Acervo
Vídeos
Galeria
Projetos


Pesquisadora do Observatório Jovem defende dissertação sobre auto-estima de jovens negras

No dia  14 de julho, Patrícia Lânes defendeu sua dissertação, intitulada “Em busca da auto-estima: interseções entre gênero, raça e classe na trajetória do grupo Melanina”

A banca foi composta por Regina Novaes, orientadora da dissertação e professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia – IFCS/ UFRJ, Mirian Goldenberg do mesmo Programa, Paulo Carrano, professor do Programa de Pós-Graduação em Educação/ UFF e Ilana Strozenberg, professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação/ UFRJ.

O grupo Melanina foi criado no início de 2004 por oito mulheres negras, quase todas jovens, e moradoras do Rio de Janeiro. O grupo tinha como principal objetivo atuar entre “mulheres de comunidades carentes, trabalhando e valorizando sua auto-estima através da mídia e procurando reintegrá-las no mercado de trabalho”. Sua principal forma de atuação durante o primeiro ano foi através de um programa (o Ação Melanina) veiculado em rádios de diferentes lugares do Rio de Janeiro. O trabalho de campo foi feito entre o final de 2004 e o início de 2006.

A dissertação buscou apreender de que forma a categoria auto-estima se faz presente tanto nas representações e práticas das participantes do Melanina, quanto nas definições dos projetos e identidade do grupo.  Para isso, buscou-se entender as concepções do grupo sobre relações de gênero, raciais e de classe, já que os três eixos associam-se na dinâmica de produção de sua identidade. Tal movimento foi considerado, pelos membros da banca, original e bastante pertinente para o debate sobre juventude e seus diferentes recortes.

Tais relações são compreendidas pelas criadoras do grupo de modo dinâmico onde é permanente a negociação de atributos de sua identidade. Ou seja, por vezes fazem questão de afirmar diferenças, e em outros momentos há uma forte preocupação de não discriminar ninguém.

Patrícia procurou evidenciar no seu trabalho que as trajetórias individuais  não só refletem condições sociais determinadas, mas também modificam contextos e contribuem para ampliar o campo de possibilidades em que se movem grupos sociais específicos. 

A noção de auto-estima tem centralidade para o grupo e na dissertação. A auto-estima, enquanto categoria nativa opera para o Melanina, ao menos, duas articulações: (1) entre indivíduo e sociedade; e (2) entre raça, gênero e classe. Ao ter sido trazida para o grupo no momento de sua formação, tal noção foi responsável por sintetizar seus objetivos e expressar sua principal missão. Ou seja, interferir sobre a realidade de mulheres negras “de comunidade” através, principalmente, de programas de rádio; e também de agregar em torno de si as mulheres negras (em sua maioria, jovens) que formaram a iniciativa. Auto-estima agiu, portanto, como processadora da identidade do grupo em questão.

A auto-estima é cunhada pelo Melanina como símbolo da percepção de preconceitos geradores de marcas negativas ou estigmas que resultam em múltiplas desvantagens sociais, para se tornar indicativos de características que podem ser positivas ou emblema. Emblema este que incorpora à luta das mulheres negras e pobres dimensões ligadas à estética, à visibilidade social, à afirmação de múltiplas identidades, mas também a direitos historicamente negados, como o acesso à educação de qualidade, a bons postos no mercado de trabalho, ao lazer, à cultura e ao consumo.

O estudo conclui que a auto-estima opera, para este grupo e suas integrantes, como a articulação entre discriminações produzidas por relações raciais, de gênero e de classe profundamente desiguais, possibilitando ao grupo re-elaborar identidades subalternas e transformar símbolos de estigma em emblemas de afirmação pessoal e coletiva.

As ações do Melanina se desenvolvem no contexto das ONGs/projetos sociais, rádios comunitárias e cultura Hip-hop, notadamente marcada pelo domínio masculino. A análise de Patrícia evidencia que as jovens do grupo fazem da “palavra” território livre para explicitação dos conflitos de gênero e formas de resistência a esta dominação. Além disso, a categoria de auto-estima se revela como síntese de estratégia que passa pelo reconhecimento de diferentes padrões estéticos e pela conquista de oportunidades na esfera pública.

Clique aqui para ver a dissertação na íntegra.