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Juventude no campo: problemas e tarefas

foto Paulo Carrano (Central do Brasil, 1997)Artigo de Mardônio Barros, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e estudante da graduação em Pedagogia pela Universidade Federal Fluminense. O desemprego no campo e na cidade e a necessidade de organização da juventude são questões abordadas pelo jovem

Pensar nos problemas enfrentados pela juventude no campo é pensar nas mesmas dificuldades que atingem esta geração de modo geral. Apesar das diferenças existentes entre a realidade do campo e a da cidade, não podemos perder de vista que todos nós sofremos os impactos do modelo societário imposto pela ordem capitalista.

Nas últimas décadas, temos sofrido o avanço das políticas neoliberais e da reestruturação produtiva, que geram, entre outras conseqüências, o desemprego estrutural e a precarização das relações de trabalho. Essa realidade é mundial, mas atinge em menor escala os países centrais do capital, que ainda  contam com a influência das conquistas das políticas do Estado do Bem Estar Social (Welfare State).


O número de desempregados em todo o mundo é enorme. No caso brasileiro, estima-se que o desemprego afeta 24% da população economicamente ativa. Destes, 50% são jovens com  até 24 anos de idade. Multiplicam-se as formas de ocupação precarizadas já que o aumento avassalador das forças produtivas não se reflete na melhoria da vida das pessoas. Em vez da redução do tempo de trabalho alienado, vemos a superexploração da classe trabalhadora e, portanto, aumento da desigualdade.

No campo, existem 5,9 milhões de jovens entre 15 e 24 anos de idade. Cerca de 1,8 milhão vive em situação de extrema pobreza. O nível de escolarização é muito baixo e calcula-se que 65% das pessoas que vivem no campo possuem até quatro anos de estudo.

Os indicadores sociais são alarmantes e a falta de uma política de incentivo à permanência do jovem na terra contribui para agravar o quadro. No ambiente rural, a ação do governo focaliza, principalmente, o financiamento da produção do agronegócio, um modelo que concentra território, privatiza os recursos naturais e ainda expulsa a população mais pobre.

Por outro lado, a agricultura familiar é considerada atrasada apesar de ser a principal geradora de renda e emprego e produtora de alimentos saudáveis para a população.

A opção do governo pelo agronegócio como modelo de desenvolvimento para o campo no Brasil limita as possibilidades de geração de novos postos de trabalho, visto que este modelo demanda pouca mão-de-obra. São as pequenas propriedades que mais empregam: elas são responsáveis por 80% dos postos de trabalhos e 60% do que é produzido no campo.

A situação atual da classe trabalhadora piora o quadro. O número de desempregados atinge recorde. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) já fala em aproximadamente 1 bilhão e 200 mil pessoas sem trabalho formal no mundo. Mesmo os empregados vêem seus direitos, conquistados por anos de luta, serem reduzidos sob o pretexto da flexibilização necessária para a liberalização dos mercados.

Fala-se muito em formação de capital humano para resolver o problema do desemprego. É comum atribuir a dificuldade dos jovens de ingressar no mundo do trabalho a uma suposta falta de qualificação. Este argumento transfere a responsabilidade para o próprio jovem, deslocando a atenção sobre o verdadeiro culpado.

As forças produtivas sob o domínio do capitalismo não se desenvolvem visando a libertação do trabalhador, mas sim no intuito de ampliar as possibilidades de extração de sobretrabalho e, conseqüentemente, de lucro. Apesar do aumento do desemprego, não podemos afirmar, como fazem alguns, que o trabalho ruma para a extinção. Pelo contrário, observamos o crescimento da ocupação precária e da superexploração da classe trabalhadora.

Outro problema enfrentado pela juventude da classe trabalhadora brasileira é o descenso atual do movimento de massa.

Pensar em juventude e na sua inserção no trabalho é urgente, assim como pensar nas várias demandas concretas. Partindo das discussões que já foram feitas, do conhecimento acumulado, os jovens têm a tarefa de se assumirem como protagonistas desta reflexão.

O problema da juventude não está isolado das dificuldades a que o conjunto da sociedade está sujeito. A luta pelo trabalho, como um dos direitos fundamentais do ser humano e central em sua realização, é uma tarefa importante. Mas é preciso ter em mente que este empenho deve servir à libertação do homem e não à sua exploração e desumanização.

O trabalho é central para o ser humano desde que seja concebido como força criadora de valor de uso, ou seja, de bens necessários para a realização do ser humano, e que não seja fetichizado.

Para que a juventude possa superar o estado de coisas vigente e tenha chance de garantir o direito ao trabalho, é importante estar organizada. Para conquistar seus objetivos de classe, será necessário se perceber dentro do cenário de luta de classes e identificar seus aliados.

Neste sentido, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) tem estimulado a organização da juventude do campo e sua articulação com a juventude urbana. O Movimento entende que pode haver demandas especificas, mas o mais importante é universalizar as conquistas para que estas garantam também as diversas demandas da classe trabalhadora.

A juventude tem que estar presente de forma intensa na construção de uma proposta de novo projeto de sociedade. Sua participação não deve estar restrita à votação em um candidato na consulta dos representantes, mas se estender para a atuação política concreta na construção de um projeto popular para a classe trabalhadora. Para o MST, este projeto precisa ser socialista.

Não há saída sem organização. Não há solução individual, apenas coletiva. O cerne do problema não é o indivíduo com baixa qualificação, mas sim a inexistência de postos de trabalho para todos, de educação pública de qualidade, de acesso aos direitos fundamentais ao ser humano. É preciso entender que, dentro do jogo capitalista, é assim. E é preciso construir uma alternativa.