Acervo
Vídeos
Galeria
Projetos


O que querem os jovens?

O número de adolescentes que tiraram título de eleitor para votar neste ano cresceu 39%. Além de balada e Orkut, agora eles também estão interessados em política

Esqueça a imagem do garoto que só pensa em malhar ou jogar videogame e da menina vidrada no Orkut, na balada e nada mais. Dados recentes da Justiça Eleitoral indicam um fenômeno novo envolvendo a moçada. Nos últimos quatro anos, cresceu 39,3% o número de jovens com 16 e 17 anos que tiraram o título de eleitor mesmo sem a obrigação de votar. O aumento é muito superior ao crescimento vegetativo nessa idade, abaixo de 2%. É uma marca histórica. O porcentual de eleitores adolescentes vinha caindo sistematicamente desde 1992. Chegou a ser de apenas 1,7% do eleitorado em 1998. Agora, são 2,45%, ou cerca de 3 milhões de pessoas. Os dados reapareceram agora, na discussão sobre as campanhas pelo voto nulo que circulam pela internet.

Há meses alguns analistas afirmam que a sucessão de escândalos, com mensaleiros e sanguessugas, empurrará o eleitorado em direção ao voto nulo. Até a MTV, emissora de TV dirigida ao público jovem, lançou uma propaganda pedindo que seus telespectadores preparem "tomates e ovos" para ouvir os políticos. Mas o único dado disponível sugere que esse barulho não reflete a realidade. Não parece razoável acreditar que mais de 800 mil adolescentes tenham decidido tirar o título de eleitor para votar nulo. "Tirei o título para tentar melhorar a educação pública, que é muito ruim. Falo com base na minha própria experiência", afirma Danilo Henrique da Silva, de 17 anos, aluno da escola estadual Dom Miguel Kruci, num bairro pobre da zona leste de São Paulo.

Apanhados de surpresa, os analistas políticos ainda não encontraram uma explicação definitiva para esse movimento. O cientista político Antonio Fávio Testa, da Universidade de Brasília, afirma que os escândalos políticos podem ter provocado a reação. A socióloga Anna Luiza Salles de Souto, do Instituto Pólis, tem opinião parecida. "O jovem de hoje está antenado nas questões do cotidiano e quer participar das decisões do país, mas não estamos percebendo isso. Ainda prevalece o estereótipo do jovem alienado, de costas para a realidade", diz ela.

Anna Luiza participou de uma ampla pesquisa chamada "Juventude Brasileira e Democracia", realizada com 8 mil jovens de 15 a 24 anos em sete regiões metropolitanas e no Distrito Federal. O levantamento mostrou que os jovens não acreditam nos políticos, mas acreditam na política. Para 64% deles, os políticos não defendem os interesses da população. Mas 68% acreditam que o voto pode mudar a situação do país. Apenas 5% declararam que pretendem votar nulo - porcentual bem menor que aquele que as últimas pesquisas apontam entre os adultos, ao redor de 7,5%.

Alunas de um colégio público na zona sul do Rio de Janeiro e filhas de classe média, Letícia Goldeberg, de 17 anos, Fernanda Quintanilha e Barbara Xavier, de 16, tiraram seus títulos de eleitor neste ano. Não são obrigadas, mas dizem que vão às urnas. Dizem que se informam sobre os candidatos e discutem política com pais e colegas. Felipe Lopes da Cruz, de 17 anos, aluno do 3o ano do ensino médio do colégio particular de classe média Pueri Domus, em São Paulo, é contra o voto nulo. "Anulando o voto as pessoas se abstêm do papel de cidadãos", diz ele. "Se a gente não escolher, outras pessoas escolherão por nós. Não acho certo."

Em quem os jovens pretendem votar? Será um voto de protesto, estilo anos 70? Ao contrário do que muita gente pode imaginar, eles não manifestam uma preferência nítida pela esquerda nem afirmam preferir Heloísa Helena, candidata do P-SOL. De acordo com a última pesquisa de intenção de voto do Instituto Datafolha, os porcentuais de intenção de voto entre os adolescentes são idênticos aos dos mais velhos, variando apenas dentro da margem de erro: 44% declararam voto no presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 30% no tucano Geraldo Alckmin e 11% em Heloísa Helena.

Eles querem votar

Número de jovens de 16 e 17 anos com título de eleitor subiu 39% em quatro anos
- 2,2 milhões - Tinham em 2002
- 3 milhões - Têm em 2006

Como nossos pais

Voto dos adolescentes segue a tendência do eleitorado
- 44% Lula
- 30% Alckmin
- 11% Heloisa Helena
- 6% Indecisos
- 5% Brancos e nulos
- 1% Cristóvão Buarque
- 1% José Maria Eymael
- 1% Ruy Pimenta

Fonte:Datafolha (faixa etária de 16 a 18 anos)

O que eles temem nos políticos e o que esperam deles

SE PREOCUPAM COM
- Falta de segurança
- Desemprego
- Má qualidade do ensino público
- Miséria
- Corrupção e descaso dos políticos
- Racismo

ESPERAM
- Mais responsabilidade
- Honestidade
- Políticas específicas para jovens
- Mais investimentos em educação
- Novas formas de fazer política
- Empregos

Fonte: Ibase/Pólis, Grupo de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas (2005)

Como eles pensam

Jovens acreditam no poder do voto e na democracia
- 35%* se preocupam com política
- 69%* acreditam que o voto pode mudar a situação do país
- 66%* consideram inaceitável não votar na eleição
- 37%* acham que votar é um dever

Fonte: "Juventude, Juventudes: O que une e o que separa"

Publicado na Revista Época, Edição 429 - 07/08/2006