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Juventude que canta, dança e representa

A juventude tem muitas vozes e quer que elas sejam ouvidas. Uma delas são as ações sociais. A cultura é a diretriz, muitas vezes, dessas ações

O contato com a arte e as manifestações culturais pode se limitar ao entretenimento e lazer ou ir além: servir como instrumento de expressão social e construção da identidade, promoção da inclusão social, resgate de tradições culturais e sensibilização para o aprendizado. Além disso, pode até se transformar em profissão e geração de renda. Jovens descobrem no envolvimento com as manifestações artísticas uma forma de ampliar horizontes e transformar a realidade.
 
Agência Quixote Spray Arte

O hip hop é uma das manifestações mais articuladas de expressão cultural da juventude. Uma de suas expressões artísticas mais conhecidas é o grafite, que expressa a ideologia do hip hop por meio das artes plásticas. Existem ainda outros três elementos que compõem a cultura: a música rap, a dança break e o DJ que traz a música para dançar.

Fortalecendo essa definição, o projeto Agência Quixote Spray Arte, uma iniciativa do Projeto Quixote, realiza há cinco anos, na cidade de São Paulo, um programa de promoção de cidadania entre jovens e adolescentes em situação de risco social.

“Descobrimos que o jovem adora a linguagem do grafite, da livre expressão da arte, e é algo muito legítimo da juventude, um potencial muito grande de atração e comunicação entre eles. Pela Agência, percebemos um potencial de empregabilidade e de geração de renda através do grafite em parceria com a criatividade e a expressão artística”, explica Graziela Bedoian, coordenadora da Agência.

O Projeto Quixote, antes da criação da Agência, já organizava atividades relacionadas ao hip hop. Em parceria com grafiteiros(as) de São Paulo, foram realizadas diversas intervenções urbanas pela cidade.

Destaque dessa iniciativa foi a pintura feita no Carandiru em 2001. Com a temática da luta contra a Aids, o grupo de grafiteiros(as) da Agência Quixote, do lado de fora, e os internos do presídio, de dentro, realizaram uma grafitagem simultânea nos muros do antigo complexo presidiário. Hoje, as intervenções de grafite ocorrem na região da Cracolândia, no centro de São Paulo.

Cerca de 50 jovens em situação de risco social são atendidos(as) pelo projeto como parte das atividades do Quixote. “A garotada que atendemos é, na sua maioria, muito assediada pelo tráfico de drogas ou pela delinqüência, que acabam prometendo um dinheiro fácil e rápido. Muitas vezes, nessa competição, não tínhamos nada de atrativo e interessante para fazer. Esse foi um dos pontos que nos motivou a criar a Agência, uma oportunidade real de integrar a cultura e a geração de renda”, explica Bedoian.

A Agência é um programa de educação para o trabalho por meio do grafite, mas que gera renda com a venda dos serviços. “Nós temos um grupo de aprendizes, a cada ano entra uma turma. Nesse grupo, eles passam por um programa pedagógico que, além de oficina de grafite, oferece aulas de informática, oficina de cidadania e elaboração de projetos. A intenção é passar uma experiência mais profissional da expressão artística”, diz ela. Além das intervenções urbanas, os(as) alunos(as) da Agência Quixote Spray Arte fazem trabalhos de confecção de camisetas, telas e cartões de natal. “Começamos a gestar um livro que vai marcar esses cinco anos de experiência, nossas vivências, resultados e os significados desse tipo de iniciativa para a juventude. A idéia é registrar a experiência para servir para outros, pois, hoje, o grafite é uma ferramenta pedagógica que muitas pessoas utilizam”, conclui.

Centro de Multiculturalismo Comunitário

O objetivo inicial do grupo de rap N.U.C (Negros da Unidade Consciente) era a realização de palestras e oficinas culturais gratuitas para jovens do bairro do Alto Vera Cruz, região leste de Belo Horizonte. Hoje, com cinco anos de projetos, a iniciativa ganhou espaço e notoriedade no estado.

