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Os jovens, a mídia e a educação

O abismo cultural entre as gerações torna-se ainda mais evidente quando as atenções se voltam para as relações destas com a tecnologia. Os pais e os professores precisam acompanhar um ritmo que não lhes é comum. Com isso, a falta de parâmetros parece incomodar os jovens, que são obrigados a galgar, sozinhos, seus caminhos no universo virtual 

Basta pegar o mouse e começar a clicar para navegar na internet. A cultura digital tem como grande aliado a aprendizagem instantânea e auto-didática. Com isso, a brecha entre gerações com relação ao domínio da tecnologia tem aumentado. Não há controle, tanto por parte da escola quanto por parte dos pais, sobre o conteúdo acessado e produzido por seus filhos e alunos. Na projeto de pesquisa chamado Mediappro(linke pra http://www.mediappro.org) (Media Appropriation), 7.393 jovens de nove países europeus responderam a questionários que analisavam suas opiniões e atuações sobre a apropriação dos novos meios de comunicação.

Um fato impressionante é que os jovens afirmaram não receber qualquer tipo de orientação de seus pais ou professores sobre como usar a internet. O controle existe até a criança completar, aproximadamente, dez anos. Na juventude então, os jovens acabam por ensinar aos adultos como usar computadores e celulares. A única recomendação feita pelos pais é quanto ao tempo que os jovens passam em frente à tela. Tal falta de controle é sentida de forma negativa pelos jovens. Em entrevistas pessoais, desenvolvidas ao longo da pesquisa os jovens verbalizaram a necessidade de parâmetros.

Muitos se dizem seguros quanto à internet, uma vez que 79% declararam-se “espertos”. Porém, apenas 52% disseram saber “filtrar” as informações vindas dos sites de pesquisa como o Google. Membro do Mediappro, o professor Pier Cessare Rivoltella, da Universidade Católica de Milão, ministrou, na Pontífica Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), uma palestra sobre os resultados da pesquisa.

Rivoltella chamou a atenção para quatro pontos importantes que são modificados no conjunto sociocultural do que ele chamou de “sociedade multi-ecra” (multi-telas, ou seja, na qual nos relacionamos através de diversas telas, na era da mídia digital). Essa multiplicação de telas (meios de comunicação) quer dizer que as fontes de informação se multiplicaram, que a atenção e a possibilidade de construção da subjetividade se desloca. Essa multiplicação de espaços d conhecimento vai produzir uma mudança mto forte nos comportamentos dos jovens, que a psicologia chama de Multitasking (multitarefas).

As quatro grandes mudanças

Relação entre imagem e sua referência.
Atrás dos ecras (telas) fica mais difícil de identificar qual é a real referencia das imagens, conteúdos e informações. Nas praticas de conhecimento dos alunos é cada vez mais difícil de fazer entender “o próprio pensamento e o pensamento de quem é citado”. A facilidade de copiar coisas da internet e colá-las num trabalho pessoal dificulta a diferenciação entre “o que é meu e o que não o é”.

Relação entre Interno e Externo.
Diz respeito aos limites entre espaço publico e espaço privado. Tempo/espaço do lazer e tempo/espaço do trabalho. Além da necessidade de compartilhar o mesmo tempo e mesmo espaço, nós temos um deslocamento do trabalho no espaço e tempo que antes eram do lazer. Onde acaba o interno e começa o externo? Com o telefone celular é ainda mais simples de ver isso, como em conversas pessoais num espaço público; ou ainda, ao deixar o celular ligado dentro de casa e receber ligações sobre o trabalho.

A diferença entre o que é humano e o que é não-humano.
Podemos citar o caso dos agentes inteligentes, dispositivos semi-automáticos que ajudam nossas pesquisas na web. Um mecanismo de pesquisa que aprende sobre nossas buscas e arruma um perfil de como ele nos vê. A cada vez que entramos de novo no site de pesquisa ele pega mais informações sobre nós e nos oferece aquilo que ele “acha” que vamos “gostar mais”. Fica difícil diferenciar o trabalho humano do trabalho da máquina.

Ordem da visão e ordem da ação.
O Second Life é, hoje, o ambiente tridimensional mais desenvolvido. Não é um espaço de jogo tridimensional virtual. Second Life é, na verdade, outra dimensão, na qual a gente compra, vende e arruma situações. Antes da chegada das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) visão e ação eram bem diferenciadas, hoje em dia disputam o mesmo espaço. Eu posso fazer coisas num espaço que anteriormente eu só podia olhar, torna-se um espaço pragmático.

Onde os jovens têm acesso aos novos meios?

O acesso à internet se dá 80% em casa, 22% disseram nunca, ou raramente, fazer uso da internet na escola.  Estudantes confessam sentir dificuldade em tornar-se íntimos da rede ao ter acesso apenas durante as aulas das chamadas TICs.  As novas tecnologias se focam nessa aula, ficam restritas ao uso didático e não pessoal. Jovens aprendem a usar a tecnologia, mas não a associam com a comunicação. Vale à pena lembrar que a pesquisa foi feita na Europa, em países tecnologicamente superiores ao Brasil.

Recomendações a pais e professores foram feitas pelos organizadores da pesquisa. Orientações de como as TICs  deveriam ser agregadas pela escola e na totalidade da educação dos jovens. Segundo os pesquisadores, pais e professores devem ser guiados e encorajados a desenvolver a habilidade das crianças e jovens para a leitura crítica, mais do que enfatizar e proibir práticas ou o uso de certos programas de computador.

Os pesquisadores recomendaram uma maior conversação e abertura da parte dos pais e mestres para que estes se esclareçam e aconselhem jovens sobre como lidar com seus relacionamentos online e offline. Para os realizadores da pesquisa as escolas deveriam reconhecer que crianças e jovens podem ter experiências positivas e valiosas em jogos e vivências virtuais e isto deveria ser reconhecido em seus currículos.

Qual o lugar do professor?

Em entrevista publicada na revista ISTOÉ o senador Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação deu seu parecer sobre a importância do professor mediante as novas tecnologias: “O menino que navegou à noite na internet chega à aula, de manhã, sabendo de coisas que o professor desconhece. O ator principal não é mais o professor. São o professor, o aluno e a mídia. Ele não é mais o dono do saber, nem da informação.”

Para Cristovam “Ele (o professor) tem de estar ciente que ele não sabe da última coisa. O que ele aprendeu na universidade valeu até aquele dia, daí tem que aprender de novo. Segundo: precisa compreender que o aluno pode estar fazendo coisas que ele não domina. Terceiro: reconhecer seus limites, se não for capaz de usar os recursos novos. O professor que simplesmente não quer usar o computador é como um médico que prefere não usar uma tomografia computadorizada, o professor tem de aprender a mexer com o computador.”

Dos poucos que sabem, o muito que fazem

Os jovens têm preenchido muitos espaços da produção independente brasileira. Na internet, sites como o Fazendo Media (www.fazendomedia.com) e o Centro de Mídia Independente (www.midiaindependente.org), têm crescido muito, tanto em número de acessos, quanto em conteúdo. O espaço para o jovem na rede é ilimitado, uma vez que este tenha acesso à tecnologia.

Não só atrás das telas, os jovens têm se mobilizado bastante na produção de conteúdos para rádios livres. No site http://www.radiolivre.org/ você pode acessar e ouvir uma a programação feita por jovens de todo o país, todos com um objetivo comum, ouvir e se fazer ouvir. Ainda no rádio digital, podemos falar da revista da Agência Pulsar (http://www.brasil.agenciapulsar.org/revista.php), com edições mensais, é toda produzida por estudantes na faixa dos vinte anos.