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Fala Jovem! Juventude e Trabalho - Uma parceria Jornal da Cidadania e Observatório Jovem

Reunimos oito jovens de idades, lugares e condições financeiras diferentes para um bate-papo sobre suas experiências e o que esperam do futuro no mundo do  trabalho. Será que suas expectativas, dificuldades e sonhos são semelhantes?

Taiane Ribeiro, 16 anos – estuda no 2º ano do ensino médio no Colégio Estadual Sônia Kell e joga futebol. Mora em Santo Cristo na comunidade Morro do Pinto e é menor aprendiz no Ibase.

Meriane Pereira da Silva, 17 anos – cursa o 2º ano do ensino médio no Colégio Estadual Souza Aguiar. Nunca trabalhou.

Gustavo Cavalheiro de Azevedo, 18 anos – está no 3º ano do ensino médio no colégio Santo Alberto Magno, mora em Botafogo. Procurou emprego, mas sem certificado de reservista, não consegue.  Se alistou, mas não serviu.

Júlio César Meira Matos, 19 anos – estudante universitário, 2 º período de economia. Reclassificado pela Uerj para Estatística. Já trabalhou em telemarketing. Não trabalha no momento e será pai no fim do ano.

Vanessa Nogueira, 20 anos – terminou o ensino médio. Faz curso de Telemarketing, Hotelaria e Vendas em um projeto social e curso de inglês. Mora em Santo Cristo na comunidade da Providência. Não trabalha no momento.

Alan Luís Guimarães de Souza, 20 anos – estudou até a primeira etapa do ensino fundamental. Tem dois filhos. Desde que parou de estudar trabalha vendendo balas no sinal na Barra da Tijuca.

Diogo Reis, 21 anos – aluno da Escola Estadual Raul Vidal, mora em Rio do Ouro, em São Gonçalo, é vendedor ambulante de picolés na praia de Itapuaçú, Niterói.

Iara Amora, 22 anos – estudante de Direito da UFRJ, coordenadora do Núcleo de Juventude da Casa da Mulher Trabalhadora (Camtra). Faz curso de inglês.

Quando começaram a trabalhar ou a pensar nisso?

Gustavo – Comecei aos 16 anos, porque queria ser  independente, ter meu próprio dinheiro e responsabilidade.

Júlio – Foi aos 17 anos, atuando em telemarketing, mas só trabalhei um mês. Agora estou procurando emprego.

Diogo – Aos 13 anos, como empacotador em supermercado. Mas, na época, só ganhava caixinha, não era nada formal. Aos 16, trabalhei em construção civil. Fazia isso na parte da manhã, estudava na parte da tarde. Atualmente, trabalho como vendedor de picolés. É um serviço pesado, mas ao mesmo tempo é livre. Não precisa ficar obedecendo patrão e é bom para mim. Moro com minha família, com minha avó, não dependo muito do trabalho, por isso tenho me dedicado mais aos estudos para entrar na faculdade.

Taiane – Comecei aos 15 anos. Moro com minha mãe e minha avó. Tenho um irmão falecido, um pai e um avô. Morreu um em cada ano. Eu fazia biscoito de farinha de trigo, açúcar e canela e vendia na escola. Minha mãe fazia doce e eu vendia também. Depois, resolvi trabalhar de outra forma. Foi quando fiz um curso na FIA [Fundação para a Infância e a Adolescência] e vim trabalhar como menor aprendiz no Ibase. Comecei para ajudar minha mãe em casa e para ter algumas facilidades. Não acho que trabalhar significa conseguir independência.

Vanessa – Eu nunca trabalhei para receber salário. Participo de um projeto social em uma ONG e comecei a participar de pré-vestibular. Estou lá há três anos. Este ano, pretendo trabalhar.

Meriane – Eu estou pensando em trabalhar. Quero ser independente, morar na minha própria casa.

Alan – Trabalho desde os 10 anos de idade. Hoje, tenho duas filhas. Pago aluguel, vou levando a vida do jeito que Deus quiser. Quero um dia arrumar um emprego.

