A tese "Ser alguém na vida. Condição juvenil e projetos de vida de jovens moradores de um município rural da microrregião de Governador Valadares-MG" foi apresentada por Maria Zenaide Alves ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Minas.
Resumo:Esta pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de responder a duas perguntas centrais: como se caracteriza a condição juvenil em um município rural marcado pelo transnacionalismo e pela cultura da migração? De que modo os jovens nesse contexto organizam e elaboram seus projetos de vida? A resposta a essas perguntas foi sendo costurada ao longo da escrita e pode ser resumida na seguinte proposição: A condição juvenil nesse contexto é marcada por aspectos sociais, econômicos e culturais híbridos, ora apresentando fortes marcas da modernidade, ora com fortes nuances das sociedades tradicionais, ora marcada por aspectos culturais globais, ora locais. Essa hibridez no contexto se reflete nos projetos de vida dos jovens que se vêem, por vezes, divididos entre os valores modernos e tradicionais, entre o local e o global, entre o projeto individual e o familiar e entre as vantagens e desvantagens de sair ou permanecer longe dos grandes centros urbanos. Para desenvolver o estudo a metodologia utilizada foi a etnografia. Lancei mão de elementos empíricos registrados no campo de investigação, durante oito meses de vivência no município de São Geraldo da Piedade, na microrregião de Governador Valadares, para realização da pesquisa etnográfica. Os instrumentos de coleta de dados foram observação direta e participante, questionários e entrevistas com jovens estudantes do Ensino Médio. Os dados foram analisados à luz de um referencial teórico multidisciplinar (da sociologia da juventude, da sociologia da imigração, da sociologia rural, da educação e da antropologia) com ênfase nas questões que afetam a juventude na construção dos seus projetos de vida. A investigação apontou que, embora sejam múltiplos os modos de ser jovem nesse contexto, a condição juvenil é fortemente marcada pela cultura da migração que se desenvolveu nessa região mineira nos últimos anos e que tem como principal característica o transnacionalismo. Tais marcas, no entanto, não os afastam da cultura local. Muitos desses jovens pertencem a famílias transnacionais que protagonizam movimentos constantes de pessoas, assim como trocas de bens, idéias, valores e remessas entre essa região mineira e países como os Estados Unidos, Portugal e Inglaterra. Por outro lado, se essa cultura da migração marca os modos de ser jovem, a influência nos projetos de vida aparecem com menos intensidade, em muitos casos como um plano B. A diversidade nos modos de ser jovem também se reflete nas diversas formas de organização das condutas futuras evidenciando, por vezes, tensões entre projetos individuais e familiares e entre as dimensões objetivas e subjetivas que marcam esse processo de elaboração de projetos. A investigação evidenciou que os jovens nesse contexto organizam seus projetos de vida orientados por modelos distintos, tendo em comum a idéia de que, embora alguns ainda não tenham clareza sobre que rumo seguir na vida, manifestam forte preocupação com o futuro, verbalizada na ideia de que sabem que querem “ser alguém na vida.”.