Intitulado Centro de Multiculturalismo Comunitário – Programa de Formação Cultural, o projeto atua na ampliação do capital cultural e nas oportunidades de desenvolvimento da juventude da comunidade.

“O projeto surgiu da necessidade de estimular a autovalorização dos(as) moradores(as) da periferia, do estímulo à autoprodução da cultura. A idéia é fortalecer as dezenas de grupos culturais existentes na comunidade, dando-lhes condições de inserção no mercado, e tornar a cultura e a educação vetores de inserção social”, explica Francislei Henrique, integrante do N.U.C e um dos coordenadores do Centro.

O Centro de Multiculturalismo Comunitário atende cerca de 450 jovens, na sua maioria negros(as), criando condições de inserção no mercado cultural por meio de cursos e oficinas de capacitação. Também põe tais jovens em contato com os(as) mais diversos(as) profissionais das áreas de produção cultural, formação artística e profissionalização técnica, potencializando os(as) jovens artistas do bairro e criando novas oportunidades de trabalho.

As oficinas e os cursos contemplam áreas específicas da produção cultural: música eletrônica, oficina de DJ, oficina de hip hop, sonorização e iluminação, técnica vocal, musicalização, elaboração de projetos e captação de recursos.

“A falta de diálogo e de uma discussão mais ampla possibilita que o quadro de desinformação e de exclusão da periferia se agrave muito. Por isso, promovemos atividades culturais, buscando essa inserção e capacitando os atores para enfrentar o mercado com conhecimento”, conclui.

Escola de Música da Baixada Fluminense

Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga, Noel Rosa, Cartola e Jacob do Bandolim. Esses são alguns dos ídolos de jovens entre 10 e 19 anos, moradores(as) de São João de Meriti, na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, que encontraram na música a solução para o cotidiano sofrido e sem perspectivas que levavam. A Escola de Música da Baixada Fluminense há nove anos utiliza o chorinho e o samba de raiz para resgastar a auto-estima de uma juventude sem diretrizes, além de formar músicos(as) capacitados(as) para o mercado cultural.

“Os alunos chegam à escola sem nenhuma noção de música, sem nunca terem visto de perto ou manuseado um instrumento. A maioria nunca ouviu falar de Jacob do Bandolim ou de Pixinguinha. A principal fonte de informação desses jovens é o rádio e a televisão, que não destinam muito espaço. Explicamos a importância desses artistas para nossa raiz cultural e o motivo da escola em trabalhar somente com esses ritmos, pois, para os outros, já existe uma informação disseminada”, explica Lena de Souza, diretora da escola.

A Escola de Música surgiu da Associação dos Compositores da Baixada Fluminense, que, a partir de uma pesquisa, juntou vários compositores(as) da área que faziam música no estilo de Cartola, Nelson Cavaquinho e outros artistas. Durante o trabalho na associação, perceberam que as crianças ficavam nas ruas sem muitas opções de lazer e entretenimento.

“Reunimos 30 amigos, cada um doava R$ 30 por mês. Com esse dinheiro, conseguimos alugar uma casinha, bem pequeninha, e dávamos uma ajuda de custo para os professores e as pessoas que trabalhavam na escola. Sobrevivemos assim durante três anos, numa casa com uma sala e dois quartos”, conta.

Hoje, a escola é patrocinada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e atende cerca de 170 jovens da comunidade, com aulas de violão, cavaquinho, clarineta, flauta, piano, teclado, bandolim e percussão.  Não existe nenhum pré-requisito para ingressar na escola de música. Mesmo que o(a) jovem não esteja estudando, ele(a) firma um compromisso de retorno para a escola e tem um prazo de cinco meses para voltar a estudar.

