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Juventude de 24 movimentos procura enfrentar a fragmentação da esquerda

Transformação social e ações políticas marcam encontro entre campo e cidade realizado em Niterói com 1.200 jovens
 

 

Estavam todos ali. Uma grande roda no gramado. Ao centro, varas em tripé com uma bandeira hasteada. Punho esquerdo levantado, envolvido por uma faixa vermelha. Bandeiras vermelhas e sem estampa tremulavam erguidas. O coração batendo forte, pele arrepiada. Um abraço fraterno após cantarem A Internacional, de Eugène Pottier e Pierre Degeyter.

Com essa mística encerrou-se, na tarde do dia 15, o 1º Encontro Nacional da Juventude do Campo e da Cidade (ENJCC), que contou com um ato público no Centro do Rio de Janeiro (RJ). Esse encontro faz parte de um programa de formação da juventude da classe trabalhadora encabeçado pelo Coletivo Nacional da Juventude da Via Campesina. O curso vem ocorrendo, em nove Estados, desde 2006 tem como objetivo formar, mobilizar e organizar os jovens trabalhadores.

Entre os dias 11 e 15, o ENJCC reuniu na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ), mais de 1.200 jovens, de 20 Estados. Eles eram militantes de 24 movimentos sociais de trabalhadores, negros, desempregados, mulheres, sem-teto, estudantes e camponeses.

Esperança de mudança

O encontro propiciou que os jovens ali reunidos vivenciassem a fusão entre teoria, prática, cultura e intercâmbio para aprofundarem a reflexão sobre a situação da juventude. Nesse sentido, dois focos principais foram levantados: a diminuição das perspectivas dos jovens dentro da sociedade capitalista (ver texto “Capitalismo castiga jovens brasileiros”) e a organização dessa juventude para ações políticas conjuntas.

Neste segundo aspecto, de acordo com a coordenação do Coletivo Nacional da Juventude da Via Campesina, o ENJCC não foi um evento isolado nem somente um meio de reunir militantes. Ele é parte da construção do próprio Coletivo e, através do qual, se pensou na formação de uma agenda política que integre organicidade, formação política e luta de massa.

Segundo Antônio Neto, da coordenação do Coletivo, o ENJCC trabalho com quatro eixos: agitação e propaganda; formação; articulação; e simbologia e mística. “O caráter é de formação política, de estudo, de muita simbologia, muita mística, de luta e de dar unidade nacional às nossas ações”, disse.

Além disso, o encontro teve o objetivo de unificar o entendimento e a ação política da juventude e verificar que atividades estão sendo desenvolvidas com o mesmo intuito em todo país.

Durante os dias de encontro, percebeu-se grande diálogo entre os diversos movimentos dos diferentes Estados. Houve discussão nas delegações estaduais, nas macrorregiões (Nordeste, Amazônica, Centro Oeste, Sudeste e Sul) e em grupos mistos formados após algumas intervenções de assessores. Além disso, durantes os intervalos aconteceu grande intercâmbio.

Segundo Luciano Carvalho, do coletivo Dolores Boca Aberta, de São Paulo, “essa unificação permite romper barreiras que impedem ouvir o outro. Cria-se uma argamassa que nos une, nos torna mais fraternos e humanizados”.

União da luta

Dentre as inúmeras conquistas, a primeira foi a unidade da luta. De acordo com a coordenação do Coletivo, o sentido de se pensar o programa de formação da juventude da classe trabalhadora da Via Campesina, bem como o ENJCC, era que cada movimento assumisse como sua a bandeira do outro.

Além disso, questionar o próprio termo juventude, pois “é um termo sem nome, sem sexo, sem raça, sem classe”, nas palavras de Elisa Guaraná, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Apontou-se que, para ocorrer uma ação efetiva, é preciso perceber a complexidade que envolve a questão da juventude no Brasil e na América Latina.

Segundo Tatiana Oliveira, da Escola Nacional Florestan Fernandes, “é necessário enxergar a juventude como classe para se pensar ações futuras. É preciso resgatar a política como espaço de ação coletiva para a emancipação humana”.

“Um grande passo que tem sido dado é a quebra da dicotomia entre campo e cidade”, destacou João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST. Ele acrescentou ainda que, “para se avançar nesse processo, é necessário reproduzir encontros cujo caráter seja a união campo-cidade, estudo e luta”.