Iara -  Foi no começo da adolescência e queria sair, ter certas coisas que minha mãe não podia me dar. Foi meio para conseguir fazer o que quero e  não tirar do sustento da casa.

Foi preciso convencer a família ou foi necessário arrumar emprego?

Vanessa – Meu pai sempre me falou para estudar e depois trabalhar. Ele dizia: “faço de tudo para você estudar”. Mas hoje, tenho 20 anos, já esta na hora. Então, ele está mais tranqüilo.

Diogo – Lá em casa já foi o contrário. Era trabalhar para depois estudar. Minha mãe se separou do meu pai e fui morar com minha avó aos 3 anos. Desde pequeno, a idéia era trabalhar e o estudo ficaria em segundo plano. Eu passo uma dificuldade tremenda, falo para ela “vó, tenho que estudar, cursar a faculdade” e ela diz que é besteira, que tem um monte de gente que cursou faculdade e está desempregada, disputando vaga para gari. Essa relação é complicada, é uma briga tremenda.

Julio – Eu trabalhei na época em que meu pai se separou da minha mãe. Eles tinham posições diferentes. Para minha mãe, é preciso trabalhar para depois estudar; e para meu pai, é preciso conciliar os dois. Eu trabalhei quando morava com meu pai e ela não estava interferindo muito. Saí, porque estava atrapalhando os estudos.

É difícil trabalhar e estudar?

Taiane – É. Antes de trabalhar no Ibase, eu saía da escola, tomava banho, dormia, almoçava. Agora, não posso. Faço futebol às quartas e quintas, das 19 às 21h. Então, saio do Ibase, vou para o treino, tomo banho, janto e vou fazer os trabalhos da escola. É cansativo, mas estou conseguindo conciliar. Na minha escola, tem três pessoas que trabalham por indicação da escola. Elas têm toda a liberdade do mundo. Saem mais cedo das aulas. Eu saio às 12h50 para estar no Ibase às 13h. Os professores não querem saber: eu tenho que assistir aula e pronto. Eu já avisei que trabalho, mas está sendo difícil.

Diogo – Para quem estuda à noite, é um pouco diferente. Eu estudo à tarde, mas, como faço parte do grêmio da escola, faço o intercâmbio. Vejo que à noite os professores contribuem, entendem quando a pessoa chega mais tarde por causa do trabalho. Mas depende da escola.

Vanessa – No ano passado, eu saía da escola para ir para o pré-vestibular. Estudo no Largo do Machado e o pré é na Praça Onze. Pegava o metrô porque é mais rápido, mas eu tenho que almoçar. Aí, falava para o professor que ia sair 10 minutos mais cedo para almoçar. Tinha semanas que conseguia, outras não. Aí, você não sabe se sai mais cedo do colégio ou se chega atrasada no trabalho.

Iara – Quando comecei a trabalhar ainda estava no ensino médio. A época em que considerei mais difícil estudar e trabalhar foi durante o pré-vestibular, pois não tinha tempo para me dedicar aos estudos. Agora, na faculdade, por um lado, é mais tranqüilo, pois não tem cobrança de presença e horários, mas, por outro, percebo que meu rendimento não é igual a de outras pessoas que só estudam.

Gosta do trabalho que faz?

Alan – Eu acho bom ter responsabilidade. Minha diversão é trabalhar, não tenho tempo nem de jogar futebol. Trabalho de domingo a domingo, vendendo chocolate, pipoca; quando está chovendo vendo guarda-chuva. Eu gosto porque é o que sustenta a minha família. Não posso falar que não gosto. Sem isso, minha família ia passar perrengue. É lá que sobrevivo. Prefiro ter um trabalho fixo em vez de ficar no sinal, passando humilhação. Muitas pessoas do sinal já trabalharam em outros lugares; algumas são formadas, mas trabalham por necessidade. Se eu arrumasse um trabalho para viver tranqüilo, não ficaria lá não.

Taiane – Eu gosto de trabalhar aqui, num lugar que é tranqüilo. Também tem alguma coisa a ver com o que eu quero fazer na faculdade: produção cultural.

