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O Observatório Jovem e o Pontão do Jongo/Caxambu

Tia Maria da Serrinha na inauguração da sede do Pontão na UFF-Foto:Paulo CarranoO Jongo é cultura do sudeste criada durante o período colonial com a chegada de negros e negras da nação Banto ao Brasil. A magia entoada pelo soar dos tambores, os pontos de louvação e de brincadeiras puxados por cantadores, a beleza dos passos da dança com saias rodadas, lembram as rodas de samba do recôncavo baiano. O Jongo tem origem nas expressões culturais africanas e se propagou nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Hoje, comunidades jongueiras e pesquisadores trabalham para a continuidade desta cultura em constante transformação só encontrada no sudeste brasileiro

O reconhecimento pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) do Jongo como Patrimônio Imaterial em 2005, permitiu o surgimento de diversos projetos voltados para a salvaguarda do jongo e das comunidades jongueiras. O Pontão de Cultura do Jongo/Caxambu surgiu como uma destas iniciativas. Resultado de diferentes experiências em diversos setores da UFF (Departamento de Educação Matemática em Santo Antônio de Pádua, Observatório Jovem do Rio de Janeiro e Laboratório de História Oral e Imagem – LABHOI)  e com a parceria das comunidades jongueiras. O Pontão  do Jongo/Caxambu começou a atuar efetivamente em março de 2008 após o processo de convênio com o CNFCP/IPHAN (Conselho Nacional de Folclore e Cultura Popular/Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e a Fundação Euclides Cunha (FEC/UFF).

A coordenação geral do projeto é da Profª. Drª Eliane Monteiro do Departamento de Educação Matemática/UFF de Santo Antonio de Pádua. Contando com a participação junto a lideranças jongueiras do sudeste, professoras e alunas da Universidade Federal Fluminense (UFF) que contribuem para a realização de oficinas, documentários e seminários. Segundo a doutoranda em Educação da UFF e colaboradora do Pontão Mônica Sacramento, o Pontão de Cultura do Jongo/Caxambu prevê três eixos de ação: articulação, capacitação e difusão da cultura jongueira.

As comunidades que integram o Pontão são treze:  Santo Antonio de Pádua,  Miracema,  Porciúncula, todasjongueiros-Foto: Paulo Carrano do Noroeste Fluminense; Guaratinguetá, Piquete e São José dos Campos, em São Paulo; Barra do Piraí, Pinheiral, Valença e Angra dos Reis, no Sul Fluminense e Serrinha, na capital do Rio de Janeiro; e as comunidade de São Matheus – ES e Carangola – MG.

Na etapa de articulação a preocupação do projeto foi com a infra-estrutura das comunidades e a possibilidade de encontro das mesmas. Neste primeiro ano, o Pontão realizou eventos que estimularam a participação das comunidades e o fortalecimento de outras manifestações culturais de matriz africana. As comunidades participantes do Pontão encontraram apoio para a elaboração de projetos de captação de recursos e participação em editais públicos de apoio a projetos culturais.

 As oficinas que compõem o eixo de capacitação foram previamente discutidas com as lideranças jongueiras. Elas apresentaram propostas que estimularam a organização comunitária, a documentação de suas práticas por técnicas de audiovisual, história oral, educação patrimonial e o debate sobre as relações raciais no Brasil. Além disso, houve preocupação com a capacitação de jovens lideranças das comunidades para que estas cuidem da memória do Jongo e articulem ações de melhorias das condições de vida das comunidades jongueiras.

O Pontão de Cultura do Jongo/Caxambu cria uma ponte entre a população jongueira e as escolas ao capacitar jovens das comunidades para difusão cultural. Na tentativa de consolidar a relação de aproximação entre as culturas do Jongo e da escola, encontra-se em elaboração uma caixa de DVDs com documentários sobre o Jongo acompanhada de material de apoio para professores. A perspectiva é que os alunos reconheçam o Jongo como verdadeira cultura e não mero folclore ou uma manifestação popular “exótica”.

Para a pesquisadora Mônica Sacramento, lembrar o Jongo apenas em datas comemorativas não é suficiente para desconstruir estereótipos. “Uma clara abordagem folclórica do Jongo não contribui em nada para a problematização das condições de vida às quais os jongueiros, em grande maioria negros e negras, são submetidos na sociedade brasileira”, salientou .

