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Publicação faz balanço da produção de conhecimentos sobre a juventude no Brasil

por Paulo Carrano e Jaqueline Deister, do Observatório Jovem/UFF

 

CAPA-EstadoArte-Vol-1.JPGA escola, o trabalho, a sexualidade, a exclusão social e a mídia são alguns dos temas abordados no livro Estado da Arte sobre juventude (1999-2006).

 

 A coletânea, organizada em dois volumes, é resultado da pesquisa nacional desenvolvida em rede e coordenada pela pesquisadora Marilia Sposito (USP) sobre a produção de conhecimentos discente de Mestrado e Doutorado no tema Juventude.

 

A pesquisa fez um levantamento de teses do Portal Capes no período de 1999 até 2006, nas áreas da Educação, Ciências Sociais (Antropologia, Ciência Política e Sociologia) e Serviço Social. Além disso, produziu artigos sobre diferentes eixos temáticos. A publicação dos dois volumes deste livro foi possível com o apoio do Projeto Diálogos com o Ensino Médio, uma parceria iniciada no ano de 2009 entre o Observatório da Juventude da UFMG,o Observatório Jovem da UFFe a Secretaria de Educação Básica do MEC.

 

Olivro que será lançado neste mês de dezembro, além da versão impressa, terá uma versão on line no portal EMdiálogo. Ao todo a pesquisa analisou 1427 trabalhos entre teses e dissertações que foram produzidas de 1999 até 2006. A publicação atualiza o primeiro balanço que cobriu o período de 1980 a 1998 e analisou trabalhos da área de Educação. Essa primeira iniciativa foi publicada pelo INEP, em 2000, no livro Juventude e Escolarização. Acesse aqui o livro do primeiro estado da arte.

 

A coordenadora da pesquisa, Dra Marília Sposito, da Faculdade de Educação da USP, explica que a necessidade de um segundo levantamento surgiu devido ao expressivo número de estudos sobre o tema juventude na virada do Século XX. De acordo com Marília, a nova pesquisa abrange outras duas áreas de conhecimento relacionadas com as ciências sociais, além da Educação:

 

“A nossa equipe reconhece que outras áreas não cobertas pelo atual Estado da Arte também são importantes, por exemplo: Saúde coletiva, Comunicações e Psicologia. No entanto, diante dos recursos humanos disponíveis fomos obrigados a fazer recortes.”

 

Marília Sposito ressalta que a decisão de analisar os trabalhos produzidos pela Pós, partiu do princípio de que parte da produção de conhecimento no país se desenvolve durante a formação de novos pesquisadores. 

 

Além da equipe da USP, o Estado da Arte contou com pesquisadores, professores, alunos da Pós-Graduação e bolsistas de iniciação científica do Observatório da Juventude da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Observatório Jovem da Universidade Federal Fluminense (UFF).

 

O levantamento no Portal da Capes

 

Num primeiro momento foram levantados seis mil trabalhos, que passaram por uma triagem ficando ao todo 1427 teses e dissertações colhidas a partir de informações do Banco de Teses do portal da CAPES. O site foi percorrido em duas etapas: a primeira cobriu o período agosto-dezembro de 2006 e levantou a produção de 1999 a 2004. A segunda de agosto a dezembro de 2007 levantou os trabalhos referentes aos anos de 2005 e 2006.

 

“As ferramentas de busca do Portal são limitadas, não permitem pesquisar um único programa de pós-graduação, uma área do conhecimento. É impossível fazer buscas a partir de um único campo palavra-chave, título ou resumo”, destaca Marília.

 

A partir dos resumos publicados no banco da Capes os pesquisadores buscaram os trabalhos completos junto aos autores e aos programas de pós-graduação. Segundo Sposito, no processo de captação dos trabalhos o mais difícil foi recuperar os exemplares que não estavam disponíveis na versão online. Para ela, a recuperação de boa parte das teses e dissertações só foi possível devido ao intercâmbio entre as bibliotecas universitárias e pelo sistema COMUT (Programa de Comutação Bibliográfica do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia). 

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Os temas mais abordados

A pesquisa do Estado da Arte separou em 27 temas os trabalhos analisados nas áreas de Educação, Serviço Social e Ciências Sociais. Assim como o balanço da produção acadêmica no primeiro Estado da Arte, os temas da área de Educação tiveram maior número. Os estudos sobre Adolescentes em processo de exclusão, Juventude e escola e Jovens universitários foram os mais desenvolvidos por pesquisadores.

 Para a socióloga Lívia de Tommasi, que também participou da pesquisa analisando os trabalhos sobre Adolescentes em Processo de Exclusão, categorizar os trabalhos nos diferentes temas não foi tarefa fácil:

 

Muitos trabalhos abordam mais de um tema e podiam ser classificados em diferentes categorias,” diz.

 

O tema Adolescentes em Processo de Exclusão Social agregou 12% dos trabalhos analisados. Esta temática é delimitada pela faixa etária dos 18 anos para a adolescência prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.  

