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Jornal destaca mobilização dos jovens diante do período eleitoral

Durante os processos eleitorais é comum, por parte de diversos setores da sociedade, o questionamento da atuação e do papel da juventude na escolha dos políticos. Surge a dúvida de onde estariam os estudantes no momento em que deveriam ocupar as ruas, como fizeram em vários momentos decisivos. As pesquisas têm revelado que os jovens se sentem desconfortáveis com a política tradicional, já que a lógica de ação dos políticos não é fácil de ser compreendida

Em matéria para o jornal O Estado de Minas, o presidente da UNE, Gustavo Petta e o presidente da UBES, Thiago Franco, afirmaram que os jovens hoje se distribuem e atuam em diversos movimentos sociais tanto culturais, como políticos, demonstrando dessa forma que eles não estão alheios aos processos que estão se desenrolando na sociedade.

Thiago esclarece que a indignação tem motivado os jovens e que estão buscando saídas. "Hoje, a mobilização se dá em torno de várias bandeiras. O próprio movimento estudantil diversificou a atuação, se organizando para exigir melhorias na ciência, cultura e esportes, além da tradicional luta pelas demandas educacionais" , diz.

Já Petta argumenta que apesar das organizações se esforçarem para a defesa das causas coletivas, a sociedade estimula o consumismo desenfreado: "A pressão por emprego, formação e sucesso financeiro faz com que cada um se preocupe consigo e, de forma geral, não tenha tempo ou interesse de se envolver em questões de maior abrangência". Nesse mesmo sentido, ele também declara que as mobilizações dos anos 50 e 60 são diferentes dos atuais que são mais pontuais.

Confira abaixo a íntegra da matéria publicada do suplemento jovem D , do jornal O Estado de Minas.

Mobilização juvenil

Parece que desde o impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992 , a juventude perdeu a motivação política. Parece. A verdade é que os jovens estão mais interessados em militar em causas próprias do que em levantar bandeiras pelo bem geral da nação. É através de coletivos, ONGs, entre outras formas de associação, que os estudantes se mobilizam para exercer a cidadania em defesa de causas diversas. "De lá para cá, a própria sociedade adulta, que cobra atitude dos jovens, não participou de movimentos tão amplos, de caráter nacional", observa o coordenador do grupo de pesquisa do Observatório Jovem da Universidade Federal Fluminense (UFF), Paulo Carrano, responsável pela pesquisa Juventude brasileira e democracia, que ouviu jovens de oito regiões metropolitanas do país. O levantamento revelou que 28% dos entrevistados participam de algum grupo, de caráter juvenil ou não.

De acordo com Carrano, essa mobilização segmentada não indica que os jovens estão alheios ao processo político representativo. "Eles reconhecem na política um espaço importante de decisão. Por outro lado, encontramos cada vez menos jovens dispostos a furar o bloqueio das instituições tradicionais, principalmente os partidos." Carrano afirma ainda que as pesquisas têm revelado que os jovens se sentem desconfortáveis com a política tradicional, já que a lógica de ação dos políticos não é fácil de ser compreendida. "Eles também desconfiam muito das pessoas que dedicam a vida profissional à atividade política." Outra questão, na avaliação do coordenador, é que os partidos não estariam criando espaços propícios à participação de um maior número de jovens.

Há quase 10 anos atuando como liderança jovem, desde grêmios a DCEs, o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gustavo Petta, de 25 anos, reforça as afirmações de Carrano. Segundo ele, apesar da idéia generalizada de que a juventude anda alienada do processo político, há indicativos que provam o contrário. "É crescente a participação dos jovens em organizações sociais, que têm caráter político. Além dos movimentos estudantis, que são os mais tradicionais, a juventude tem tido voz ativa através de ONGs e movimentos, como o hip hop, que revela a participação efetiva da periferia, que conquista cada vez mais espaço de interlocução com o poder público."

Ele menciona, ainda, dados recentes da Justiça Eleitoral que indicam um crescimento de 39,3% no número de jovens de 16 e 17 anos que tiraram título de eleitor, apesar de não serem obrigados a votar. "Os dados surpreenderam muitos analistas, que pensavam que os jovens se afastariam do processo por causa da atual crise política, dos escândalos e da corrupção." Segundo essas estatísticas, o percentual de eleitores nessa faixa etária é de 2,45%, o que corresponde a cerca de 3 milhões de pessoas.

Indignação

A participação juvenil tende a ser cada vez mais consciente, na avaliação do presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Thiago Franco, de 21, que assumiu o cargo ano passado, durante a eleição indireta realizada pela entidade durante congresso. "A indignação e o descontentamento têm levado os jovens a buscarem saídas ativamente, sem esperar apenas a ação do poder público. Hoje, a mobilização se dá em torno de várias bandeiras. O próprio movimento estudantil diversificou a atuação, se organizando para exigir melhorias na ciência, cultura e esportes, além da tradicional luta pelas demandas educacionais."

Novos atores sociais

Por que razão os jovens não manifestam indignação nas ruas, com novas faixas e cartazes? Essa é uma pergunta que intriga muitos brasileiros. De acordo com Paulo Carrano, do Observatório Jovem da UFF, realmente há uma latência dos movimentos, e não só dos que envolvem jovens. "De certa forma, é um traço positivo, que reflete o processo construtivo de consolidação da democracia depois de um período histórico de luta árdua contra a ditadura."

O presidente da UNE, Gustavo Petta, observa que as organizações de juventude se esforçam para que as pessoas se envolvam em causas coletivas, enquanto a sociedade estimula o individualismo e o consumismo desenfreado. "A pressão por emprego, formação e sucesso financeiro faz com que cada um se preocupe consigo e, de forma geral, não tenha tempo ou interesse de se envolver em questões de maior abrangência."

Sob as rédeas do neoliberalismo, a juventude parece reproduzir a lógica individualista em movimentos coletivos. Dessa forma, os jovens não deixam de se organizar, mas o têm feito, muitas vezes, em defesa dos interesses de um grupo específico. "As características contemporâneas de mobilização são adaptações dos movimentos dos anos 50 e 60, quando surgiram novos atores sociais, entre eles os jovens e as mulheres. Os objetivos voltados para um futuro distante vão dando lugar a ações mais pontuais, desde problemas no bairro até questões ambientais específicas ", explica Carrano.

Apesar da falta de debates mais amplos, o jovem não está despolitizado, na opinião do coordenador geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFMG, Leonardo Rodrigues Carvalho Silva, de 19 anos. "O que acontece hoje é uma dispersão, que aponta grupos organizados em diversas frentes – cultural, esportiva, ambiental, social, entre outras – e tudo isso pressupõe transformação, esforço, envolvimento, que é participação política."

* Matéria originalmente publicada no jornal Estado de Minas (26.09.2006)

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