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A interface da juventude iraniana

Sem armas de fogo, mas amparados pela tecnologia da internet a juventude iraniana  tem driblado a censura pelas redes sociais da Internet, promovido uma revolução em seu país e um choque entre gerações. Com o conturbado resultado da eleição que derrotou o Ex-primeiro Ministro Mir Hossein Mousavi e garantiu a vitória duvidosa, por 63%, do então presidente conservador Mahmoud Ahmadinejad, uma onda de protestos foi desencadeada na República Islâmica do Irã

 

 

 

 

O governo respondeu mostrando o seu poder: fechou universidades, censurou jornais, proibiu comícios, bloqueou sites, expulsou, prendeu e proibiu a entrada de jornalistas estrangeiros para cobrir as manifestações. Os protestos foram iniciados depois de uma suposta fraude envolvendo a contagem de cédulas das eleições, mas segundo declarações de iranianos nas redes sociais, a causa tem ganhado uma dimensão maior: liberdade. “Acho que o povo não vai ficar mais satisfeito apenas com um reformista como Moussavi, o candidato da oposição”, afirmou ao jornal O Globo Hanif Z., um iraniano que fugiu para a Alemanha.  

As informações divulgadas pelos veículos noticiosos oficiais do Irã são censuradas e a prisão de jornalistas tem intimidado a grande imprensa internacional de enviar correspondentes para o Irã. Segundo dados da Reuters Brasil , cerca de 1032 civis foram presos, desde de quando o resultado foi divulgado e a possibilidade de fraude levantada.  O país está isolado e se não fossem os movimentos iniciados pelos jovens nos blogs, Twitter e Facebook, o Irã estaria incomunicável com o resto do mundo.

Segundo dados oficiais, cerca de 60% dos 72 milhões de iranianos têm menos de 30 anos de idade, são jovens nascidos depois da revolução do aiatolá Khomeini que buscam na internet uma ferramenta não só para exprimir a indignação com a eleição, mas para divulgar os crimes cometidos pelo governo, saber a real situação de seu país por outras mídias e pedir ajuda a organizações internacionais para driblar a censura. 
 
A lista de proibições do regime iraniano é longa. No país, não é permitido que homens e mulheres se toquem em público. As televisões iranianas são controladas pelo governo. Durante o horário nobre a tevê iraniana transmite orações e em datas comemorativas, especiais sobre os aiatolás. A programação deixa muitos jovens insatisfeitos, por isso parte das casas do Irã opta pela parabólica, apesar de ser ilegal.

O contato com a cultura ocidental tem criado novos valores entre estes jovens da era pós-Khomeini eJovens reivindicam por democracia dificultado cada vez mais o controle da população. Contestar, se tornou o lema desta nova geração que é vigiada, sem grande sucesso, pelo governo dos aiatolás. A censura parece não mais funcionar como antes no Irã. Os jovens burlam as leis impostas pelo regime, movidos pela vontade de se integrarem no mundo. São códigos para abrir sites proibidos, antenas parabólicas para assistir canais ocidentais, mercado negro para comprar cds de bandas iranianas que se estabeleceram nos EUA, parques distantes para namorarem. O desejo de interagir com outras sociedades tem crescido cada vez mais e a fraude da eleição foi a gota d’água  que faltava para dar forma ao movimento da juventude.

“Precisamos de ajuda urgente no Irã. Estamos sob ataque pelo governo. Eles roubaram as eleições. E agora estão prendendo todo mundo. Eles também filtraram os sites um por um. Mas o nosso problema é que bloquearam também a rede de SMS e estão bagunçando os satélites de TV. Por favor, algum de vocês pode nos ajudar a configurar algum tipo de rede utilizando nossos pontos de acesso caseiros? Alguém pode nos mostrar um link de como instalar estações de rádio ou TV? Alguma sugestão de como configurar uma rede? Por favor nos ensine, ou morreremos em uma guerra nuclear entre o Irã e os Estados Unidos”, postou um usuário do site slashdot.org.

A internet tem sido a principal arma destes jovens. Enquanto policiais e grupos paramilitares reprimem com atos de violência, os manifestantes armados com câmeras de celulares denunciam as brutalidades cometidas.

Neda Soltani, morta durante protesto pelas ruas do Teerã.As imagens chocantes feitas por celular dos instantes finais da morte da estudante de Filosofia e música Neda Soltani, 27, durante um protesto no sábado (20), na cidade de Teerã, ganharam o mundo através das redes sociais (originalmente o Facebook) e repercutiram nos quatro cantos do planeta. Especula-se que o tiro que matou Neda tenha sido disparado pela milícia pró-governo Ahmadnejad Basij. A estudante se tornou o símbolo das manifestações no Irã. No dia seguinte seu rosto já estampava cartazes pelo mundo, em movimentos de solidariedade aos manifestantes iranianos.

Preocupados com as denúncias feitas pela internet, o governo tem criado mecanismos para dificultar o acesso dos cidadãos a rede. De acordo com depoimentos no site Repórteres sem Fronteira, iranianos tem reclamado que a internet está lenta e sites como o YouTube e o Facebook estão difíceis de serem acessados. A tecnologia lançada pelo governo estaria sendo testada para censurar qualquer notícia que circule pelo país ou mesmo saia dele.

Após a repressão do governo ao bloquear mensagens de texto SMS e sites de relacionamentos, os manifestantes se apoiaram no Twitter para disseminar informações sobre os protestos. A NTT American, responsável pela atualização do Twitter, reconheceu que o site se transformou em uma importante ferramenta de comunicação para a população do Irã, os cofundadores do Twitter decidiram até mesmo atrasar a atualização do servidor em virtude do importante canal de comunicação que o site se tornou. 

De acordo com a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, os milicianos do Basij Manifestantes em passeata devido a fraude na eleiçãotem invadido casas e espancado civis na tentativa de silenciar protestos, que depois de proibidos nas ruas, passaram a ocorrer nos telhados e varandas das casas, onde pessoas se reúnem  para gritar slogans contra o governo de .

Segundo blogs e mensagens do Twitter, tanto os posts no microblog quanto as ligações por, celular estão sendo feitas por satélites que ainda não foram descobertos pelo governo reeleito. A internet se tornou a voz, a arma e a esperança de uma nação que sonha com a democracia.

Saiba mais

BBC Brasil- Irã: Revolução Islâmica e Reforma 

Enquanto o governo dispara balas, manifestantes revidam com tweets no Irã