Diogo – Não gosto do meu trabalho, de jeito nenhum, mas gosto de ter um trocado no bolso para fazer um lanche, sair com namorada. Muitas pessoas trabalham ali para ter uma remuneração melhor. Estão ali para ter uma grana, para ter um dinheirinho a mais.

Que tipo de trabalho buscam?

Julio –  Estágio. Estaria aprendendo mais sobre a minha profissão. Seria mais proveitoso. Em princípio, o salário não ia contar muito, mas depois que tivesse uma experiência de estágio, procuraria um que pagasse melhor. Quando trabalhei, não tinha contrato de atendente de telemarketing, mas de estagiário. Pagava pouco, eles se aproveitam disso.

Diogo – Para mim, o trabalho ideal seria aquele que eu gostasse de fazer.  Eu gosto de atuar no movimento, por isso seria trabalhar num instituto como o Ibase, trabalhar na escola, ensinar. Pretendo fazer licenciatura. É algo que gosto de fazer.

Conhece a lei do estágio? Como tomou conhecimento?

Iara – Tenho um colega que arrumou um estágio de 8 horas por dia. São 40 horas semanais! A bolsa é bem baixa. Essa história das 8 horas me chamou muito a atenção. Perguntei como foi isso, se ele tinha assinado contrato, mas disse que não.

Diogo – Eu conheci através da minha militância política. Comecei no PDT, depois fui para o PT e agora estou no PSOL. Então, conheci a CLT  [Consolidação das Leis Trabalhistas]. Hoje o trabalhador tem direito a 40 horas semanais, mas existe uma tentativa de acabar com isso para a  economia crescer, para os bancos lucrarem mais etc.

Gustavo – Esse negócio de direitos aprendi com a vida. Meus irmãos são mais velhos e alguns já trabalham. Talvez por causa disso saiba algo. Tem que ter carteira de trabalho para arrumar emprego.

Quais são as dificuldades para arrumar emprego?

Gustavo – Se tiver a partir de 18 anos, algo que dificulta muito é o fato do empregador ter que garantir trabalho depois que a pessoa sai do serviço militar. Tem muita gente que nem contrata. E, sem o certificado de reservista, só a carteira não adianta nada. Essa situação da exigência do certificado de reservista não ajuda nem um pouco, mas ninguém faz nada, ninguém luta, se mobiliza, para mudar isso.

Julio –  Isso não ajuda em nada. Você vai pra lá, fica um ano ralando pra caraca, não ganha quase nada, aí quando você tem esperança de entrar, é mandado embora. Quando serve, ganha 50% de um salário mínimo.

Taiane –  Acho que a primeira é falta de experiência que exigem. Como é que eu vou ter experiência?

O que é melhor: trabalhar com patrão ou por conta própria?

Diogo – Sem patrão. Empresa é mais exigente, a competição é maior. Por exemplo, bancário. Ele tem que produzir, vender. Não ia me adaptar a isso. Eu pretendo fazer concurso público, trabalhar para o povo, essa é a minha meta. Patrão não dá.

Julio – Depende muito. Tem uns trabalhos com patrão que valem a pena, outros não.

Iara – Trabalhar com patrão, de carteira assinada, tem estabilidade. Em caso de ficar doente, ficar grávida, por exemplo. Trabalhando por conta própria é mais complicado. Quando trabalhar com patrão significa um emprego formal, sem dúvida as garantias e os direitos adquiridos são fundamentais. É muito problemático para quem trabalha por conta própria quando adoece ou para as mulheres quando engravidam, porque ficam sem garantia.

Taiane – Em um estágio, se você engravida,  pode ser mandada embora. Não tem as mesmas leis do trabalho. O estágio também tem esses problemas.

Alan -  Ter patrão, dependendo do patrão, pode ser muito bom. Meu pai trabalha há anos e nunca reclamou. Depende da situação e da pessoa que emprega. Tem pessoas que descontam tudo, comida etc. Meu sonho é ter um trabalho fixo, arrumar um patrão bom, eu cumpriria horário, trabalharia corretamente. Cada um cumprindo a sua parte. Hoje, e se eu ficar doente? Sorte que eu nunca cai de cama.

