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Dicionário escolar afro-brasileiro eleva a auto-estima do jovem afro-descendente

A reportagem fala sobre o livro de Nei Lopes. A obra aborda em forma de verbetes temas como escravidão, racismo e desigualdade social

Com leveza e didática, os verbetes trazem uma visão sempre crítica e atualizada de temas fundamentais para a compreensão da situação do negro do Brasil.

Da Redação - Carta Maior

Em linguagem clara e acessível, na forma de verbetes, Nei Lopes apresenta ao estudante brasileiro informações e dados sobre o universo dos afro-descendentes. A obra, inédita no Brasil, une erudição e didatismo e oferece ao jovem a oportunidade de conhecer a verdadeira história do país.

Em 2004, o escritor, cantor e compositor Nei Lopes, depois de mais de dez anos de pesquisa, lançou a Enciclopédia brasileira da diáspora africana. A obra, um trabalho inédito e pioneiro, com nove mil verbetes sobre o universo africano, consagrou sua trajetória como militante da causa afro-descendente. Agora, o autor dá mais um passo nessa empreitada e busca atender um público diferente e especial: o estudante brasileiro. Partindo do pressuposto de que a igualdade social pode ser alcançada especialmente pela educação, Nei apresenta aos jovens o Dicionário escolar afro-brasileiro, também editado pela Selo Negro Edições. Escrito com leveza, os verbetes trazem uma visão sempre crítica e atualizada de temas fundamentais para a compreensão da situação do negro do Brasil.

Militante de longa data e profundo conhecedor da cultura afro-brasileira, Nei conseguiu a proeza de unir sua erudição ao didatismo. “É um trabalho diferente em forma e conteúdo, pois traz informações mais pertinentes ao universo e à área de interesse do estudante, dando ênfase à luta contra o racismo no Brasil”, diz.

O maior objetivo da obra, segundo Nei, é elevar a auto-estima do jovem afro-descendente, dando visibilidade às personalidades negras que tanto fizeram pelo país mas que foram esquecidas no conteúdo escolar. “Na minha infância, não havia referência ao negro brasileiro, não havia exemplos positivos. Eles existem e o repertório é grande. O jovem precisa saber disso”, afirma, lembrando que o momento atual, de reforma de currículos escolares, é propício para oferecer opções de literatura.

Além de abordar de forma aprofundada temas como escravidão, racismo e desigualdade social, o livro apresenta biografias de personalidades negras que se destacaram e se destacam na política, nas artes plásticas, na religião, na música, nos esportes, no ensino e em muitas outras esferas da vida cotidiana brasileira.

O estudante encontrará, por exemplo, informações sobre Abdias Nascimento, político, artista e escritor brasileiro nascido em Franca, SP, em 1914. Ele foi o organizador do 1º Congresso do Negro Brasileiro e fundou e dirigiu o jornal Quilombo e o Museu de Arte Negra. Há também verbetes sobre cantores, como Silvio Caldas, Pixinguinha e João da Baiana, e sobre atrizes, como Zezé Mota, e artistas, como Arthur Bispo do Rosário.

Apesar de ter sido escrito especialmente para o estudante brasileiro, o Dicionário pode ser lido por educadores, pesquisadores, militantes pelos direitos civis da população negra e por qualquer pessoa que se interesse pela verdadeira história do Brasil.

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Nei Lopes, nascido na zona suburbana carioca em maio de 1942, bacharelou-se pela antiga Faculdade Nacional de Direito da atual UFRJ aos 24 anos de idade. No início dos anos de 1970, abandonando a advocacia, encetou carreira artística, tornando-se primeiro publicitário e depois compositor profissional de música popular.

Na década seguinte, destacou-se também por sua militância pelos direitos civis do povo negro, publicando a partir de 1981 alguns livros pioneiros, como Bantos, malês e identidade negra, O negro no Rio de Janeiro e sua tradição musical, Sambeabá e Novo dicionário banto do Brasil, além de artigos e ensaios no exterior e coletâneas de contos e poemas, sempre evidenciando sua condição de brasileiro afro-descendente. Em 2004, lançou a Enciclopédia brasileira da diáspora africana.

Na música popular, é autor consagrado em parcerias e interpretações de grandes nomes de suas obras, como Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Martinho da Vila, entre outros.

Publicado na Agência Carta Maior, em 27 de setembro