Acervo
Vídeos
Galeria
Projetos


Juventude, emprego e saúde republicana

Gazeta Mercantil (SP) – 30 de Julho de 2007

Quando do anúncio do chamado PAC da Segurança, o Ministro da Justiça, Tarso Genro, em entrevista à imprensa, sublinhou que existem no Brasil 4,5 milhões de jovens entre 18 e 19 anos em situação de risco social. Informou que a população carcerária dessa faixa etária vem crescendo em aproximadamente 25 mil novos detidos todos os anos

O crescimento incorpora a carceragem dos que cumpriram pena. Adicionalmente, o Ministério da Justiça estima que 70% dos jovens que cumpriram pena (aproximadamente 40 mil) reincidirão no crime.

Trocando em miúdos, todos os anos o Brasil está recolhendo aos presídios o equivalente a uma nova "divisão de infantaria" plenamente recrutada. Os mesmos presídios liberam 28 mil jovens, que retornam ao ilícito e ao crime. É conhecida a complementação deste cenário: o País teve mais de 55 mil brasileiros falecidos por causas violentas (bala, faca etc).

O leitor deve recordar que as baixas norte-americanas no Vietnã, em dez anos, não chegaram a esta mortandade. Deve saber que a principal causa de falecimento – na população entre 18 e 40 anos – é a violência e que morrem sete vezes mais homens jovens que mulheres. Nestas, para nossa inquietação, as principais causas estão ligadas a problemas de gravidez e parto.

A dimensão mais visível dessa tragédia é o medo progressivo que tem conduzido nossa classe média ao isolamento dos condomínios, ao esvaziamento das ruas e da vida noturna e o insulamento cada vez maior nas áreas dos centros comerciais (shoppings).

Enquanto isso, nossa população pobre, claramente desprotegida, é entregue à ditadura das quadrilhas de tráfico, que substituem a República nos territórios sob seu controle. Alternativamente, vem se desenvolvendo, como um poder paralelo ao Estado, as milícias, que cobram "taxa de proteção" dos moradores e substituem todas as atividades das quadrilhas, menos o tráfico de drogas, que erradicam da área onde atuam.

"Novas instituições" vêm surgindo, uma delas é a inovação "imobiliária", pela qual que milícia se apropria das casas de traficantes e seus amigos e as "comercializa".

A dimensão assustadora e que ameaça a República está nos 4,5 milhões de jovens desempregados e sem perspectiva de inserção produtiva social. É fácil compreender sua relutância em constituir família; vem se multiplicando vertiginosamente a família uniparental cuja titularidade cabe a uma mulher jovem, pobre, com um ou mais filhos de pais não assumidos.

Essa jovem mãe urbana e pobre forma o estrato mais vulnerável da força de trabalho; é o grande contingente de "serviço terceirizado", pessimamente remunerado. Para obter rendimento monetário tem que confiar a guarda e proteção de seus filhos a terceiros. Quando tem avós-pais, está melhor. Em sua ausência tem que remunerar uma "mãe crecheira".

Dada a insuficiência crônica do sistema de creche e precariedade da escola pública, esta criança se desenvolverá na cultura da rua de uma sociedade praguejada pelo desemprego. Está em desenvolvimento uma população desinformada da ética do trabalho e com referências familiares progressivamente evanescentes.

Genro elaborou uma proposta de R$ 1 bilhão para criar "alternativas" para esta juventude. Sem a geração de emprego, este é um gesto bem intencionado perfeitamente inócuo. O Brasil, sem um projeto de desenvolvimento e sem uma acelerada criação de oportunidades de trabalho e renda, estará colhendo safras cada vez mais numerosas de fatos violentos e verá a República em dissolução.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)