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Maré de cultura

Primeira favela a ser considerada região administrativa do Rio de Janeiro, a Maré reúne hoje 138 mil moradores, em 15 comunidades insufladas pela violência de facções do tráfico. Em meio a esse cenário, uma iniciativa de cultura que teve início timidamente em 1997 toma corpo e passa a atrair a atenção de outras comunidades interessadas em implementar a cultura como ferramenta de formação de cidadania e de ampliação de horizontes

Caso de iniciativa cultural, a Casa de Cultura da Maré é um desdobramento do Ceasm – Centro de Estudos e Ações Comunitárias da Maré, que nasceu em 1997, a partir da necessidade de um grupo de jovens moradores de estudar para o vestibular. Do grupo de estudo para a realização de oficinas culturais foi um pulo. “Existia um galpão abandonado na entrada da comunidade que havia funcionado como fábrica de peças para barcos e esse era o nosso sonho de consumo para instalar a Casa de Cultura. Um dia, num seminário da Firjan, uma empresária soube de nossas intenções e cedeu o espaço em comodato”, relembra o presidente do Ceasm, Antônio Carlos.

A Casa de Cultura abriu as portas em 2003 com uma escola de dança, oficinas de teatro e música. Em uma área carente de equipamentos e ações culturais, naturalmente a escola de dança gratuita tomou um vulto muito importante para a comunidade. A iniciativa funcionou muito bem até 2006, quando por falta de patrocínio a escola precisou fechar as portas. “A Casa de Cultura vinha cumprindo a função de capacitar e formar público e com a suspensão das atividades cortamos a continuidade de um trabalho precioso. Algumas meninas que eram do corpo de dança voltaram para o tráfico. O desafio é criar redes virtuosas que aglutinem esse jovens. No último ano de atuação da escola de dança, atendemos uma média de 500 pessoas”, diz Antônio.

A Casa de Cultura da Maré, com o patrocínio do Grupo Votorantim, a reabre suas oficinas de dança, música e teatro. “O projeto cultural surgiu como um instrumento para atingir a formação integral do indivíduo e criar acesso a linguagens variadas para uma visão de mundo mais ampla. A idéia é dar uma perspectiva de futuro para pessoas que pensam apenas em sobreviver”, afirma a diretora do Ceasm, Cláudia Rose Ribeiro da Silva. Com o incentivo, a Casa de Cultura pretende atender, em 2008, cerca de 350 pessoas.

Memória

Um dos principais cartões de visita da Casa de Cultura, o Museu da Maré promove exposições que chegam a reunir mais de mil visitantes. Dividida em fases, a exposição permanente do Museu conta a história da formação da comunidade por meio de objetos, vídeos, fotos e falas dos moradores. “Em 1997, criamos a Rede Memória da Maré e, em 2004, fizemos nossa primeira exposição no Museu da República, intitulada Força da Maré que deu origem ao Museu da Maré”, conta Antônio. O resgate e reconhecimento da memória da Maré trouxe um sentimento de pertencimento para a comunidade que passou a conhecer e valorizar sua própria história e hoje ajuda outras comunidades no caminho para o fortalecimento de sua identidade cultural.

Publicado originalmente em 14/02/2008
Pelo site www.democratizacaocultural.com.br