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De olho na mídia

De olho na mídia

Governo gasta em juros mais de 8 vezes o que aplica em educação

Os gastos do governo com pagamento de juros do endividamento público, entre 2000 e 2007, somaram R$ 1,268 trilhão, o que representa 8,5 vezes o dinheiro investido em educação no mesmo período, que foi de R$ 149,9 bilhões .

 

 

 

 

 

 

 

MEC quer tornar ensino médio obrigatório

O Ministério da Educação quer tornar obrigatório o ensino para crianças de quatro a 17 anos, o que abrangeria a pré-escola e o ensino médio. A proposta já foi encaminhada, por escrito, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo ministro Fernando Haddad (Educação)

 

Brasil tem um milhão de crianças viciadas

Pesquisa encomendada pela Associação Brasileira de Psiquiatria revela uma triste realidade. Chega a um milhão o número de crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos que apresentam sintomas de dependência química

Eles consomem álcool, merla, crack, maconha, solventes e outros entorpecentes; fogem de casa; servem a traficantes; roubam; abandonam a escola e transformam a vida dos pais e a deles num tormento cotidiano.

Analfabetismo é maior entre pessoas com mais de 25 anos, diz Ipea

Análise divulgada nesta terça-feira (14) pelo Instituto de Pesquisa Economica Aplicada (Ipea) revela que 90% dos analfabetos brasileiros têm mais de 25 anos. Só a população com 40 anos ou mais registrou, em 2007, o índice de 17,2% de analfabetos

 

Já na análise da população com 15 anos ou mais, os dados mostram que a taxa de analfabetismo caiu de 17,2%, em 1992, para 10%, em 2007. Entre os brasileiros com mais de 40 anos, a queda foi de 29,2%, em 1992, para 17,2% em 2007.

Professor do ensino básico terá bolsa em faculdade

O Ministério da Educação irá destinar no ano que vem R$ 1 bilhão para financiar a graduação e especialização de professores da educação básica em universidades públicas

Série de sucesso

O premiado filme "Entre os muros", de Laurent Cantet, retrata um ano letivo em uma classe de adolescentes na periferia de Paris

Os escolados

Sociólogo elogia proteção oferecida pela escola pública no Brasil, mas diz que falta de conteúdos prejudica a democracia

Brasil fica abaixo da média da América Latina em ranking de chances na escola

Um novo indicador calculado pelo Banco Mundial aponta que as oportunidades educativas oferecidas às crianças brasileiras são piores que a média latino-americana

 

 

As alucinantes noites dos camicases

Um novo perfil de paciente chega ao consultório dos infectologistas: jovens com menos de 25 anos que, embalados por álcool e drogas, deixam a camisinha de lado e se contaminam com o HIV
 

"Sempre soube da importância da camisinha. Minha mãe insistia para que eu nunca saísse de casa sem ela. Certa vez, na escola, uma professora demonstrou como usar o preservativo. Achei patético. Aquilo não era para mim. No fundo, achava que aids era coisa de gay. Aos 16 anos, no início da minha vida sexual, eu até usava camisinha, com medo de engravidar as meninas. Depois, desencanei por causa da bebida. Sob o efeito da cerveja e do uísque, aí é que a camisinha não saía mesmo do meu bolso. Meus amigos também agem assim. Há três semanas eu descobri que tenho o vírus HIV. É óbvio que eu tomei um susto. Mas agora estou mais tranqüilo. Daqui a uns dias vou começar a tomar o coquetel contra a aids. Sei que terei uma vida normal."

O relato do estudante paulistano A.K., de 21 anos, é aterrador. Impressiona pelo descaso com o sexo seguro e, agora, pelo modo como enfrenta a infecção pelo HIV. Ele não é uma exceção. Rapazes e moças como A.K. se tornaram figuras freqüentes nos consultórios dos grandes infectologistas brasileiros: jovens de classe média, com menos de 25 anos, contaminados pelo vírus da aids em baladas regadas a muito álcool e drogas. "Em 28 anos de consultório, nunca vi tamanho desdém pela proteção sexual", diz Artur Timerman, infectologista do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. "E esse descaso é provocado pelo abuso de bebidas alcoólicas e substâncias entorpecentes."

