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Missa em memória da Chacina da Candelária termina em ato no centro do Rio de Janeiro

Hoje, dia 23 de julho, em frente à igreja da Candelária, crianças e adolescentes seguravam faixas pedindo por paz. Paz pode parecer algo impossível no centro do Rio de Janeiro. As buzinas dos carros, os apitos dos guardas, as sirenes, a correria dos trabalhadores. Porém, dentro da igreja, os manifestantes puderam entender, no mínimo por uma hora, o que quer dizer aquela palavra escrita nos cartazes que pendiam na porta

Não se via nenhum banco vazio na parte interna da igreja. A missa era em recordação dos 14 anos da Chacina da Candelária, onde oito crianças e adolescentes foram brutalmente assassinados por policiais militares enquanto dormiam em frente à igreja. Cartazes contrários à redução da maioridade penal foram estendidos no chão da igreja durante a celebração.

Fotos: Fábio Caffé / Imagens do Povo / Viva FavelaCheia de crianças, o cenário bem poderia ser de uma missa de primeira comunhão, se não fosse a falta de sapatos e as camisetas de instituições de educação. Meninas e meninos corriam de um lado para o outro, perguntavam, olhavam com atenção e queriam mexer em tudo. Afinal, não é assim que devem ser as crianças saudáveis?

Perguntei a um menino que estava lá, chamado André César, que tinha 13 anos e era residente da Casa-Residência São Pedro, da Associação Beneficente São Martinho, porque eles estavam lá. O garoto me respondeu com um enorme sorriso no rosto: “A gente veio aqui para rezar, estamos na igreja.” Muitos da idade de André seguravam os cartazes com dizeres de não à redução da maioridade penal. Muitos destes não sabiam o que estava escrito nas faixas, afinal,  não deve ser uma luta das crianças, mas sim, uma luta pelas crianças.

Disse o padre José Algares durante a celebração, “devemos dar às crianças a chance de serem crianças.” Elas devem ser crianças e se preocupar com as dificuldades de ser criança. Quais afinal devem ser os problemas de uma criança? Falta de comida, falta de brinquedo, falta de carinho e compreensão por parte de toda a sociedade, que pretende sacrificar mais alguns em prol da distante idéia de segurança?

Para o padre, todos estavam ali para recordar uma triste tragédia. Estavam ali unidos para orar pelas vítimasFotos: Fábio Caffé / Imagens do Povo / Viva Favela da chacina da candelária, assim como pelos causadores das vítimas. Mas além das orações, o padre pediu que todos fossem atrás de soluções. A missa e o ato foram uma contribuição da sociedade para que as autoridades competentes façam da lei um instrumento de justiça, para que todas as pessoas possam viver com dignidade.
 
Encarregado por fazer manutenções na igreja, Manuel Conceição dos Santos fugia de sua função e ensinava a alguns meninos sobre as relíquias sobre as quais eles corriam. Ao ser questionado sobre o ato, Manuel disse apóia-lo, pois para ele os políticos têm que falar menos e agir mais. Para ele, os políticos se aproveitam de momentos de comoção para aparecer na TV oferecendo soluções simples para os problemas do povo.

O Presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Infância, Siro Darlan, chamou a atenção para a parcela de culpa da mídia no risco da redução da maioridade penal. Segundo Darlan, a grande imprensa, tenta conduzir a opinião pública a achar que as crianças, ao invés de vítimas, são autores da violência.

Para comemorar os 17 anos da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, crianças levavam exemplares do ECA e faixas com os direitos das crianças ao altar no momento das oferendas, enquanto a música que tocava dizia: reparem nossas mão abertas trazendo as ofertas.

Fotos: Fábio Caffé / Imagens do Povo / Viva FavelaOrações e falas de militantes de movimentos sociais clamavam conscientização e discussão de fato. A violência foi mostrada como um dos maiores problemas do Rio de Janeiro, mas o grande problema visto é este tema ter sido tratado com muita superficialidade. O menino João Hélio Fernandes  Vieites também foi lembrado, como mais uma criança, vítima do mesmo problema social que resultou na morte dos oito meninos da candelária.

Após a missa, os manifestantes organizaram um ato, que contou com intervenções artísticas de grupos de circo e de bateria. Com aproximadamente 800 pessoas, o ato, que fechou três pistas da Av. Rio Branco, Seguiu da Candelária até a Cinelândia, onde os manifestantes protestaram, a favor dos direitos humanos e contra a redução da maioridade penal, em frente à Câmara dos Vereadores.

Veja aqui vídeo produzido durante o ato : http://www.youtube.com/watch?v=O9UkEB_hxN8