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Novas perspectivas na militância étnico-racial

Como se define a juventude negra do Brasil? As especificidades são inúmeras, considerando-se as diferenças e desigualdades sociais no que diz respeito à escolaridade, renda familiar, saúde, ao lazer, gênero, entre outros fatores

Jovens negros(as), por suas manifestações nos setores político, cultural e social, têm alcançado espaços de representação nos diversos segmentos da sociedade brasileira, apresentando-se como atores e atrizes capazes de estabelecer diálogos, oportunidades, conquistas e propostas políticas.

De acordo com pesquisa da Fundação Perseu Abramo, Retratos da juventude brasileira, os(as) jovens negros(as) chegam a 16 milhões de pessoas, considerando-se um percentual de 47% de negros(as) na juventude brasileira. A juventude negra é, pelos dados apresentados, aquela que mais atenção deveria merecer das políticas públicas. A pesquisa aponta para uma realidade na qual a discriminação racial, a desigualdade socioeconômica e a falta de acesso ao lazer são uma constante na vida da maior parte desses(as) jovens.

Com o objetivo de ampliar esse diálogo, a juventude negra do país está se articulando e preparando-se para a construção do Encontro Nacional de Juventude Negra (Enjune).

Trata-se de uma mobilização nacional em torno de um fórum de discussão na Internet e realização de reuniões mensais com participação de representantes de vários estados. Neste momento inicial, o intuito é o de convocar e mobilizar a juventude negra brasileira.

A organização do encontro possui um perfil afrocentrado, suprapartidário e sem vínculos religiosos. Sua construção se dá de forma coletiva, contemplando diferentes perfis de juventude e as particularidades de cada região, apontando para uma organização heterogênea, mas que mantenha sua autonomia.

Existem várias ações positivas sendo desenvolvidas em diferentes setores e lideranças sociais. A juventude negra, mesmo incluída nesses processos, muitas vezes atua como coadjuvante. Acreditamos que, como juventude organizada, temos a possibilidade de construção de um plano de metas da juventude, com uma plataforma única, que nos possibilite um novo papel, mas também tratar de nossas questões e contribuir neste novo panorama social no contexto étnico-racial.

A juventude negra organizada, fruto da ação histórica do movimento negro e já parte deste, vem construindo suas alternativas na luta anti-racista e pela promoção de oportunidades numa perspectiva de igualdade étnico-racial. A cultura hip hop, os grupos culturais, a capoeira, as manifestações regionais, os coletivos de estudantes, entre outros grupos organizados, atuam como um amplo movimento que, mostrando capacidade de organização, tem mobilizado jovens negros e negras, denunciando o racismo, a discriminação, a violência e a falta de oportunidades imposta pela sociedade a esta juventude. Neste sentido, a interação entre os movimentos por meio desse encontro dará uma contribuição ímpar à luta do povo negro.

Em pauta

O Enjune acontecerá de 11 a 13 de maio de 2007, na Bahia. Um dos objetivos principais é discutir o genocídio da juventude negra – tema fortemente abordado pela Marcha Zumbi+10, realizada em novembro de 2005. Os dados para o homicídio da juventude são alarmantes: a cada 100 mil jovens, 39,3 brancos(as) morrem por homicídio; entre jovens negros(as), o número é de 68,4 por 100 mil, diferença de 74% a mais, o que revela o quanto o racismo está conjugado à violência.

A saúde da população negra; direitos sexuais; geração de trabalho e renda; educação; comunidades remanescentes de quilombos; ações afirmativas e políticas de reparação; cultura e relações de classe e raça serão alguns dos temas debatidos no encontro.

Estão previstas também discussões sobre uma formação universitária mais compromissada com o social; meios de comunicação mais democráticos e disseminadores de informação de qualidade para a juventude negra; o direito à cidadania, à educação e à participação política.

O Enjune tem como objetivos centrais promover um intercâmbio entre grupos, coletivos, organizações e atuantes da juventude negra; socializar as experiências e ações desta juventude a partir das atividades propostas no encontro; construir um documento representativo que auxilie na implementação de políticas e ações focais para esta juventude.

O documento servirá de diretriz para ações do poder público, da sociedade civil organizada e da juventude negra. Mas também para a criação de uma rede de comunicação que reúna e distribua informações sobre esta juventude, o Multimídia Afro. Essa rede compreenderá jornal impresso, portal eletrônico, programas para rádio e televisão.

Também como resultado do encontro deverá ser efetivada a Rede Nacional de Juventude Negra para articular e promover uma participação política e social de militantes de todo o país.

O Encontro Nacional de Juventude Negra contará com a presença de cerca de 600 jovens. Essa participação se dará por meio de representação estadual por delegados e delegadas eleitos nas etapas estaduais. O processo de construção do Enjune se dá a partir do trabalho das comissões organizadoras e de uma coordenação nacional, visando disseminar as informações sobre a construção do encontro pelo país e estimular a participação da juventude brasileira nesse processo político.

Secretaria Executiva:
Rio de Janeiro (21) 8646-9370
E-mail: enjune_br@yahoo.com.br

* Jornalista, colaboradora do Ibase

Publicado no Jornal da Cidadania nº 135 , em junho de 2006.