Oficialmente, a ocorrência de aids entre os jovens de 13 a 24 anos mantém-se estável nos últimos cinco anos. Eles representam 10% do total de infectados no país a cada ano, o que equivale a cerca de 3.000 casos. "Mas é urgente que essa rapaziada mude de comportamento já", alerta o infectologista David Uip, do Hospital Sírio-Libanês. "Do contrário, prevejo uma explosão da contaminação por HIV entre os jovens." Até recentemente, os portadores do vírus com menos de 25 anos que chegavam ao consultório de Uip eram, no máximo, três por ano. De 2007 para cá, o médico passou a atender, em média, um paciente com o mesmo perfil por mês. "Estou estarrecido com a postura camicase desses garotos", afirma o infectologista.

Em algumas situações, o comportamento irresponsável adquire contornos suicidas. Comum entre os gays americanos desde os anos 90, vem ganhando força no Brasil a prática do bare-backing, em que homossexuais masculinos se expõem voluntariamente ao vírus da aids em relações sem proteção. A expressão barebacking pode ser traduzida como "cavalgada sem sela". Nessa roleta-russa da aids, um portador do HIV é chamado a participar de uma orgia. Ele pode ou não receber dinheiro por isso. Quando é contratado, o valor fica em torno de 3.000 reais. Batizado de "gift" (presente, em inglês), o soropositivo não é identificado. Todos os outros convidados, porém, sabem que na festinha há pelo menos um portador do HIV – e se divertem com o risco de ser infectados. Essa maluquice é protagonizada, em geral, por homens de 16 a 30 anos. Aos 48 anos, R.F. está contaminado há quinze. Já participou de uma dezena de barebackings. Num deles, foi o "presente", mas pediu para ser identificado. "Apesar do lenço vermelho amarrado no braço, o que denunciava o HIV, muitos quiseram ter relações comigo sem camisinha", conta R.F. 

As drogas que alavancam o comportamento sexual irresponsável – tanto de homossexuais como de heterossexuais – podem ser pesadíssimas. Além da onipresente cocaína, consome-se bastante o chamado special K, um anestésico de cavalo com efeito alucinógeno arrebatador. Outra droga que começa a despontar no Brasil é o crystal. Derivado da anfetamina, ele é muito comum nas festas gays. Nos Estados Unidos, onde o seu uso está amplamente disseminado, o crystal é alvo de campanhas antiaids por favorecer enormemente o sexo sem proteção. Um estudo publicado no Journal of Acquired Immune Deficiency Syndromes mostra que o crystal aumenta em 46% o risco de infecção pelo HIV. O álcool, por sua vez, quando consumido em excesso, quintuplica a probabilidade de um jovem fazer sexo sem proteção.

Com a palavra a gaúcha C.A., secretária de 28 anos:
"O abuso de bebida na adolescência me levou a ter aids. Quando completei 18 anos, conheci um cara que adorava beber e eu passei a acompanhá-lo nas bebedeiras. A partir do nosso terceiro encontro, abandonei o preservativo. O álcool distorcia a minha visão da realidade. Dois meses depois do início do relacionamento, nós nos separamos. Sete anos mais tarde, por causa de uma febre alta que não cedia, descobri que estava com aids. Desconfio que peguei a doença daquele namorado. Mas não tenho certeza porque depois dele voltei a fazer sexo sem proteção. Infelizmente, existe a possibilidade de eu ter infectado outras pessoas sem saber".

Um estudo conduzido pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo revela que 44% dos brasileiros recém-diagnosticados com HIV (14.000 pessoas ao ano, segundo as estatísticas oficiais) só descobrem a infecção com a manifestação dos primeiros sintomas da doença, como aconteceu com a secretária C.A. Em média, da infecção aos primeiros sinais da doença transcorrem sete anos. Ou seja, ao longo de todo esse período, homens e mulheres infectados podem pôr a vida de outras pessoas em risco – além da sua própria.

Graças à evolução dos coquetéis de remédios, os jovens de hoje formam a primeira geração que não presenciou a devastação causada pelo HIV nos anos 80. "Para essa juventude, a aids parece ser uma realidade distante", diz o sanitarista Alexandre Grangeiro, coordenador do trabalho da USP. "Além disso, como os retrovirais estão mais eficazes, os jovens superestimam os efeitos dos medicamentos e acreditam que podem tratar a aids como um mal crônico qualquer." De fato, tais remédios têm tudo para garantir uma longa vida ao jovem A.K., o estudante de 21 anos que acaba de se descobrir portador do HIV. A "normalidade" que ele imagina, no entanto, é uma ilusão. Apesar de todos os progressos na área farmacêutica, conviver com o HIV não é tão simples assim. Os remédios só fazem efeito se tomados à risca, apresentam efeitos colaterais desagradáveis e a quantidade pode chegar a nove comprimidos diários. O melhor é não ter de tomá-los. Muito melhor é ter responsabilidade.

