Acervo
Vídeos
Galeria
Projetos


Ensino médio: quem sabe o que é?

“Os direitos da juventude são um campo ainda em construção. Precisamos constituir os direitos primeiro, para que possamos nos preocupar em defendê-los”

Durante o “Seminário: Juventude e Iniciação Científica, Políticas Públicas para o Ensino Médio” , ocorrido no dia 06/11 na UFRJ, a pesquisadora Ana Paula Corti não teve medo de criticar governos ao falar sobre o Ensino Médio no país. Segundo Ana Paula, uma lógica perversa faz jovens entrarem e saírem do ensino médio sem entender as razões de cursá-lo.

Para muitos, visto como uma possibilidade de se preparar para o mercado de trabalho, o ensino médio precisa ser repensado. Uma  nova lógica deve ser seguida, que não o coloque como extensão do ensino fundamental ou como ponte para o ensino superior. Pois, assim como as outras fases do ensino, este tem, ou deveria ter, sua própria finalidade.

Corti explicou que diferente do ensino fundamental, a legislação não prevê a obrigatoriedade da oferta de ensino médio para todos, mas sim sua progressiva expansão. O que foi mostrado como um exemplo da falta de preocupação do poder público com os jovens, que se reflete na ausência de Políticas Públicas de Juventude efetivas para o setor.

Questões específicas do Ensino Médio devem ser pensadas por jovens, com jovens e para os jovens, afirma a pesquisadora.  Uma delas é o fato de a maioria dos jovens brasileiros trabalharem a partir dos 14/15 anos, o que contribui para a superlotação dos  cursos médios noturnos. A especificidade não se dá só no horário, mas no perfil do aluno, que, cansado com o trabalho de um dia inteiro, tem mais dificuldade de acompanhar aulas expositivas.

Mas, o que motivaria então os jovens para entrar no Ensino Médio? Pra que ele serviria?

Perguntas como essa foram feitas 880 estudantes de cinco escolas públicas da periferia de São Paulo, em uma pesquisa coordenada pela ONG Ação Educativa, no ano de 2007 (resultados apresentados em primeira mão aqui no Observatório Jovem).

Para os jovens que responderam aos questionários quantitativos, ou participaram dos grupo de trabalho (pesquisa qualitativa) não há ruptura entre ensino fundamental e médio. Os espaços são os mesmos, o modelo também.

Os estudantes revelaram que, quando entraram no ensino médio, 43% esperavam ser preparados para o mercado de trabalho, enquanto 25% queriam uma melhor preparação para o vestibular. Há ainda, de forma menos expressiva, aqueles que ingressaram com a expectativa de obter uma maior cidadania (8%).

Porém, após o ingresso, a ordem se inverteu, a maior parte dos entrevistados acha que o ensino médio privilegia a entrada no ensino superior (21%), enquanto 17% acham que o ensino médio está mais voltado para a preparação para o mercado de  trabalho. O dado mais impressionante é que 13% dos jovens disseram que não vêem nenhuma atividade ser desempenhada no ensino médio. Isso pode servir como exemplo para mostrar que a falta de clareza que as políticas têm acerca do ensino médio reflete-se na visão que os próprios jovens elaboram sobre a qualidade de suas presenças neste nível de ensino. 

As diferenças notadas mais fortemente pelos jovens são, na verdade, um acirramento do modelo do ensino fundamental, como o maior número de matérias, uma maior exigência, a maior presença de aulas teóricas. Quanto às relações estabelecidas no colégio, os jovens mostraram bem as diferenças existentes na relação professor-aluno.

Segundo os dados da pesquisa, no ensino médio, existe um maior afastamento entre professores e estudantes. Esse afastamento é sentido pelos alunos principalmente nos conflitos constantes com seus professores, conforme apontaram na pesquisa.  Ana Paula Corti alerta para a importância de se estabelecer uma outra dinâmica de ensino médio que deve ser pensando como uma escola para jovens e não uma extensão do ensino para crianças ou para adolescentes.

Saiba mais sobre o ensino médio no Brasil

Dados de 2005 da Pesquisa Nacional por amostragem de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e de Estatística – PNAD/IBGE indicam que do total da população na faixa etária entre 15 e 19 anos [18 milhões], apenas 45% [cerca de 4 milhões de jovens] encontravam-se matriculados neste nível de ensino. (fonte MEC – 08/11/2007)

Ensino Médio integrado à Educação Profissional - Maio de 2006 (Programa Salto para o futuro - TVE)
http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2006/em/index.htm

Ensino Médio: entre jovens e estudantes - 24/05 a 28/05 (Programa Salto para o futuro - TVE)
http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2004/em/index.htm

Ensino Médio no Brasil Ganha Maior Análise já Feita em Pesquisa
http://www.unesco.org.br/noticias/revista_ant/noticias2003/ensino_medio_final/mostra_documento