“No início, eles pensam em formar um grupo de pagode e ficar famosos, mas a escola trabalha com partitura. À medida que vão entrando na música desses mestres, vão se encantando. A briga, hoje, é pela partitura de Benedito Lacerda, Jacob e Pixinguinha. Eles querem tocar bem, se aperfeiçoar, ensaiar bastante”, diz.

Os(as) alunos(as) chegam à Escola de Música muito jovens, na faixa dos 9 anos de idade. Quando chegam em torno dos 17 anos, por ser uma região muito pobre, obrigatoriamente necessitam ajudar financeiramente suas famílias. Com isso, muitos(as) acabam abandonando a escola de música para trabalhar como ambulantes, biscates, camelôs. Para driblar esse percurso, a escola destina vagas de monitor(a) e instrutor(a) para os(as) alunos(as) que mais se destacam. Por esse ofício, recebem uma ajuda de custo e, assim, conseguem se manter no projeto.

Outra opção de renda que os(as) alunos(as) da escola encontram é por meio do projeto Integração Comunitária, no qual os(as) jovens têm a oportunidade de acompanhar musicalmente grandes nomes do samba de raiz brasileiro, como Monarco, Luís Carlos da Vila, Jair do Cavaco e Nei Lopes. “A gente faz uma roda de feijão e esses músicos são sempre acompanhados pelos jovens da Escola de Música, eles nunca trazem seus músicos. Isso valoriza o aprendizado desses alunos. Eles recebem um cachê e também fazem propaganda do trabalho deles, fortalecendo que a música também é uma profissão”, comenta.

Grupo Cultural do Alto José do Pino

Numa comunidade da Zona Norte do Recife chamada Alto José do Pino, o grupo Poesis realiza, há mais de quatro anos, uma série de eventos culturais no bairro, como recitais de poesias, cortejos poéticos e encontros de cultura. Formado por oito integrantes entre poetas, artistas, músicos e cantores(as), o grupo visa impulsionar a juventude local por meio da cultura popular.

“Partimos da idéia de que as grandes transformações sociais, muitas vezes, negligenciam as pessoas simples do dia-a-dia, não conseguem transformar as pessoas por dentro. Nosso trabalho vai desde a mudança estrutural até a pessoal, utilizamos a arte para valorizar a expressão social e cultural da juventude”, explica Maurício Gonçalves, integrante do grupo Poesis.

Durante o ano, são realizados quatro grandes eventos que reúnem teatro, dança, música, poesia e performance. No mês de março, o grupo sai pelas ruas da comunidade do Alto José do Pino em busca dos(as) jovens atores e atrizes locais e dos(as) poetas suburbanos(as) e marginais, para um grande encontro artístico em locais públicos da comunidade, que reúne cerca de 450 pessoas.

Em agosto, o grupo realiza o Agosto a Poesis, um tributo às pessoas que conseguiram sobreviver aos obstáculos impostos na realidade das periferias do Brasil. “A comunidade, como a maioria das favelas do país, tem um problema sério de violência. Fazemos uma atividade de cortejo pelas ruas do bairro para lembrar os jovens que morreram e, ao mesmo tempo, agradecer e tentar resgatar os que continuam vivos”, conta. O terceiro evento ocorre no mês de novembro, também com a mesma característica e objetivo, a atividade é realizada na véspera do Dia de Finados. No mês de dezembro, o grupo realiza a atividade Natal Verdadeiro, com a distribuição de presentes e atividades culturais para a comunidade.

Além dos eventos temáticos, o Poesis realiza, no último domingo de cada mês, o Recital ao Pôr do Sol, na praça pública do bairro. Utilizando apenas um equipamento de som e microfone, o grupo e o público participante recitam poesias performáticas. Para Maurício, “a atividade beneficia muitas pessoas, a juventude principalmente, porque é realizada no meio da rua e todos podem se manifestar livremente e expressar sua alegria e tristeza”.

