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Violência contra mulher

Recentemente o Brasil todo acompanhou o caso da jovem  Eloá Cristina, de 15 anos, que foi mantida refém durante mais de 100 horas por seu ex-namorado e depois morta com um tiro na cabeça. Contudo, apesar da grande comoção social provocada pelo caso e da grade cobertura da imprensa, poucas foram as reportagens que deram conta de abordar as verdadeiras raízes deste ato, que embora tenha parecido singular, na verdade foi só mais uma expressão da violência sofrida cotidianamente por milhares de mulheres brasileiras

A prova de que este não foi um caso isolado foram os diversos outros casos anunciados nos jornais em todo o país, de mulheres, e na grande maioria de mulheres jovens, mortas por seus namorados, companheiros e ex só de Outubro pra cá. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) ,quase metade das mulheres assassinadas são mortas pelo marido ou namorado, atual ou ex. Mas devemos ficar atentas, pois os casos noticiados nos jornais e Tvs são apenas casos emblemáticos e isolados de violência contra a Mulher e estão longe de representar a realidade brasileira. Além do que o homicídio de mulheres por seus companheiros e ex, embora seja o grau máximo da violência contra as mulheres,  é apenas uma das muitas formas de violência vivenciada por nós mulheres.

Estima-se a cada quinze segundos uma mulher é espancada no Brasil (Dados da Fundação Perseu Abramo). Segundo o último relatório da OMS (Organização Mundial de Saúde), 29% das brasileiras sofrem ou já sofreram violência física ou sexual de seus parceiros ao longo da vida.

Apesar destes dados assustadores, a violência contra a mulher ainda é um assunto com pouca visibilidade e muitas vezes considerado de pouca importância por grande parte da sociedade. E ainda muitas vezes, nós mulheres e principalmente nós mulheres jovens,   acabamos não identificando ou identificando muito tarde, a presença da violência e da dominação masculina nas relações afetivo-sexuais que construímos, o que acaba propiciando resultados ainda mais trágicos.

Muitos são os fatores que contribuem para esta percepção tardia por parte das mulheres jovens, seja os valores machistas socialmente disseminados, seja pelo fato de as vezes não termos  um relacionamento fixo, por não morar na mesma casa ou ainda por não ter acontecido agressões físicas, entre muitos outros.

Assim, para identificarmos a violência contra a mulher é muito importante reconhecermos que sua origem está associada a uma cultura machista e patriarcal e que na maioria das vezes ela não se inicia com uma agressão física. Atos como querer decidir o tipo de roupa ou o corte de cabelo da namorada, proibir de sair para certos lugares e/ou com certas pessoas, também são um tipo de violência que pode passar despercebido no nosso dia-a-dia, mas que já revela a tentativa de estabelecer uma relação baseada na superioridade e no mando masculino.

É importante ficarmos atentas e identificarmos as formas de violência contra a mulher, que muitas vezes se inicia com o controle e ciúmes excessivos e agressões verbais. Na maioria das vezes as mulheres acham que é possível contornar a situação, atendendo ao  namorado e companheiro para evitar brigas e discussões. Até apelidos que aparentemente são carinhosos, são marcados pelo sentimento de posse e dominação masculina, como por exemplo, “Você é minha”  “minha mulher”  “Eu sou homem, eu que mando”.

Estes tipos de atitudes são fruto de uma cultura educacional em que meninas e meninos são tratados de forma diferente desde o nascimento. As meninas são identificadas como sensíveis, delicadas e desprotegidas, enquanto os meninos como mantenedores da família,  dominadores, que não podem expressar suas emoções, etc. A partir daí, o machismo perpetua e os homens acabam exercendo, na maioria das vezes, uma posição de poder e domínio sobre a mulher, botando para fora todo o machismo que recebeu ao longo da vida tanto em casa quanto na sociedade em geral.

Outra forma de violência que atinge principalmente as mulheres jovens é a violência sexual. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde 60% das mulheres vítimas de violência sexual são jovens. Isto demonstra o quanto nós jovens estamos fragilizadas quando o assunto é uma das formas mais perversas de violência contra a mulher, a violência sexual. Sendo mais uma vez propiciado por valores machistas, os homens nos vêem como objetos que estão a sua disposição, para satisfazê-los a seu “bel” prazer, desconsiderando a vontade e/o desejo da mulher, sendo praticados por desconhecidos ou em alguns casos pelos próprios namorados ou companheiros.

É extremamente necessário identificarmos essas situações e se percebermos qualquer uma das formas de violência procurarmos ajuda, não termos medo de procurar uma Delegacia Especial de Atendimento a Mulher para denunciar e de sair desta relação violenta, antes que as formas de violência se tornem ainda mais graves.

Diversos casos, como o da jovem Eloá, mostram que ainda vivemos em uma sociedade majoritariamente machista, onde crimes dessa espécie são vistos como passionais e não como conseqüência de uma educação e cultura machista – esses muitas vezes se intensificam quando a mulher tenta separar-se do companheiro ou namorado, o que representa para ele uma “perda de controle” sobre a mulher. No caso da Eloá, a mídia passou a idéia de que Lindemberg, seu ex-namorado, era apenas um “menino apaixonado” que tinha sido “rejeitado pela namorada” e só quando ela foi morta que passaram a vê-lo como uma pessoa que estava cometendo um crime, que tinha feito algo grave. 

Casos como este apenas demonstram o quanto as mulheres jovens estão vulneráveis a   situações de violência e como muitas vezes o algoz é visto como a vítima. Prevalecendo, mais uma vez  na sociedade, os valores machistas que acabam culpando a mulher vítima de violência como se ela tivesse provocado aquela situação.

Por isto, não podemos ficar caladas diante de tantos casos de violência contra as mulheres e mulheres jovens, devemos nos solidarizar e unir umas com as outras: para dizer um basta a todo tipo de violência contra a mulher. Chega de discriminações, chega de agressões, chega de mortes: POR MIM, POR NÓS E PELAS OUTRAS, NÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER.

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CAMTRA

Violência contra a mulher e políticas públicas (Artigo Revista Estudos Avançados)