UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Campo de Confluência: Educação Brasileira
Prof. Dr. Paulo Carrano
GRUPO DE ESTUDO INDEPENDENTE SUPERVISIONADO
CINEMA E JUVENTUDE: UM DIÁLOGO DE CINCO DÉCADAS
Um espírito livre não deve aprender como um escravo
(Roberto Rosselini)
Dia: Terça-Feira
Horário: de 17:00 às 20:30 h
Carga Horária: 60 h (4 créditos)
Número de encontros: 15
Número de vagas: 15
Público alvo: a) alunos do mestrado e doutorado em Educação da UFF; b) alunos de outros programas de pós-graduação strictu senso com inscrições requeridas e aceitas na secretaria do programa; e c) outros alunos especiais graduados no limite de 1/3 dos alunos de mestrado e doutorado matriculados.
Início: 14/10/2003
Ementa:
Cinema, consumo cultural e juventude; representações sociais sobre a juventude na história através da lente de cineastas nacionais e estrangeiros a partir da década de 50; os jovens entre identidades, diversidades e desigualdades; trajetórias juvenis e processos sociais educativos; famílias, escolas, culturas juvenis e a transição para a vida adulta em diferentes contextos sociais e históricos; jovens e escolas: diálogos e tensões intra-muros.
Objetivos e justificativa
Compreender a etapa da juventude em sua complexidade implica em reconhecer que aquilo que denominamos juventude não é uma coisa em si ou um dado homogêneo da realidade, mas sim uma categoria de análise que necessita de permanente atualização pela via da investigação e da crítica teórica. A juventude se move entre o cotidiano e a história e encerra uma enorme diversidade de variáveis individuais e societárias, tais como as biológicas, psicológicas, sociais, culturais, políticas e ideológicas. Isso significa dizer que, em verdade, não existe “a juventude” mas juventudes que expressam situações plurais, diversas e também desiguais na vivência da condição juvenil. No curso das circunstâncias históricas das sociedades industriais modernas, e também naquilo que se convencionou denominar pós-modernidade, a juventude é categoria social não redutível a critérios unívocos tais como de idade, biologia, cultura, psicologia ou classe social. A pluralidade de circunstâncias de vida dos jovens, entretanto, nem sempre encontra correspondência nas representações que as sociedades elaboram sobre a juventude; é comum que essas estejam ancoradas em modelizações sobre o que seria o jovem ideal e também em estereótipos sobre a juventude que fugiria aos valores de determinado senso moral dominante. Sem dúvida, esse fenômeno tem conseqüências para a investigação social e as práticas educativas em seus relacionamentos com as jovens gerações tomadas como objetos de análise ou sujeitos educativos. Assim, se considerarmos que a juventude é uma condição social e ao mesmo tempo um tipo de representação, deve-se também reconhecer que, quase sempre, os modelos positivos se espelham em jovens não populares e reforçam estereótipos e antagonismos nas relações entre as classes sociais.
É inegável que pesquisas e estudos acadêmicos, ao longo das últimas décadas, percorreram nacional e internacionalmente o caminho de consolidação de um campo de conhecimentos em torno da problematização da juventude. Entretanto, é preciso reconhecer que temos também na produção cinematográfica obras memoráveis com estéticas e conteúdos significativos que contribuem para a ampliação do conhecimento sobre as transformações históricas, materiais e simbólicas características do ser jovem ao longo das últimas cinco décadas.*
Cientes dos riscos presentes nos cruzamentos entre ciência e arte se tentará neste curso evitar a imposição do pedagógico sobre o fílmico assim como o artificialismo na reflexão científica. Assim, é nosso objetivo por em diálogo uma selecionada produção acadêmica com diferentes narrativas que se configuraram nas telas do cinema sobre a temática da juventude no curso de cinco décadas.
Metodologia
· O ciclo de debates
O grupo de estudo independente supervisionado se desenvolverá no formato de ciclo de debates perfazendo um total de 12 exibições acompanhadas de discussões entre os participantes. Os filmes selecionados para projeção e debate serão ancorados com resenhas críticas e textos teóricos relacionados com as temáticas sugeridas pelas produções cinematográficas.
· A delimitação
A seleção dos filmes considera a produção cinematográfica de longas-metragens, documentários e musicais de qualidade artística das décadas de 50, 60, 70, 80, 90 e 2000 e na qual os jovens são, em maior ou menor medida, protagonistas das tramas. Procurou-se evitar as produções em retrospectiva. Cada década contará com duas exibições equilibradas, na medida da disponibilidade de cópias, entre um filme nacional e um internacional.
Avaliação
A avaliação considerará a freqüência, a participação crítica, o domínio das leituras recomendadas e também a produção textual. O trabalho final consistirá na elaboração de artigo crítico e fundamentado teoricamente sobre um ou mais filmes do ciclo. A correspondência entre filme(s) e aluno(s)/aluna(s) será estabelecida coletivamente no primeiro dia de reunião dos participantes.
PROGRAMA:
Filmes do Ciclo por décadas:
Anos 50
Anos 60
Anos 70
Anos 80
Anos 90
Anos 2000
Referências Bibliográficas
CANEVACCI, Massimo. Antropologia da comunicação visual. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1990, 1ª ed.
___________________. Antropologia do cinema. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1990, 2ª ed.
FELDMAN-BIANCO, Bela & LEITE, Mirian L. Moreira (org.) Desafios da Imagem: fotografia, iconografia e vídeo nas ciências sociais. Campinas-São Paulo: Papirus, 1998.
LABAKI, Almir. Laranja Mecânica. In: Folha conta 100 anos de cinema. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1995.
MANNHEIM, Karl. O problema da juventude na sociedade moderna. In: Sociologia da Juventude, I – da Europa de Marx à América Latina de hoje. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1968.
PAIS, José Machado. Culturas Juvenis. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2003, 2ª ed.
TEIXEIRA, Inês Assunção de Castro & LOPES, José de Souza Miguel. A escola vai ao cinema. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
MARGULIS, Mario et al. Viviendo a toda: jóvenes, territorios culturales y nuevas sensibilidades. Santafé de Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Departamento de Investigaciones Universidad Central, 1998.
MELUCCI, Alberto. A invenção do presente: movimentos sociais nas sociedades complexas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
WACQUANT, Loïc. Os condenados da cidade. Rio de Janeiro: Revan, Fase, 2001.
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* Sobre isso, Bakari Kitwna comenta sobre o fracasso dos intelectuais em tentarem fazer uma análise da cultura jovem negra que emergiu nos anos 80 e 90, ao mesmo tempo em que assinala como os jovens diretores negros chamaram para si a tarefa com êxito em filmes como “Os donos das ruas” de Jonh Singleton (1991) – sobre um grupo de amigos que nascem, crescem e, em alguns casos, morrem no bairro de South Central – Los Angeles. Ver artigo Caderno mais! , Folha de São Paulo, 18/08/2002.