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O que eu acho dessa história de “Pacto pela juventude" lançado pelo CONJUVE.

Pacto, na minha experiência, é coisa de organismo internacional, coisa de Unicef, por exemplo, um daqueles inventos dos "comunicadores" das organizações que têm como efeito organizar um bocado de eventos onde o prefeito ou outro "político" pode chamar os holofotes, a imprensa e o marketing, para falar bonito, "juntar a sociedade", todas as forças políticas e sociais para mostrar um grande "consenso" porque, como se diz, a questão da criança (ou da juventude, dá na mesma) é "suprapartidária", então, todos podem se juntar nesse grande esforço nacional em favor da juventude
Todos podem aderir ao pacto; desde o político corrupto, que assim tem a oportunidade de lavar publicamente sua alma, até o empresário com "responsabilidade social" que por um lado explora seus trabalhadores (jovens e pais dos jovens), ou pior, reprime com a violência greves e ocupações de terras, e por outro lado aparece em público para mostrar sua adesão ao grande "Pacto" que irá salvar a juventude. (Aqui é preciso abrir um parêntesis para dar os Parabéns  aos companheiros da “Viração”! Os únicos, que eu saiba, que tiveram a coragem de recusar um financiamento de uma dessas empresas "com responsabilidade social", a Votorantim, e escrever uma carta pública para explicar seu gesto).

Essas grandes manifestações de “consenso” nos lembram que, infelizmente, a influência de Habermas sobre a sociologia e a política brasileira, e em particular sobre os militantes dos movimentos, foi bem significativa, e todos ficamos achando que sempre é possível, desejável, aliás, indispensável, fazer política por consensos .... assim se ocultam os conflitos, ou se deslegitimam, ou se desautorizam, conflitos que são, como nos ensinam filósofos da política como H. Arendt, Rancière, Chantal Mouffe, constitutivos da política, aquela com o “P” maiúsculo.

Aos promotores desse “Pacto” queria perguntar: porque, apesar desse grande interesse da sociedade brasileira pela "questão da juventude" hoje, como diz Marcio Pochmann, de cada 10 postos de trabalho que se criam no Brasil (e, graças ao recente "boom econômico" hoje no Brasil estão se criando muitos postos de trabalho), só 1 vai para os jovens? Por que se gasta tanto dinheiro com programas emergenciais que viram permanentes, que aprisionam os jovens em lugares fechados, em cursos de formação de baixíssima qualidade, que prometem, prometem, miragem de qualificação, certificação, ingresso no mercado, e todos sabemos que nada disso acontece? Soube, por exemplo, que na Bahia os jovens egressos do Pro-jovem nem conseguem ter acesso ao ensino médio, porque a escola não reconhece o diploma do Pro-Jovem.

Porque não se constroem equipamentos de cultura e lazer, gratuitos, bonitos e em número adequado às necessidades da grande quantidade de jovens que há nesse país (semana passada fui visitar o CCJ aqui em São Paulo, um espaço bonito, enorme, que nas intenções deveria acolher 2000 jovens por dia, mas, na prática, nos momentos de pique, durante os shows, consegue juntar 300 ... e não tem espaço para fazer esporte, para não "contaminar" a cultura com o barulho da "paixão nacional") e no lugar disso se espalham precários "pontos de cultura" para cada um se virar na construção de seu espaço? Porque o grosso do dinheiro do governo vai para o Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), programa que combina de forma magistral três ingredientes: repressão, prevenção, e promoção da juventude, e a gente não olha para isso, não discute sobre isso, não reflete ...

Bem, os "especialistas" em juventude dirão que tudo isso acontece porque a "questão da juventude" é muito nova na sociedade brasileira, faz muito pouco tempo que entrou na agenda, por isso precisa amadurecer.

Eu acredito, e não sou a única, que se não conseguimos criar efetivos espaços públicos de conflito essa questão passará de moda em breve sem deixar rastros .... ou aliás, deixará, sim, na vida de uns quantos políticos que construíram a sua carreira encima disso, e de umas quantas ONGs que conseguiram lucrar com isso ...

Os comentários sobre o Pacto que circularam na lista do FNMOJ (Fórum Nacional de Movimentos e Organizações Juvenis) ressaltaram o fato que o CONJUVE, com o lançamento desse “Pacto” quer pegar carona do sucesso da Conferência Nacional (cujo sucesso não se deu, em nada, à participação do CONJUVE e dos Conselheiros, muito pelo contrário ...) e tentar se legitimar de alguma forma (porque, de fato, esse Conselho está muito pouco legitimado, tanto pela sua forma e composição, como pelo seu modus operandi e, até agora, não mostrou para o que veio), apoiando e tentando divulgar as resoluções da Conferência. E que, infelizmente, essas formas da política estão fazendo escola, e pelo país estão se espalhando Conselhos sem legitimidade nem força política para funcionar, controlar, fiscalizar, e “Planos estaduais” copiados de algum documento de circulação internacional, que listam um bocado de demandas, mas não comprometem os governos com nenhuma ação concreta.  

Será que não é hora de deixar de lado esses papos de “consenso”, parar de gastar energias em conselhos e outras instâncias de “participação” que mais aprisionam do que fortalecem os movimentos sociais, e voltar a denunciar, reivindicar, ocupar as ruas, explicitar os conflitos?

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Saiba mais sobre o "Pacto pela Juventude"