“Existe uma característica naturalística no grupo, meio mística. Por isso, a escolha do pôr do sol para a realização dos recitais. As poesias sempre são interpretadas e performáticas. Os recitais de poesias são alternados com apresentações de teatro com artistas da própria comunidade e com jovens da companhia de teatro do Alto José do Pino. A música fica a cargo das bandas e grupos locais. Hoje, conseguimos mobilizar todo bairro em torno das atividades culturais, os resultados são muito positivos”, conclui ele.

Eletro Cooperativa

A cidade de Salvador é característica por abranger diversas manifestações culturais. Uma delas, talvez a mais tradicional, são os blocos afros. Buscando a inclusão social de jovens, preferencialmente negros(as), há dois anos surgiu a organização de cidadania ativa Eletro Cooperativa, que oferece cursos e oficinas para capacitar a juventude dos blocos afros e de comunidades pobres de Salvador. Tendo como principal elemento a tecnologia, visa à formação cidadã e à geração de renda por meio da inclusão musical digital.

Localizada no centro histórico de Salvador, o Pelourinho, a sede fica numa das ruas mais antigas do bairro negro da cidade. As batidas dos tambores se misturam às das bases eletrônicas da Eletro Cooperativa, unindo tecnologia e ancestralidade cultural – ao todo, cerca de 400 jovens participam das oficinas.

“Na Bahia, a maioria dos jovens é ligada a alguma atividade musical. Muitos querem se aperfeiçoar, mas não têm condições para isso. Eles possuem o talento para arte, desenvolvem algum trabalho, mas não conhecem a parte teórica, essencial para a sobrevivência e o sucesso no mercado musical. Utilizamos um elemento novo, a música eletrônica, aliada a ritmos tradicionais que impulsionam a juventude como o hip hop, o afoxé e o samba”, explica o DJ Mário, professor da Eletro Cooperativa.

A seleção dos(as) participantes é feita pelos blocos afros de Salvador e por entidades que trabalham na região do Pelourinho. Os(as) estudantes participam de aulas práticas e teóricas sobre a produção digital de música, aulas de teoria musical, discotecagem,  produção fonográfica, suporte à composição, arranjo, gravação, edição e masterização. Recebem uma bolsa para se manterem nas oficinas, que dura, em média, seis meses. É oferecido também um apoio pedagógico aos(às) participantes para garantir ao máximo o aprendizado nas atividades, além de um trabalho de cidadania que inclui noções de empreendedorismo juvenil.

“Os alunos têm a oportunidade de aprender e praticar tudo o que é ensinado nas oficinas. Temos um suporte técnico que possibilita o aprimoramento de toda a teoria aprendida. Eles concluem o curso capacitados para atuar como profissionais no mercado musical”, conta Mário.

Recentemente, os resultados das oficinas de música digital resultaram em sete CDs totalmente realizados pelos(as) alunos(as) da Eletro Cooperativa, além de um portal na Internet que abriga rádio digital e ambiente para divulgação e download gratuito de músicas. Entre os destaques do lançamento estão o CD Exijo respeito, do grupo de hip hop Afrogueto, e o CD Eletropercussivo, da Eletropercussiva, primeira banda formada por alunos(as) da cooperativa, que mistura elementos de hip hop e percussão.

“O lançamento dos trabalhos é uma oportunidade, além de toda a formação que recebemos, de inclusão no mercado musical. A qualidade das músicas e o aprendizado acumulado na Eletro Cooperativa são fundamentais para a carreira dos alunos formados pelos cursos”, conclui.

Projeto Batucatá

O som é uma mescla de vários ritmos musicais, como o afoxé, o lundu e o funqueado; a apresentação é feita com instrumentos de maracatu; um dos objetivos é a valorização da cultura afro-brasileira. Esses são alguns elementos que compõem o Projeto Batucatá, da organização de cidadania ativa Cataventos, um grupo de percussão que existe há um ano e atende cerca de 30 jovens, entre 15 e 23 anos de idade, moradores(as) de Sobradinho II, cidade-satélite de Brasília.