Qual a remuneração ideal para vocês hoje?

Diogo – Se eu tivesse emprego hoje, o salário ideal seria de uns R$ 500. O salário ideal é aquele com o qual você consegue sobreviver. Já uma família como a do Alan, para ter conforto, precisaria de  R$ 2.500, por aí.

Vanessa  – Li esta semana que o ideal para uma família viver bem é de R$ 1400. Esse seria o padrão ideal para uma família como a dele, para ter uma vida normal, para poder viver tranqüilo, ir num cinema no fim-de-semana. Para mim, que não pago aluguel, não pago nada, R$ 500 estaria bem legal. O dinheiro é mais para ir ao cinema, ir a praia, curtir a vida.

Iara - Acho que uma boa remuneração para uma pessoa que mora com a família, mas ajuda em casa, estaria em torno de R$1.000.

Meriane – .Eu moro com a família, então uns R$ 600, R$ 700 estaria bom.

Gustavo – Se eu ganhasse um salário mínimo já estaria bom, preciso só para as minhas despesas.

Vocês sentem que têm apoio do governo para conseguir o primeiro emprego? Vocês conhecem algum outro projeto de estímulo ao primeiro emprego?

Diogo – Principalmente este governo está abrindo várias oportunidades de trabalho, que eu considero um avanço. Mas para conhecer, para conseguir, tem que correr muito atrás. Por exemplo, abriu inscrição para o Pró-Jovem, era em tal lugar, foi para o Camburi, depois quando a gente chegou lá, era em outro lugar, mandou para a Secretaria de Educação. Não é fácil ter acesso àquilo ali. Mas se você for persistente mesmo, correr atrás, bater nas portas, acaba conseguindo.

Taiane –  Tem a FIA, que é a Fundação de Infância e Adolescência, tem a PAR, que oferece cursos, acho que é só o que eu conheço.

Vocês acham que o jovem deve ganhar uma bolsa de estudo e ficar só estudando sem precisar trabalhar? E se a bolsa acaba?

Vanessa – Nunca trabalhei, mas agora, aos 20 anos, buscando o primeiro emprego, querem que eu faça estágio e eu, já com essa idade, vou querer ganhar como estagiária? Não. Poderia ter feito estágio antes. Mas a garantia de conseguir esse primeiro emprego, que não fosse para ganhar menos do que a pessoa recebia com a bolsa, ou menos do que, no meu caso, meu pai está me dando, seria legal.

Gustavo – Mas isso é algo que você conquista, não vem de repente, leva um tempo.

Taiane – Você deixa de receber a bolsa porque arruma o primeiro emprego, fica um mês e é mandada embora, o patrão não gosta de você, e aí? Como vai conviver com essa mudança, com certeza, a bolsa faria diferença, permitiria que você ajudasse em casa, no seu transporte e de repente, acabando, como ficaria? Isso acontece muito de os jovens ficarem só um mês e depois serem mandados embora.

Diogo – Seria interessante, mas a pessoa teria que ter responsabilidade, mostrar que está inserido mesmo, não é para gastar o dinheiro todo no shopping, é para aprender e usar isso para ajudar a comunidade. E, ao mesmo tempo, aprender a lidar com um ambiente de trabalho, envolvendo pessoas, gente, mantendo relações, crescendo.

Taiane – A pessoa poderia fazer isso tudo o que você falou, mas é complicado. Por exemplo, a maioria das pessoas que estuda de noite não quer nada, está estudando à noite porque é mais cômodo, isso não é mentira. Quando precisam de nota, pedem ajuda ao professor, a maioria das pessoas que eu conheço é assim. E aí, quando acabasse essa ajuda?

Meriane – Eu não concordo com o que Taiane falou. Eu estudo à noite e percebo que a maioria das pessoas é muito dedicada com os estudos, trabalha de dia, mas estuda à noite de verdade, não acho que o que ela falou está certo.

