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Jovens Feministas: Um estudo sobre a participação juvenil no feminismo no Rio de Janeiro

Ao longo de sua história o feminismo contou com a participação de inúmeras gerações juvenis, mas só muito recentemente, as jovens passaram a reivindicar reconhecimento, espaços e discussões específicas de juventude dentro do movimento, assim como foi feito pelas feministas negras e lésbicas a partir dos anos de 1980

A presente dissertação busca compreender os elementos que contribuem para a constituição da identidade de jovens feministas e analisar sua inserção contemporânea no movimento feminista na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Para isto, além do levantamento bibliográfico, foram utilizadas como estratégias metodológicas a observação de atividades do movimento, a análise de alguns de seus documentos e entrevistas semi-estruturadas com quatro jovens e duas adultas militantes feministas.

Considerando que nenhum fenômeno de ação coletiva expressa uma linguagem unívoca (MELUCCI, 2001), dentro da diversidade que compõe o feminismo, duas das principais articulações feministas de atuação local e nacional foram tomadas como referência: a Articulação de Mulheres Brasileiras e a Marcha Mundial das Mulheres.

Dados estatísticos, estudos qualitativos e as vidas de muitas mulheres revelam que apesar dos importantes e incontestáveis avanços alcançados pelas mulheres, o movimento feminista ainda é necessário. Em tempos em que se pretende convencer a todos e todas que a equidade entre homens e mulheres já é uma realidade e em que os estudos feministas parecem fora de moda, é possível observar que este movimento não ficou no passado, continua presente, atuante e sendo incorporado por novas gerações.

Os desafios a serem encarados ainda são muitos, encontram-se tanto fora quanto dentro do movimento. Além de equipara salários, acessar espaços de poder, enfrentar a violência sexista, faz-se necessário rever as relações hierárquicas estabelecidas dentro deste movimento que se pretende democrático e horizontal.
 As jovens entrevistadas admitem os preconceitos que tinham em relação ao feminismo, relatam atuações anteriores em ONGs e/ou movimentos, através dos quais se aproximaram do feminismo e nos quais ainda transitam. Trazem como traço comum também o destaque da figura materna, procurando um caminho oposto ao dela ou como referência para os momentos difíceis.

Oriundas de outras experiências de participação, muitas vezes em lugares de lideranças, as jovens militantes chegam dando novas expressões ao feminismo e apresentando diferentes formas de estar neste movimento, com diferentes graus de aceitação ou enfrentamento dos limites estabelecidos pelas feministas adultas. Parte dessa diversidade pode ser encontrada entre as entrevistadas.

Algumas não identificam conflitos intergeracionais dentro do movimento e rejeitam ações de afirmação das múltiplas identidades no feminismo, apresentando argumentos que remetem àqueles utilizados por marxistas ortodoxos há décadas atrás para não reconhecer o feminismo como uma causa urgente.

Outras jovens, apesar de reconhecerem os conflitos, parecem aceitar o lugar de herdeiras do movimento, adotando atitude conciliatória em relação às adultas, o que revela a consonância, por ambas as partes, com uma concepção da juventude como um período preparatório para a vida adulta (ABRAMO e LÉON, 2005).

Tantas outras, que têm tido mais destaque no cenário nacional, optam por problematizar a inserção juvenil no feminismo: questionam, se organizam e já contabilizam algumas conquistas. Pautas tradicionais do movimento ganham recortes geracionais, espaços organizativos específicos vão se formando, as relações intergeracionais começam a entrar na pauta interna do movimento.

Apesar de não valorizar a identidade jovem feminista, no Rio de Janeiro, a Marcha parece ser o movimento que mais agrega jovens, talvez por ter um lugar destinado a elas: a batucada feminista, o que não significa que todas as suas jovens militantes aceitem restringir sua atuação a este espaço.

Aparentemente, na Marcha, assim como em outras correntes do movimento, só é permitido às jovens o acesso a instâncias de algum poder quando estão em sintonia política com adultas e na medida em que estas possam exercer maior influência sobre aquelas.

Uma constatação a ser registrada é a ausência de coletivos ou momentos de diálogo sobre as especificidades geracionais e as relações intergeracionais nas diferentes correntes do movimento no Rio de Janeiro. Diferente do que acontece nacionalmente, no âmbito local este segmento ainda não se constituiu enquanto um sujeito coletivo capaz de colocar em pauta estas questões e pressionar sistematicamente o conjunto do movimento, neste contexto a impressão que se tem é que apesar de adultas e jovens falarem muito, raramente se escutam.

Referências Bibliográficas
ABRAMO, Helena e LÉON, Oscar Dávila. Juventude e Adolescência no Brasil: referências conceituais. São Paulo: Ação Educativa, 2005.
MELUCCI, Alberto. A invenção do presente: movimentos sociais nas sociedades complexas. Petrópolis: Vozes, 2001.

*Julia  Paiva Zanetti
Pesquisadora do Observatório Jovem/UFF

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