“Misturamos diversos ritmos musicais buscando uma releitura da música popular brasileira. Elaboramos o repertório de forma que o público perceba a transformação musical característica do grupo. Para complementar tudo isso, adicionamos alfaias de maracatu, caixas malacachetas e tamborins – oriundos das escolas de samba do Rio de Janeiro –, cuícas, timbais e congas”, explica Marcus Vinícius de Brito, um dos coordenadores do Batucatá.

A Cataventos já abrigava um projeto de percussão, porém sem muitos recursos e poucos(as) alunos(as). Além disso, a estrutura de trabalho era bastante precária e sem foco de atuação. Com algumas parcerias, as oficinas de percussão foram remontadas e foi criado o Batucatá. “Decidimos continuar com alguns alunos que quiseram dar prosseguimento, recolhemos mais alguns jovens em situação de risco social na comunidade e começamos o projeto. Com os instrumentos e os objetivos que almejamos, ficou mais fácil trabalhar a cultura afro-brasileira com eles e desenvolver os ritmos musicais”, conta.

O projeto Batucatá, além de ser um grupo musical de percussão, busca resgatar a auto-estima da juventude focando a atuação no resgate da cultura afro-brasileira. De acordo com Marcus, esse resgate social é muito mais importante do que a notoriedade nacional com uma banda de percussão. O grupo quer ser conhecido pelo trabalho que realiza em prol da juventude.

“A idéia é realmente fazer um trabalho de mudança e resgate social, e não uma banda que fará shows pelo país. Com essa filosofia, objetivamos atingir mais e mais jovens, envolvendo-os em uma atividade cultural que possa resgatá-los dos caminhos tortos oferecidos pela vida. A cultura pode ser a chave para esse resgate, mesmo com as dificuldades que encontramos em atuar no mercado cultural em Brasília, que não possui um histórico cultural forte como Recife e Salvador”, diz.

Apesar do pouco tempo de atuação, o grupo já é bastante solicitado para apresentações musicais, em virtude da qualidade musical e do discurso de afirmação da cultura afro. O grupo Batucatá quer ser característico também por essa abordagem, é por meio dela que resgata jovens da comunidade, dando-lhes esperança de dias melhores.

“Se não atuarmos fortemente na base, lá na raiz do problema, perderemos a cada dia mais e mais jovens. Acreditamos que a cultura seja esse ponto de atuação, nosso ponto de partida para as ações. O jovem precisa de estudo e de conhecimento, principalmente de suas origens, da sua ancestralidade, sobretudo o jovem negro. Por isso, fazemos um estudo dos ritmos que vieram da África e o que eles originaram aqui no Brasil, algo que está sendo esquecido. O samba, o maracatu, o baião e diversos outros ritmos têm o  poder de impulsionar e despertar o jovem para o bem. Apenas utilizamos essa força para realizar nosso trabalho”, finaliza.

Atitude

Protagonismo juvenil. Este é o foco de atuação da organização Atitude, criada em 2003 na cidade de Porto Alegre. Organizando oficinas, debates, sessões de cinema, intervenções culturais em seminários e congressos, busca discutir e modificar a condição da juventude. Participam desses eventos artistas, estudantes, trabalhadores(as), militantes, acadêmicos(as) e jovens que querem construir um novo mundo pautado pela troca, diferença, conhecimento, justiça e respeito e que trabalham para isso. São pessoas com desejo de criar a liberdade para a juventude.

“A cultura cumpre um papel fundamental no protagonismo juvenil. Um grupo de ativistas juvenis se organiza para lutar contra a opressão que sofremos, mas também para organizar espaços coletivos onde a produção e o esta¬¬belecimento de contraponto sejam ferramentas para que possamos estabelecer ações que priorizem a juventude”, explica Márcio de Oliveira, integrante da organização.

