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Movimentos alertam: omissão reforça extermínio de jovens negros

Segundo informações do Programa das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), entre os jovens negros de 12 e 17 anos, morrem 14 adolescentes por dia

Brasília - Na avaliação de representantes do movimento negro consultados pela Carta Maior, entre o conjunto de ações na área da promoção da igualdade racial que vêm sendo marcadas baixa priorização por parte do governo, uma das mais dramáticas é o extermínio da população jovem negra. Segundo informações do Programa das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), entre os jovens negros de 12 e 17 anos, morrem 14 adolescentes por dia. De 1993 a 2002, o número de homicídios de jovens de 15 a 24 anos aumentou em 88%. Só em 2003, mais de 16 mil brasileiros nessa faixa etária foram assassinados. Além disso, a taxa de homicídios de afrodescendentes é 74% maior do que a média de brancos da mesma idade, e a morte por arma de fogo já constitui a principal causa entre a juventude.

“Todo este quadro de extermínio, e não há uma única palavra nem da Seppir e nem do Ministério da Justiça”, critica Edson Cardoso, editor do jornal Irohin e um dos organizadores da Marcha Zumbi+10 realizada ano passado. Para Cardoso, não adianta falar que há política de garantia de outros direitos se sequer o direito à vida é preservado. Segundo a liderança, a recorrência do fenômeno durante mais de uma década gerou o que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) chama de “vazio demográfico” nesta faixa etária. “Observe uma escola e você verá que há muito mais meninas do que meninos”, sugere Cardoso.

Em resposta a este quadro, o Movimento Negro Unificado lançou em 2005 a campanha “Reaja ou será morto”. De acordo com Marcos Alessando, coordenador nacional do MNU, o secretário especial de Direitos Humanos à época, Nilmário Miranda, foi convidado, mas não compareceu. “Já existiam dados de que o percentual de jovens negros exterminados era cada vez maior, tiveram situações como a da Baixada Fluminense, casos como o de Salvador e em quase todo o território nacional, e mesmo com estes dados e esta realidade o governo não empreendeu nenhuma ação articulada de combate aos grupos de extermínio”, critica.

A negligência pode ser evidenciada, continua, se comparada à resposta dada a este quadro com o episódio da morte da missionária Dorothy Stang. Após o assassinato de Stang, foi montada força-tarefa em pouco tempo os executores e mandantes do crime foram identificados, lembra Alessandro. “Mas infelizmente o mesmo tratamento não foi dado ao assassinato da juventude negra no país”, lamenta. Na opinião de Edson Cardoso, enquanto apresentou os êxitos da Polícia Federal e das iniciativas de estruturação das forças policiais e do apoio à construção de presídios, a campanha Lula simplesmente se omitiu da apresentação de uma proposta consistente que combata a ação de grupos de extermínio e do Estado no assassinato de jovens negros.

Para Cardoso, no entanto, o comprovado apoio da população negra à Lula nestas eleições, evidenciado pelo recorte de cor e raça empregado nas pesquisas, retornará em forte cobrança caso persista a omissão do governo federal para com problemas fundamentais como este. “A população negra não apoiou Lula para ampliar o Bolsa Família, foi para fazer muito mais do que isso”, afirma.

Publicado na Agência Carta Maior em 24/11/06.