 

Os autores das teses e dissertações recorrentemente associam o comportamento violento e a exclusão dos jovens a processos sociais, tais como: pobreza, desestruturação familiar, desemprego e evasão escolar. Lívia de Tommasi alerta que é preciso ter cuidado ao se estabelecer uma relação de causa-efeito quando se fala em trajetórias de jovens:

 

“Os pesquisadores acham que encontrando as causas será encontrada a solução, mas a realidade é mais complexa. O papel da academia é entender o que está acontecendo e não encontrar soluções para os problemas sociais”,ressalta.

 

O segmento Juventude e Escola, com 17,74 %, lidera a lista dos trabalhos classificados pela pesquisa como voltados para a problemática da escolarização básica dos jovens. Em comparação ao primeiro Estado da arte, houve um acréscimo de trabalhos nesta temática, sendo que num universo de 387 trabalhos 12,91% tratavam da relação Juventude e Escola.

 

No entanto, os pesquisadores do Estado da arte não se entusiasmam com o simples aumento do número de trabalhos em determinado tema. Segundo Juarez Dayrell, que analisou o tema Juventude e Escola nas duas pesquisas, a popularização da Pós-Graduação nesses últimos dez anos tem contribuído para uma superficialidade nas análises:

 

 “Falta diálogo entre os trabalhos. Os pesquisadores não buscam saber o que já foi publicado sobre os temas que escolhem para estudar e acabam repetindo pesquisas já feitas,” ressalta.

 

A coordenadora da pesquisa, Marilia Sposito, preocupa-se com a qualidade dos trabalhos no contexto da expansão de cursos de Pós-Graduação, notadamente os mestrados da área de Educação:  

 

Nem sempre os programas funcionam a partir de grupos de pesquisa consolidados. Se torna urgente uma discussão sobre o que esperar do Mestrado na atualidade”, pondera.
 

De acordo com Marília e Dayrell, os temas que foram menos explorados nas teses e dissertações levantadas foram as questões dos jovens da classe média, dos indígenas e rurais.

 

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A expansão do Estado da Arte para as áreas de Serviço Social e Ciências Sociais trouxe questões não abordadas na Educação. O tema participação e cultura política mostrou que há pouco interesse por parte dos pesquisadores de Educação e Serviço Social em desenvolver trabalhos relacionados à juventude e à política.

 

Ana Karina Brenner, doutoranda em Educação da USP, co-autora de artigo na coletânea, comenta esta lacuna de estudos sobre o jovem e a política:

 

“Os estudos desenvolvidos, não só no tema Participação e cultura política mas no Estado da Arte como um todo, muitas vezes tratam os jovens como um grupo de risco que deve solucionar os seus próprios problemas,” relata Ana.

 

Mas Ana Karina ressalta que houve uma inovação em relação aos espaços de investigação da militância de jovens. Segundo Ana Karina, representa uma novidade a emergência de pesquisas sobre jovens militantes em grupos ambientais ou na esfera religiosa, por exemplo.

 

A universidade e o jovem

 

O sonho de entrar na universidade, de preferência pública, se formar e ter um emprego está no topo da lista dos objetivos de jovens brasileiros que conseguem concluir o Ensino Médio. Porém, segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) de 2007, apenas 13% dos jovens ingressam no Ensino Superior sendo que a maioria em instituições privadas.

 

 

O artigo “Jovens Universitários: acesso, formação, experiências e inserção profissional”, faz um balanço de como os trabalhos acadêmicos têm abordado o tema dos jovens universitários e aponta novas áreas de investigação para teses e dissertações sobre o tema. O texto foi produzido pelo professor Paulo Carrano, da Faculdade de Educação da UFF.

 

O tema jovens universitários contemplou 149 trabalhos. De acordo com Carrano, as pesquisas voltadas para o exame vestibular e o fenômeno dos cursinhos pré-vestibulares para jovens de baixa renda trouxe novos elementos para o debate:

“Considerando os trabalhos que integram este Estado da Arte, é possível afirmar que ainda não houve tempo para que a produção acadêmica refletisse sobre novidades como o Prouni, por exemplo, que se apresenta como uma nova fronteira de investigação,” diz Carrano.

O professor ressalta que a diversidade de públicos jovens que hoje integram a universidade brasileira é pouco explorada pelos alunos dos cursos de mestrados e doutorados em suas pesquisas:

 

“As instituições privadas, sem dúvida, receberam nos últimos anos grandes levas de jovens dos setores populares. No entanto, a mudança atingiu também as universidades públicas que já não podem ser consideradas apenas como instituições para jovens da elite,” conclui o professor.

 

A pesquisa do Estado da Arte surge como uma importante ferramenta para avaliar o conteúdo produzido na Pós-Graduação sobre a juventude brasileira. A expectativa dos pesquisadores é que a publicação da pesquisa contribua para a consolidação e estruturação do campo de estudo sobre a juventude no Brasil, não apenas no âmbito acadêmico mas também em outras esferas da vida social que requeiram conhecimentos sobre os jovens e a juventude. 

 

A aposta dos participantes da pesquisa e autores do livro é  que ele se torne uma ferramenta de diálogo na arena de estudos sobre os jovens e a juventude, pois, ele apresenta quadro de leituras, faz aproximações temáticas e pode contribuir para que novos e experientes pesquisadores mapeiem, priorizem e delimitem novos problemas e temas de estudo.

 

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Acesse os volumes do livro: Volume I - Volume II 

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