O grupo de jovens que compõem a Atitude foi formado na realização do ato político-cultural pelo desarmamento e contra a redução da maioridade penal em frente à fábrica de armas em Porto Alegre. São cerca de 20 ativistas de várias áreas e diversos(as) colaboradores(as) eventuais, com experiência em manifestações e atuação juvenil. A organização desenvolve projetos sociais e pesquisas no campo das políticas públicas de juventude e assuntos ligados à condição juvenil e suas relações com a sociedade.

Hoje, as principais atividades da organização giram em torno do audiovisual. “Utilizamos alguns conceitos de vídeo aliados a técnicas de alguns diretores, que facilitam as atividades e oficinas que realizamos, por meio da visibilização dos jovens. Técnicas como direção, produção e outras são conhecidas na prática com breve exposição de cuidados e de como se constrói e visualiza uma idéia via lente de uma máquina”, diz Márcio. Em seus cursos, a Atitude já capacitou 114 famílias pobres da periferia de Porto Alegre nas técnicas de vídeo.

Os(as) jovens participantes das oficinas de vídeos, em sua maioria, são moradores(as) de comunidades como o Morro da Cruz e a Vila dos Papeleiros, localidades da capital gaúcha em que vivem jovens em risco social efetivo. “O cinema é um ponto de atuação para o resgate desses jovens. Nos cursos, refletimos sobre arte, dramaturgia, produção de filmes. Estamos ali para oferecer as ferramentas e permitir que eles realizem as produções”, explica.

Grupo Parafolclórico Moqueio Tupinambá

O grupo se destaca no estado do Pará pela expressividade da cultura popular. Localizado na Ilha de Mosqueiro, cerca de duas horas de distância da capital Belém, reúne há sete anos a juventude local em torno da preservação da cultura e das manifestações artísticas paraenses.

“Os bois-bumbás, os grupos folclóricos e as quadrilhas juninas são algumas das manifestações que enriquecem o folclore da Ilha de Mosqueiro, todas com o objetivo de preservação das atividades culturais, visando atingir a juventude da ilha para que se integre mais com a cultura regional, além de gerar uma ocupação para os jovens”, explica Esmeralda de Oliveira, integrante do grupo.

O nome do grupo, Moqueio Tupinambá – que é uma homenagem a tribos indígenas da ilha –, surgiu a partir de oficinas de artesanato e marcenarias oferecidas a jovens da comunidade e da necessidade de entretenimento e lazer local. “A partir das oficinas, uma turma de meninos, juntamente com o instrutor do curso, decidiu formar um grupo musical que recuperasse a história cultural do Pará. Assim surgiu o Moqueio”, conta.  

Hoje, o grupo reúne cerca de 30 jovens, entre 14 e 26 anos de idade, músicos(as) e dançarinas. As apresentações ocorrem em eventos particulares e acontecimentos sociais em escolas, igrejas e instituições. O trabalho do grupo é voltado para a dança e performance teatral, por meio das quais são apresentadas diversas lendas do folclore paraense (boto, Matita Pereira, pretinha de Angola etc.), danças e ritmos regionais do Pará como carimbó, lundu, siriá, marujada, vaquejada, entre outros.

Além da dança e do teatro, o grupo Moqueio Tupinambá, em parceria com o Instituto Universidade Popular (Unipop) e o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente de Emaús (Cedeca Emaús), participa de cursos de formação de política ambiental e de oficinas sobre temas ligados aos direitos sexuais e reprodutivos.

“Os cursos contribuem para o crescimento e a formação pessoal dos integrantes do Moqueio e enriquecem os debates internos do grupo. Além da dança, tentamos nos engajar em outras áreas, levando nosso discurso e trabalho para os mais variados segmentos. Apesar de sermos um grupo folclórico, temos estes temas – a violência doméstica, a questão ambiental e o preconceito – presentes em nosso cotidiano, no grupo folclórico ou fora dele”, conclui.

*Jornalista, colaboradora do Ibase

Publicado na Revista Democracia Viva, nº30, Jan/Mar 2006