Diogo – Concordo com Taiane no sentido da necessidade da fiscalização, caberia àquela escola beneficiada com o projeto de bolsa  fiscalizar se a pessoa estaria participando de verdade ou não. Teria que haver também uma seleção. Não daria para dar isso para todas as pessoas, só para as mais interessadas.

Julio – A experiência que tive na Estácio, são pessoas com uma situação bem mais difícil, o pessoal dos primeiros períodos logo procura estágio e muitas pessoas, a partir do terceiro período,  que estudavam de dia, preferem ir para a  noite para trabalhar. Foi o que observei, que as pessoas  da noite são mais dedicadas do que os alunos da manhã. Posso dizer porque estudava à noite.

Iara – De alguma forma, por mais que seja válida a idéia de só estudar, a gente sabe que no Brasil só a formação não garante emprego. Com essa bolsa, seria suficiente? Essa pessoa conseguiria estudar para depois trabalhar? Essa é uma questão para se pensar.

É mais fácil para homens ou para mulheres conseguir o primeiro emprego? Por que elas ganham menos?

Júlio – Acho que para mulher. Acontecem muitas inscrições para empregos de forma diferenciada, para mulher e homem. Elas ganham menos porque ainda há machismo, preconceito. É o que acontece com as mulheres. Homens e  mulheres negras ganham menos ainda.

Diogo – Depende do tipo de trabalho. As mulheres são mais aceitas no telemarketing, ainda que tenham homens nessa área. Na construção civil, tem mais homens. No setor administrativo, se formos observar os cursos superiores de administração, o número de mulheres está aumentando. Acho que as mulheres estudam mais, são mais eficientes e ganham menos, mas estão em profissões mais populares, é preciso ficar de olho nessa questão.

Vanessa – Ainda impera muito o machismo, mas depende também no que você vai trabalhar. As mulheres, em algumas áreas, são mais eficientes, mas sempre ganham menos. Os homens sempre vão dizer que fazem alguma coisa a mais para justificar isso.

Iara – Isso está muito relacionado à questão do estilo do trabalho. O trabalho das mulheres ainda está muito relacionado com a questão do cuidado, trabalham como babá, como domésticas. Foi feita uma pesquisa há pouco tempo, pegando o Instituto de Educação como exemplo. A pesquisa mostra que no ensino infantil há mais professoras, que não são tão bem-remumeradas. Conforme vai aumentando o grau de ensino, esse trabalho vai se tornando mais bem-remunerado, e a maioria são homens. Isso mostrou que, mesmo ocupando os mesmo cargos, os homens são mais bem pagos. Ainda tem muito no imaginário do empresário o fato de que uma mulher, de carteira assinada, vai custar mais, pois pode ficar grávida, e aí ele vai ter que substituir por outra pessoa depois.

Júlio –  Você não acha que os homens se mobilizam mais, lutam mais por seus direitos? Por exemplo, no recente protesto em São Paulo contra a Volskwagem, eles mostraram a disposição para lutar por seus direitos, eram basicamente homens. Você não vê a mesma atitude por parte das mulheres.

Diogo –  O sindicato dos metalúrgicos é formado basicamente por homens. Já no sindicato dos professores, as mulheres participam mais. Nas comunidades pobres, são as mulheres que defendem seus filhos contra o caveirão e também contra o tráfico, são elas que ficam na linha de frente buscando seus direitos, mais do que os homens. Nas situações-limite, o homem explode e a mulher vai, diplomaticamente, se articulando, conseguindo o que quer.

No caso do trabalho de rua, como você faz, Alan, como fica a situação das mulheres?

Alan – O perigo é o mesmo, a exposição é a mesma. Elas fazem mais panfletagem do que vendem doces. Todos nós recebemos do público uma atitude de discriminação, muitas vezes, elas são maltratadas. Corremos risco quando atravessamos por entre os carros, quando a guarda municipal vem em cima da gente. Tem gente que nos trata bem, quando nos vê, já abre a janela, já nos conhece. Mas a maioria das pessoas nos olha com um olhar diferente, fecha as janelas, achando que vamos roubar.

Se vocês pudessem fazer um curso para melhorar as suas condições na busca por um emprego, o que seria?

