mas, permeando a discussão de Quinn, está o paradoxo das "flores do mal" de Baudelaire. Como é que uma forma artística tão rica poderia surgir de um solo tão pobre e de pessoas tão sem esperança?

"O nome da minha garota começa com 'b"" [de "bitch", cadela, prostituta] é um dos slogans definitivos do rap.
Há pouco mistério nessa estrutura de poder discursivo. É notoriamente uma forma de música misógina. O rap é predominantemente macho cafetão, como a Motown era fêmea diva.

"Deconstructing Tyrone" [Desconstruindo Tyrone, de Natalie Hopkinson e Natalie Y. Moore, Cleis Press, 247 págs., US$ 14,95, R$ 31] é o trabalho de duas jovens e espevitadas jornalistas afro-americanas (Hopkinson no "Washington Post", Moore em Chicago).

Derrida faz uma aparição na primeira página, juntamente com seu "macho negro mítico", Tyrone -um nome que se tornou, nos últimos anos, tão emblemático etnicamente quanto Jock, Paddy, Taffy ou Fritz [formas ofensivas de tratar, respectivamente, escoceses, irlandeses, galeses e alemães].
Como seu título indica, as duas Natalies são ligadas à última moda em teoria -desconstrução.
Seu discurso é anedotal, até mexeriqueiro. Seu tom é incansavelmente cáustico.

Morte do hip-hop
O capítulo mais esclarecedor de "Desconstruindo Tyrone" é o último -uma "sessão de rap" (segundo significado) com um grupo de garotas adolescentes. Suas opiniões sobre o que os estudos de mídia chamam de "olhar masculino" são revigorantemente insubmissas: "Eles dizem 'coisa no porta-mala". Eles dizem que tenho bunda grande. Depois dizem que é como grandes balões. Eu fico chateada".

Escrevendo sobre o assunto no "Washington Post", Adam Bradley chamou a atenção para o título do último disco da lenda do rap Nas, "Hip Hop is Dead".

Suspeita-se de que ele esteja morto da mesma maneira que o jazz tradicional e o swing morreram nos anos 1940, quando surgiu o bop, ou como o bop ficou nos 60, quando surgiram o freeform, o funk e o fusion. Isto é, não morto, mas modificado. Que o rap possa por muito tempo se modificar, assustar, fascinar e causar perplexidade.

ONDE ENCOMENDAR - Livros em inglês podem ser encomendados no site www.amazon.com
JOHN SUTHERLAND leciona literatura inglesa moderna no University College (Londres). Este texto foi publicado no " Financial Times". Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Estudo do Ipea aponta mudanças na transição da juventude para a vida adulta

A transição da juventude para a fase adulta sofreu alterações nos últimos anos. Saiba por quê e como lendo o livro Transição para a vida adulta ou vida adulta em transição?, organizado pela diretora de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Ana Amélia Camarano

 Brasília (26.12.2006) - A jovem Márcia Barbosa, de 19 anos, comemora hoje (26) o segundo aniversário de sua filha Yasmin. Quando o bebê nasceu, ela fazia o segundo grau. Após o nascimento da criança, terminou os estudos, arrumou o primeiro emprego e, no próximo ano, vai se casar com o pai de Yasmin.

"Muita gente fala que quando você é nova e tem um filho, sua vida acabou. É mentira.  Você não acabou com a sua vida, você só atrasou um pouco o curso dela. A gente normalmente estuda, trabalha, casa e tem filhos. Eu estudei, tive filhos, vou casar e já estou trabalhando. Só inverti a ordem das coisas”, relata a jovem.

A seqüência da vida de Márcia mostra que a transição da juventude para a fase adulta sofreu alterações nos últimos anos. Se antes esse processo era marcado pela seqüência de saída da escola, entrada no mercado de trabalho, casamento com a saída da casa de origem e nascimento dos filhos, atualmente a ordem dos fatores é, em muitos casos, invertida.

Essa é uma das conclusões do livro Transição para a vida adulta ou vida adulta em transição, organizado pela diretora de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Ana Amélia Camarano. A publicação foi lançada no dia 15 de dezembro.

De acordo com Ana Amélia, duas questões colocaram a juventude no debate sobre políticas pública: a mortalidade precoce (por violência e homicídio) e a gravidez precoce, determinada quando nascem os filhos sem que mãe ou o pai tenham terminado os estudos e entrado no mercado de trabalho. A partir dessas constatações, o Ipea encomendou o estudo, a fim de analisar a juventude atual a partir dos processos de transição para a vida adulta.

Uma das primeiras conclusões do estudo é a de que as experiências de vida e as expectativas das gerações atuais são mais complexas e menos previsíveis. O aumento da escolaridade, as dificuldades para arranjar o primeiro emprego e a mudança nos padrões de relacionamento estão entre as diferenças destacadas no livro.

“No Brasil de hoje, todo mundo enfrenta sérias dificuldades no mercado de trabalho, mas essas dificuldades incidem mais sobre os jovens. E isso tem afetado outros caminhos. Se o jovem não tem uma boa inserção no mercado de trabalho, isso provavelmente vai dificultar a saída dele da casa dos pais, o estabelecimento de uma relação afetiva”, explica Ana Amélia Camarano. 

O livro completo está disponível para ser baixado no site do IPEA

Novo boletim Radicais Livres

Neste número, um dos destaques é a seção Conversa Afiada, que traz uma sugestão de pauta sobre a questão de Gênero e a Juventude. Uma entrevista com o deputado Reginaldo Lopes, relator do Projeto de Lei que cria o Plano Nacional de Juventude. Na seção Antenados deste mês, jovens convidados pela ANDI comentam o Big Brother Brasil da Rede Globo. E no Políticas Públicas em Foco, o destaque fica por conta da cobertura da mídia sobre o tema: Estágio e Primeiro Emprego

Já está disponível mais uma edição do boletim Radicais Livres. Neste número, um dos destaques é a seção Conversa Afiada, que traz uma sugestão de pauta sobre a questão de Gênero e a Juventude. Apesar de constatarmos que a mulher avançou muito na sociedade brasileira nas últimas décadas, ainda é fato que há espaços por conquistar. Esta é uma luta difícil, já que estamos falando de uma mudança cultural. Mesmo entre os jovens, é possível identificar que os preconceitos ainda existem e se reproduzem.

Você pode ler também uma entrevista com o deputado Reginaldo Lopes, relator do Projeto de Lei que cria o Plano Nacional de Juventude. Na seção Antenados deste mês, jovens convidados pela ANDI comentam o Big Brother Brasil da Rede Globo. E no Políticas Públicas em Foco, o destaque fica por conta da cobertura da mídia sobre o tema: Estágio e Primeiro Emprego.
 
Acesse o Radicais nas versões PDF ou HTML
 
PDF - http://www.andi.org.br/_pdfs/Radicais_janeiro_2007.pdf
 
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