Jongueiros reunidos na inauguração do Pontão-Foto: Paulo CarranoO Pontão realizou quinze oficinas no ano de 2008, em quase todas as comunidades jongueiras, envolvendo cerca de 350 pessoas. As alunas do Mestrado em Educação da UFF, Mariana Camacho e Julia Zanetti, ministraram as oficinas “jovens lideranças jongueiras”, sob a supervisão do Professor e coordenador do Observatório Jovem Paulo Carrano, nas três grandes regiões de atuação do projeto: São Paulo, Noroeste e Sul fluminense.

Na avaliação de Mariana Camacho as oficinas complementam as reuniões de articulação por colocar em prática aquilo que é idealizado em teoria. “As oficinas de jovens lideranças trabalham o pertencimento do jovem dentro da comunidade procurando discutir caminhos para o relacionamento entre os jovens e os líderes mais antigos das comunidades, isto associado ao debate das políticas públicas para a juventude das comunidades jongueiras”, ressaltou a mestranda.

Para Raquel Dias da Conceição, 32, integrante do grupo de Jongo de Caxambu em Carangola (MG), a oficina de jovens lideranças jongueiras foi a que mais motivou o grupo que possui, atualmente, cerca de 50 membros. De acordo com Raquel, que também é  estudante de Serviço Social, o número de participantes jovens cresceu. Os jovens se mostram atraídos em divulgar sua identidade cultural. Foi a partir deste espírito que surgiu a idéia, durante uma oficina do Pontão em Carangola, de criar um jornal que abordasse temas relevantes não só para a comunidade jongueira, mas para a população de maneira geral.

Segundo Raquel, o conteúdo do jornal foi dividido em seções sobre saúde/prevenção, curiosidades, entrevistas com membros da comunidade jongueira, moradores dos bairros e jovens de destaque na comunidade (em diversas áreas: saúde, música, esporte); o jornal dará destaque também à cultura afro-brasileira, aos avanços e mudanças na educação, além  de eventos realizados pela comunidade jongueira. “A divulgação não será limitada, pensamos em distribuir inicialmente nas escolas do nosso bairro, onde mora a maioria dos jovens do grupo, deixaríamos alguns exemplares no Centro de Referência e Assistência Social (CRAS), Programa de Saúde da Família (PSF), e em outros lugares com salas de leituras, incluindo a biblioteca municipal, principalmente para os integrantes do grupo”, acrescentou.

PJongo da Comunidade São José da Serra em Piquete-Foto: Paulo Carranoorém, a publicação tem o seu futuro incerto. A falta de parceiros que apóiem os projetos desenvolvidos nas oficinas do Pontão,  aparece como um obstáculo para que as idéias sejam postas em prática, e isso pode ser frustrante para os jovens da comunidade que criam expectativas sobre as mudanças que podem ocorrer com o trabalho. “Não colocar em prática esse projeto elaborado naquele momento de sugestão e reflexão das ações e atitudes enquanto jovem jongueiro, é uma forma de desestimular principalmente os adolescentes que precisam desse incentivo”, disse em entrevista ao Observatório Jovem a jongueira Raquel.

Durante todo o ano de 2008 foram colhidos depoimentos de jongueiros para a produção do documentário do Pontão do Jongo/Caxambu. Sob a direção dos professores Paulo Carrano (UFF) e Valter Filé (UFRRJ), o documentário terá como eixo principal histórias de jongueiros e jongueiras das comunidades participantes do Pontão. A proposta não é a realização de um documentário institucional que apresente os objetivos, metodologia, atuação e resultados do Pontão. A questão central que organizou as entrevistas e orienta a edição do documentário é o que significa para cada um dos entrevistados “estar no jongo hoje”. “Algo que nos acompanha neste trabalho diz respeito às relações entre as tradições e as transformações pelas quais passa a cultura do Jongo”, comentou Carrano. 
 
Para o Observatório Jovem o Pontão do Jongo/Caxambu é uma oportunidade de vivenciar o trabalho de formação e produção de conhecimento com jovens inseridos numa cultura de trocas entre sujeitos de diferentes idades. O Jongo e o Caxambu surgem no Brasil como cultura de “pretos e homens velhos”. Ao longo dos anos se transformou  culturalmente e incorporou crianças, mulheres e jovens em sua dança de roda, no batuque de seus tambores e na entoação de seus pontos. É significativo para o Observatório participar de política pública que favoreça rede de apoio político e cultural para a articulação entre as comunidades, a formação de lideranças comunitárias e o favorecimento de meios para a preservação da memória jongueira. 

Participam do Pontão os seguintes pesquisadores do Observatório Jovem:  Os professores Elaine Monteiro e Paulo Carrano, a doutoranda Mônica Sacramento e as mestrandas Julia Zanetti e Mariana Camacho. 

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