Vanessa – Faço inglês e informática, acho que se eu fizesse um outro idioma seria bom.

Júlio – Queria fazer um curso técnico na área da petroquímica, na Bacia de Campos, no estado do Rio. É uma área boa, que paga bem. Eles ficam 15 dias trabalhando e praticamente um mês em casa. Qual é o outro trabalho que oferece isso?

Meriane – Queria estudar inglês e aprender a usar o computador, essas coisas.

Gustavo – Queria fazer um curso de idiomas, já fiz inglês uma vez, e seria muito bom voltar.

Diogo – Queria fazer um curso de recursos humanos. É um curso caro, custa cerca de R$ 300, mas serve para tudo, é útil em qualquer emprego, acho que todo mundo deveria fazer.

Taiane – Queria fazer línguas e alguma coisa voltada para a cultura. Quero fazer produção cultural. Estava procurando algum curso gratuito na área de cultura, mas não tem. O que eu achei custa R$ 350, não dá para fazer. Os cursos gratuitos, em geral, são de informática.

Iara - Acho que os cursos necessários hoje em dia são informática e idiomas.

Alan – Minhas irmãs fizeram curso na Fundação São Martinho, todas fizeram estágio, mas tem que estar estudando. Eu, como parei de estudar, não pude fazer.

Como vocês se imaginam daqui a 10 anos?

Alan – Imagino que já estou com a minha lojinha, ganhando melhor, podendo dar tudo o que as minhas filhas precisam. Meu sonho é abrir um comércio, uma lojinha, pode ser de roupa, de comida, uma coisa que seja minha.

Vanessa – Já estarei independente, morando sozinha, terei terminado a fisioterapia e estarei fazendo cinema, que é o meu grande sonho. A fisioterapia é só uma forma de eu me manter financeiramente, mas vou curtir mesmo é quando puder fazer cinema.

Julio – Já terei terminado minha faculdade de estatística e estarei trabalhando numa grande empresa, como a Petrobras ou o IBGE.

Meriane – Não sei o que eu quero ser hoje, mas acho que até lá vou saber.

Gustavo – Estarei formado em Direito, e trabalhando. Se gostar mesmo, fico nisso, senão, mudo.

Diogo – Estarei dando aula de História e Geografia. Quero ajudar os jovens a terem uma formação política melhor. Como aconteceu comigo: quando estava na 6a série, foi um professor de Geografia que me despertou a curiosidade para política, ele foi perseguido na escola. Lembro dele até hoje. Também quero ser um exemplo para os estudantes. Quero dar aula em escola pública, não em colégio particular.

Taiane –  Quero ser campeã do mundo pela Seleção Brasileira de Futebol, quero jogar muito, se Deus quiser. Quero estar formada em Produção Cultural e continuar trabalhando aqui no Ibase, na minha área. Também quero casar, ter filhos. Sonho também em criar algum projeto social em que possa realmente ajudar as pessoas e que lembrem de mim para sempre.

Iara – Acabarei a faculdade de Direito daqui há dois anos e meio. Espero pode atuar  em prol dos movimentos sociais, nos sindicatos, movimentos de mulheres. Embora eu saiba que esse não é um campo de trabalho tão grande. Outra coisa que me interessa muito é trabalhar na Defensoria Pública, pois acho que é um dos órgãos governamentais que ficam mais próximos da realidade, mais próximo das pessoas.

Participaram do debate:

AnaCris Bittencourt e Jamile Chequer – Jornal da Cidadania/Ibase
Paulo Carrano (moderador) e  Raquel Júnia - Observatório Jovem
João Roberto Lopes – coordenador do Ibase convidado

A seguir, algumas dicas de pesquisa:

• Sobre o programa primeiro emprego do governo federal: www.mte.gov.br/FuturoTrabalhador/primeiroemprego/

• Sobre o Pró-Jovem: www.projovem.org.br

• Sobre o Curso Preparação para o Mundo do Trabalho, Fundação São Martinho: www.saomartinho.org.br

• Fundação para a Infância e a Adolescência (FIA): www.fia.rj.gov.br