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Jovens antenados(as) na política

"O que se verifica na prática é que jovens estão buscando formas de participação e intervenção na esfera pública, na vida social em que se encontram inseridos(as) e que lhes diz respeito", escreve a pesquisadora do Ibase, Patrícia Lânes

A recente divulgação feita pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do aumento substantivo (39,3%) de jovens entre 16 e 17 anos que tiraram título de eleitor nos últimos quatro anos e pretendem votar nas próximas eleições surpreendeu muitas pessoas. A surpresa de grupos da sociedade brasileira faz pensar sobre as idéias de apatia, individualismo e indiferença que continuam associadas à juventude brasileira. O que se verifica na prática é que jovens estão buscando formas de participação e intervenção na esfera pública, na vida social em que se encontram inseridos(as) e que lhes diz respeito.

As evidências trazidas pelo TSE apenas corroboram dados divulgados nos últimos anos por pesquisas de grande abrangência que buscaram escutar a juventude, considerando sua diversidade, suas demandas e desejos. Pesquisa divulgada recentemente pela Unesco e pela OEI – Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (“Juventude, juventudes: o que a une e o que a separa”, 2006), por exemplo, revela que 68,8% dos(as) jovens de 15 a 29 anos pesquisados(as) disseram acreditar que o voto pode mudar a situação do país e 66,6% afirmaram não ser aceitável não votar nas eleições.

A investigação realizada pelo Instituto Cidadania por meio do Projeto Juventude dá mais evidências da percepção dos(as) jovens brasileiros(as) sobre a política: 37% acreditavam que a política influi muito em suas vidas e 32% que influi um pouco; 36% disseram influenciar a política de alguma forma, seja por meio do voto nas eleições, reclamando seus direitos, pagando impostos ou, ainda, fazendo intervenções políticas. Finalmente, 54% dos(as) 3.500 jovens ouvidos(as) achavam a política algo muito importante.

As evidências sobre o lugar da política na vida dos(as) jovens brasileiro(as) também aparecem na pesquisa “Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas”, coordenada pelo Ibase e Instituto Polis. O levantamento foi realizado por universidades e ONGs em sete regiões metropolitanas do Brasil e Distrito Federal, ouviu oito mil jovens por meio de questionário e dialogou com cerca de 900 sobre participação e suas demandas em relação à educação, ao trabalho e à cultura.

As conclusões apontam na mesma direção das pesquisas citadas anteriormente: 28,1% participavam de algum grupo (coletivos religiosos, esportivos e culturais aparecem com maior força na preferência de jovens); 65,6% disseram procurar se informar sobre política, sem participar pessoalmente; 85,8% disseram se informar sobre o que acontece no mundo; e 85% concordaram totalmente que seria importante a abertura de canais de diálogos entre cidadãos(ãs) e o governo.

A partir desses e de muitos outros dados quantitativos apurados na pesquisa, combinados às informações levantadas nos Grupos de Diálogo (metodologia qualitativa que nos permitiu conversar com jovens), é possível afirmar que os(as) jovens pesquisados(as) continuam acreditando na política como meio privilegiado para transformar positivamente sua realidade.

Isso não significa que tenham postura crédula em relação a políticos. Ao contrário, os(as) mesmos(as) jovens que acreditam na importância do diálogo entre cidadãos(ãs) e governo, acreditam que a maioria dos políticos não representa os interesses da população (78,8%). Mais uma vez, ao contrário do senso comum, o descrédito na maioria daqueles(as) que os(as) representa não significa descrédito na política como forma de acessar e garantir direitos à educação, ao trabalho, à cultura e ao lazer.

O levantamento também apontou que eles(as) não se vêem, obrigatoriamente, participando diretamente de espaços institucionalizados, como partidos, sindicatos etc. Eles(as) não se sentem aptos(as) a participar de determinados espaços de participação, ao mesmo tempo em que não enxergam esses espaços como lugares preparados para receber jovens que fogem a um modelo específico.

Certamente, ainda há muito a ser feito se o objetivo de nossa sociedade é restabelecer a base de confiança entre jovens e política. A juventude pede representantes mais honestos(as), responsáveis, que dêem a devida atenção a jovens e ao povo e que, sobretudo, busquem a renovação das formas de fazer política.

O que os dados mais recentes do TSE revelam é que a juventude brasileira acha que o voto tem lugar central para que essas mudanças aconteçam. Os(as) jovens brasileiros(as) ainda vêem no voto uma forma legítima e possível de renovação de quem os(as) representa.

O Ibase e o Instituto Pólis lançam hoje, 9 de agosto, Dia do Betinho, publicação com propostas de políticas públicas para as áreas analisadas pela pesquisa “Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas”. O documento foi enviado para candidatos(as) à Presidência da República, para cerca de 200 deputado(as) federais ligados(as) à comissões legislativas com temáticas articuladas à juventude, educação, trabalho e cultura; para 120 conselheiros(as) nacionais de juventude; e para gestores(as) participantes do Fórum de Gestores de Políticas Públicas de Juventude. Durante o mês de agosto, serão enviadas publicações para gestores(as), representantes do legislativo e candidatos(as) ao executivo e ao legislativo das regiões metropolitanas pesquisadas. A idéia é que as propostas sejam apropriadas e debatidas em todos os níveis como mais uma forma de as vozes dos(as) jovens pesquisados(as) chegarem a formuladores(as) e gestores(as) de políticas públicas que jovens gostariam de ver mais comprometidos(as) com suas necessidades, demandas e, sobretudo, com seus direitos.

*Pesquisadora do Ibase

Publicado no Portal Ibase em 08 de agosto de 2006