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Passeata homenageia estudante assassinado pela Ditadura

Dia 28 março cerca de 2.500 estudantes foram às ruas para lembrar o assassinato do secundarista Edson Luís de Lima Souto durante a Ditadura Militar há quarenta anos. A passeata, que seguiu pelas principais ruas do Centro do Rio de Janeiro, também tinha como objetivo reivindicaçôes de investimentos em educação,  gratuidade nos transportes para os estudantes e  fim da violência contra jovens e trabalhadores

Do Calabouço à Bastilha
1968. O Brasil, assim como demais países da América Latina, enfrenta a ditadura militar. O povo não sabia, mas muitos “anos de chumbo” ainda viriam...
Jovens descontentes lutam pela retomada da liberdade.
O secundarista Edson Luís de Lima Souto, de 18 anos, torna-se símbolo desta batalha. O estudante é assassinado pela Polícia Militar durante um confronto no restaurante Calabouço, no centro do Rio de Janeiro. Sua morte retrata o início de um ano turbulento de constantes manifestações contra o regime militar, que alcança seu ápice com o decreto do Ato Institucional n° 5, o AI-5.

Uma manifestação é organizada contra a alta dos preços no restaurante Calabouço, criado e custeado pelo governo para atender a alunos da rede pública. Contudo, as manifestações haviam sido proibidas por lei em 1964, e esta é surpreendida pela chegada da polícia militar. Esta dispersa os estudantes, que se abrigam no Calabouço respondendo com paus e pedras. Os policiais revidam com tiros enquanto invadem e depredam o restaurante. Em meio ao pânico, Edson Luís é morto à queima roupa com um tiro no peito. Outros estudantes ficam feridos. Com medo de seu desaparecimento, os presentes levam o corpo em passeata até a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, a Alerj, onde é realizada a autópsia diante de policiais, estudantes e agentes do Departamento de Ordem Política e Social, o DOPS. 

O  luto vai à luta
No dia do enterro a Cinelândia acordou em protesto. Os cinemas anunciavam: “À queima roupa”, “A noite dos Generais” e “Coração de luto”. A idéia do luto coletivo era reforçada pela palavra de ordem gritada por milhares de pessoas: Mataram um estudante. Podia ser seu filho! E por cartazes que diziam: “Bala mata a fome?” E “Os velhos no poder, os jovens no caixão!”. O corpo de Edson foi enterrado ao som do Hino nacional, cantado pelos presentes.

A revolta gerada pelo assassinato de Edson Luís cresceu proporcionalmente a repressão. Em junho, estudantes de todo o Brasil se mobilizaram contra a introdução da taxa de matrícula nas universidades federais. A gradativa transformação do ensino público em ensino pago era uma das exigências dos acordos firmados entre o governo militar e a Agência de Desenvolvimento dos Estados Unidos, o acordo MEC-USAID. Protestos e passeatas espalharam-se por todo o país. Ainda em junho acontece a marcha dos cem mil. Os estudantes assumem papel de destaque no combate à opressão e na luta pela democracia, e ganham apoio de outros setores da sociedade.

Edson Luís. Presente!
2008 - Mas o que ficou da luta de toda uma geração? Teoricamente a liberdade de expressão e a democracia foram restabelecidas. Mas a prática caracteriza-se destoante dessa realidade.

Quarenta anos depois Edsons Luíses continuam sendo mortos em todo o Brasil. Em decorrência de um sistema social que destina à juventude pobre uma vida tolhida em seus direitos básicos e encerrada de modo violento.
No último dia 28, cerca de 2.500 estudantes, universitários e secundaristas ocuparam as ruas do centro do Rio de Janeiro para lembrar a morte daquele que se tornou simbolicamente o primeiro assassinado pela ditadura militar.

Durante o percurso, os jovens cantaram palavras de ordem pelo passe livre, contra o Reuni, pelo direito à educação pública e de qualidade e contra a violência em comunidades pobres através de “instrumentos” como o “caveirão”.

O ato começou na Cinelândia e percorreu as principais ruas do centro, passando pelo local onde ficava o Calabouço e foi encerrado na escadaria da Alerj, onde os estudantes reivindicaram investimentos na educação, gratuidade nos transportes e o fim da violência contra jovens e trabalhadores.

A passeata que durou cerca de 3 horas foi pacífica. Apesar da vigília constante de policiais militares e da presença da tropa de choque, nenhum incidente foi registrado. Guardas municipais, que faziam companhia aos policiais, fechavam e liberavam as pistas à medida que o protesto avançava.

O número de presentes (3.000) estimado pelo DCE da UFRJ, entretanto, difere do apresentado pela polícia, que declara cerca de 2.000 manifestantes.

Integravam a manifestação os movomento estudantis secundarista e universitário e movimentos sociais. Os estudantes pintaram de vermelho, com tinta guache distribuída pelas lideranças, todo o percurso, representando o sangue do estudante Edson Luís e de tantos outros assassinados pela ditadura, ontem militar e hoje social, durante a luta pela liberdade e pela igualdade de direitos.

Memórias
Um monumento inaugurado na praça Ana Amélia, no Centro, no mesmo dia, que traz uma bandeira dilacerada com pegadas de vidro, é o primeiro inaugurado pela Presidência da República em homenagem aos mortos e desaparecidos durante os “anos de chumbo”. A homenagem é resultado de uma parceria entre a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da presidência da República (SEDH), da Prefeitura do Rio, da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES).