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A centralidade do social: o pensamento e a ação da Professora Ana Clara Torres Ribeiro (IPPUR-LASTR/UFRJ).

Ana_Clara_Ciclo_Observatorio_Jovem_18_08_11_web.jpgPara tod@s companheir@s e amig@s das redes e movimentos sociais, do IPPUR e do LASTRO.

A centralidade do social: o pensamento e a ação da Professora Ana Clara Torres Ribeiro (IPPUR-LASTR/UFRJ).

Ana Clara Torres Ribeiro era nossa principal referência para pensarmos a construção do projeto político que leva em conta a componente social de classe, a relação entre poder e técnica, a produção social do espaço e a potencialidade material e subjetiva das práticas cotidianas desenvolvidas pelos sujeitos coletivos na cidade. Pesquisando sobre os conflitos, as demandas, as lutas, desenvolveu uma metodologia inovadora de modo a escutar as vozes das periferias. A sua abordagem teórica e prática permitia projetar as potencialidades emergentes da intelectualidade atuante e nascida nos circuitos da vida popular, desde os vetores das horizontalidades, desde onde a cidade é o terreno da contra-hegemonia.

Ana Clara buscava captar a energia das resistências e dos vetores horizontais das experiências cotidianas, desde onde emerge uma criatividade social e uma produção cultural sob a qual se lastreia e se desenha o mapa, a cartografia da guerra de movimento e da ação molecular dos oprimidos. Generosa com todas e todos, companheiros, amigos, pesquisadores, orientandos, alunos e estagiários, engajada e comprometida com as redes intelectuais de luta presentes nos territórios ditos periféricos. Na obra de Ana Clara a centralidade do social, como centralidade da periferia, emergia da consciência histórica e geográfica que atribuía força social e política para a cultura das classes populares. Ao plasmar suas formas de organização e associação nos territórios, a inteligência coletiva afirma-se em suas instituições, redes e movimentos, a partir dos quais podemos ver as forças transformadoras que agem pelo direito à cidade, desde as periferias, em resposta ao projeto da cidade neoliberal e das suas estratégias de contenção e controle social.

Nas lutas das classes subalternas Ana Clara via outra forma de apropriação das técnicas e do espaço, onde o território usado é marcado pelo tempo da ação dos homens e mulheres lentos, que geram a  conexão entre os circuitos produtivos e os vetores horizontais, os circuitos que desenham outra economia e outra política do novo valor de uso da autonomia, da cooperação e das resistências. No LASTRO uma base de pensamento e análise crítica se fazia através de processos de mapeamento das práticas.  Ana Clara apoiava suas análises na escuta polifônica que permitia tratar das conjunturas e processos que atravessavam as metrópoles, naquilo em que elas são laboratórios, campos de experiência, espaços de luta, onde a correlação de forças ganha localização na cartografia social e política das práticas das classes trabalhadoras e do povo. A nossa Professora e Mestre  Ana Clara Torres Ribeiro é referência nas disciplinas e ciências do espaço, referência na sociologia e na antropologia no Brasil e na América Latina, referência no Planejamento Urbano e Regional, intelectual orgânica pelo seu engajamento ético e político na luta pela emancipação dos oprimidos. A sua vida e sua obra servem de orientação para não nos perdermos nos descaminhos da mercadorização do conhecimento ou no pessimismo que desiste da luta, sua inteligência e otimismo permitiram que a intelectualidade brasileira, através do IPPUR e na UFRJ, tivesse no LASTRO  um ponto de encontro, reconhecido no campo do pensamento crítico latino-americano, reconhecido pelas redes sociais, privilégio para todos que com ela conviveram. A força de sua presença, a chama de sua inteligência e a sua memória estará para sempre registrada em nossa lembrança, nos seus escritos, nas suas pesquisas, livros e nos trabalhos coletivos que desenvolveu. Os efeitos teóricos e práticos do seu método estarão presentes na partitura de nossos “concertos e sinfonias”. As muitas equipes, núcleos, redes e grupos ligados ao seu trabalho têm o dever de difundir e sustentar a originalidade da sua obra, que articula a ciência e a arte da política da inteligência coletiva e do canto emancipatório que nasce do coro das multidões desde o Brasil e a América Latina, desde a periferia do planeta urbano no século XXI.

 

Rio, 14 de dezembro de 2011.

Pedro Cunca Bocaiúva

Leia também a nota do Observatório Jovem e do LASTRO