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Harmonia e melodia chegam às escolas

Projeto aprovado no Congresso torna obrigatório o ensino de música nos colégios públicos do país. Para especialistas, medida terá impacto positivo na aprendizagem
 Nos próximos três anos, o ensino de música será obrigatório em todas as escolas brasileiras de ensino fundamental e médio. O projeto de lei que inclui harmonias e melodias no currículo foi aprovado pelo Congresso Nacional e agora aguarda apenas a assinatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para entrar em vigor. Além de melhorar o humor dos ouvintes, a música é capaz de influenciar positivamente o processo de aprendizagem de crianças e adolescentes.

De acordo com pesquisas científicas, ao aprender música os alunos também desenvolvem a disciplina, a sociabilidade e a concentração. “Aprender a tocar um instrumento é um ganho enorme para a vida de uma pessoa. O entendimento da música contribui para o desenvolvimento do raciocínio complexo”, comenta Ira Levin, maestro titular da Orquestra Sinfônica de Brasília. Para ele, estudar música, principalmente a música clássica, também é um ganho cultural. “Apreciar uma peça de Mozart é um prazer que une diferentes culturas, algo que nos identifica como espécie”, comenta.

A lei ainda precisa ser regulamentada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Mas a idéia é que o ensino seja feito dentro da cadeira de artes e que cada escola, de acordo com suas necessidades, interesses ou capacidades, escolha que tipo de aula oferecerá. “A disciplina artes costuma ser entendida como ensino de artes plásticas. A maioria das escolas opta pelo estudo de História da Arte. Com a lei, os alunos também aprenderão música”, afirma Júlio Linhares, secretário da Comissão de Educação, Cultura e Esportes do Senado.

Apelidada de “merenda d’alma” pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF), a lei foi resultado de um ano e seis meses de discussões encampadas por músicos e educadores. Estrelas, como Daniela Mercury, Gabriel, o Pensador e Frejat percorreram os corredores do Congresso Nacional para defender a idéia. Os colégios terão três anos para se adaptarem à nova exigência curricular. O prazo é grande porque, em locais mais afastados, as instituições de ensino serão obrigadas a contratar professores de outros estados ou então formar mão-de-obra — para dar aulas, será exigida dos professores licenciatura na área.

Coordenador do Grupo de Articulação Parlamentar Pró-música, Felipe Radicetti reconhece que, se a implantação fosse imediata, o cumprimento da lei seria difícil por conta da falta de professores capacitados. Mas acredita que gradualmente o problema será solucionado. “A lei cria demanda no mercado, o que estimulará os próprios músicos a investirem em formação”, comenta Radicetti, que é pianista.

Voz
Para comemorar e divulgar a nova lei, o Coral do Senado tem feito apresentações em escolas do Distrito Federal. Na segunda-feira, cerca de 150 crianças com idades entre 7 e 12 anos participaram de uma simulação de aula de coro no auditório da Escola Parque da 108 Sul. Apesar de quase incontroláveis na entrada, as crianças ficaram atentas durante a apresentação do coral. Os mais agitados apenas saltitavam ao ritmo das músicas, enquanto os adultos cantavam no palco.

Chamados a participar, meninos e meninas responderam obedientemente às ordens dadas pela maestrina Glicínia Mendes, 51 anos. “A música consegue controlá-los porque ela é um prazer”, opina a regente. Para Estefani Menezes de Araújo, 9 anos, o ponto alto da apresentação foi justamente acompanhar as instruções dadas pela maestrina. “Eu adorei quando cantamos com eles”, afirmou a menina, aluna da Escola Classe da 305 Sul.

Na opinião de Glicínia Mendes, a música também aumenta o auto-conhecimento e a tolerância, já que obriga os estudantes a ouvir. “Para aproveitar os sons, eles precisam conhecer o silêncio”, descreve. A maestrina realça que as aulas de canto e a formação de corais dentro das escolas são uma boa alternativa para as escolas. Segundo ela, formar um coral exige pouco investimento e traz ótimos resultados. “No caso dos corais, a voz é o instrumento. Um instrumento potente e gratuito”, defende.

O número
PRAZO
3 anos
As escolas terão para se adequar à nova lei do ensino musical