Acervo
Vídeos
Galeria
Projetos


Religião é opinião?

Como os jovens têm lidado com a religiosidade? Como, num mundo cada vez mais individualista, os jovens podem se integrar num grupo religioso? Entre esses questionamentos foi traçada a reportagem do mês de maio no Observatório Jovem, que traz como tema do mês O jovem e a Religião

"Religião não se discute"  mas, parece que a juventude tem ignorado certos ditados. Segundo pesquisa feita sobre o tema juventude e religião, publicada no livro Retratos da Juventude Brasileira (Fundação Perseu Abramo – 2005), o tema encontra-se em terceiro lugar no ranking de assuntos que os jovens mais gostariam de discutir com seus pais ou responsáveis. Acima de assuntos de grande importância e visibilidade, como saúde e relacionamentos amorosos. Todo esse interesse por religiosidade tem entre suas causas o surgimento de novas religiões por todo o país.

Foto - Marcos de VasconcellosMesmo com o nascimento de religiões voltadas unicamente para a juventude, a distribuição dos jovens entre as religiões segue o resto da população. A enorme maioria é composta de jovens católicos, seguidos por evangélicos e protestantes, que, juntos, representam menos de um quarto da juventude. Os espíritas (kardecistas, umbandistas e candomblecistas) somam 3% do total de jovens. As outras religiões, ainda menos conhecidas, reúnem 2% da juventude. Enquanto os  ateus e agnósticos dividem apenas 1% do público jovem, os que acreditam em Deus sem possuir religião já somam 10%, o que é um dado impressionante.

Esses jovens que se dizem sem religião estão divididos entre os que realmente não possuem uma religião e os que são praticantes de mais de uma religião ao mesmo tempo. Os motivos que levam o jovem à igreja são muito diferentes dos que levaram os jovens das gerações anteriores a freqüentar uma religião. Com uma cultura cada vez mais individualista e multifacetada, as religiões correm risco de se tornarem objetos para satisfação unicamente pessoal. As pessoas podem migrar de uma a outra sem sentirem-se contraditórios às suas crenças. Cada vez menos os jovens entram, ou saem de uma religião por causa de suas famílias. Não há mais a tradição de uma religião atravessar várias gerações de uma família.

“A pluralidade da juventude não é contemplada por uma só religião e isso é um fato que precisa ser mostrado”, como disse Elen Linth, 22 anos, coordenadora nacional da Pastoral da Juventude. Para Elen, é natural a saída de jovens da igreja, assim como a procura dos mesmos por novas religiões. As buscas são muitas. Segundo o filósofo e especialista em fenomenologia da religião Edebrande Cabvalieri “as incertezas da sociedade atual podem levar os jovens a procurar religiões mais rígidas”. Thiago Chaves é católico praticante e participante do grupo de jovens “Encontro de Jovens com Cristo” na Capela São Gonçalo do Amarante, em Jacarepaguá - RJ. Lá ele participa de, no mínimo, uma reunião por semana. É comum marcarem ainda mais reuniões no decorrer da semana quando julgam um assunto ainda inacabado.

Pode-se ver o reflexo da pluralidade dos jovens dessa geração ao observar suas buscas espirituais, enquanto uns procuram uma maior rigidez, outros encontram-se plenamente em espaços mais flexíveis. Bernardo Ornellas, 19 anos é membro do grupo da mocidade espírita, em Petrópolis. Para ele, muitos jovens procuram o espiritismo porque no espiritismo tudo parte muito da sua consciência, não há regras, só conselhos. Assim  como a maioria dos jovens praticantes de uma única religião, Bernardo acha que falta de compromisso que uma parte da juventude tem com suas religiões pode ser um grande problema.

Estudante de música pela UFRJ e seguidor da religião do Santo Daime, Igor Telteroit é membro do grupo jovem de estudo, onde os jovens se dividem para estudar fundamentalmente música e a religião. Para Igor, a inconseqüência e a inconstância acabam por banalizar a religião. Muitos jovens chegam à sua igreja apenas para tomar o chá e utilizá-lo como um psicotrópico qualquer. Isso, segundo ele, não é uma experimentação da religião, mas sim um uso indevido da mesma, o que pode trazer sérios problemas ao jovem.

A proximidade entre as gerações pós-globalização e as religiões orientais, por muito tempo proibidas em nossa sociedade pela colonização católica, é muito grande. As lojas de produtos esotéricos oferecem uma orientalização das crenças ocidentais, como foi explicitado por Regina Novaes, doutora em Ciências Humanas (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo, em seu texto “Os jovens sem Religião” *. Com isso, a procura de uma espirtualidade e de alguma certeza, numa época em que tudo parece tão volátil, torna-se cada vez mais pessoal.

* Leia o texto na íntegra em: www.scielo.br/pdf/ea/v18n52/a20v1852.pdf

Saiba mais sobre o assunto em:

Nova paisagem religiosa (artigo)

Os desafios da religião na modernidade (matéria sobre livro "família e religião)

Comunidades de vida no Espírito Santo: juventude e religião (estudo sobre jovens da Renovação Carismática Católica - pdf)

Edição especial da revista do Instituto Humanitas Unisinos  IHU On-Line que tem como tema As mudanças no campo religioso (pdf)

MACHADO, Maria das Dores Campos. 1996. Carismáticos e Pentecostais: Adesão Religiosa na Esfera Familiar. Campinas: Ed. Autores Associados/ANPOCS. 218 pp. (resenha)

Iser Assessoria (Religião, Cidadania e Democracia)

Instituto de Estudos de Religião (ISER) - DIVERSIDADE CULTURAL E RELIGIOSIDADE

Casa da Juventude - Juventude, religião e projeto de vida (ensaio - word)