Saiba mais

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Política social reduz a pobreza mas não o racismo

A Síntese dos Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada anteontem, mostra que, apesar das políticas afirmativas isoladas de universidades, que passaram a destinar uma cota de vagas a estudantes pretos e pardos, o país não é menos racista


Embora tenha aumentado o acesso ao curso superior para o grupo de brancos e também para o de negros (que, na terminologia técnica, é composto por pretos e pardos), entre 1997 e 2007, o hiato entre ambos em 1997 era de 7,4 pontos percentuais; no ano passado, aumentou para 9,4. Segundo o IBGE, no Brasil 9% dos jovens têm terceiro grau completo; 13,4% dos brancos cursaram a universidade e apenas 4% do grupo de pretos e pardos têm um curso superior. No grupo de jovens brancos com 21 anos, 24,4% fazem uma faculdade; na mesma faixa de idade dos negros, são apenas 8,4%.

Quando uma pessoa branca com 12 anos ou mais de estudos está no mercado de trabalho, ela pode receber 40% mais do que um negro (preto ou pardo) com a mesma formação e exercendo a mesma função. Como era de se esperar nessas condições, somente 12% do grupo de pretos e pardos está entre o 1% mais rico da população. Eles são, todavia, 73,9% dos 10% mais pobres.

A desigualdade racial, mostra o IBGE, não respondeu às políticas de distribuição de renda. É uma discussão paralisante a de se os negros não ascendem socialmente porque são negros ou porque são pobres. O fato indiscutível é que existe um apartheid não declarado na sociedade brasileira: é mais difícil o acesso do negro à educação; há diferença de remuneração entre os grupos de pessoas brancas e pretas e pobres; os negros são os mais pobres. As políticas afirmativas, até agora restritas a decisões isoladas de universidades, não têm se mostrado suficientes para que o país transponha uma cultura escravista que mantém os negros à margem da sociedade.

Da mesma forma, se as políticas compensatórias de renda reduziram a pobreza extrema, também não deram conta da vulnerabilidade das crianças brasileiras. Elas ainda são, proporcionalmente, a parte da população que mais vive abaixo da linha da pobreza. O Bolsa Família repercutiu, de fato, no número de famílias que vivem abaixo da linha da pobreza: representavam 31,8% dos domicílios em 2002 e no ano passado eram 23,5%. Ainda assim, pelos números do IBGE, as famílias pobres, em especial as que vivem no meio rural e no Nordeste, são mais dependentes da renda da aposentadoria e pensão. Em mais da metade dos domicílios onde vivem pessoas com mais de 60 anos, elas são responsáveis por até 90% da renda familiar. Em 13,5% dos domicílios brasileiros existe pelo menos um idoso. Segundo a síntese, 67,3% das famílias na zona rural dependem da renda dos idosos, e 63,5% dos domicílios do Nordeste estão na mesma situação. Por esses números, o Benefício de Prestação Continuada instituído pela Constituição de 1988 tem um peso como política compensatória de renda ainda não superado pelo Bolsa Família - e a criança se mantém como o elo mais frágil do tecido social, apesar de estar melhor amparada do que antes da universalização do programa.

A pesquisa do IBGE também expõe, em números, o que o Brasil intuitivamente já sabe: a educação pode ser um elemento de inclusão da população miserável, mas a qualidade da educação pública pode torná-la igualmente um instrumento de exclusão. O número de analfabetos na população de 8 a 14 anos é assustador: são 1,3 milhão de crianças e jovens, sendo que 84,5% deles estão matriculados em alguma série do ensino fundamental ou médio. Isto é: enquanto se dá como definitiva a universalização do ensino básico, tem-se como um dado dessa universalização analfabetos que freqüentam a escola e podem chegar até o ensino médio sem que saibam ler ou escrever. Também no campo essa realidade é mais dura: existem três vezes mais analfabetos na zona rural que nas cidades.

É um cenário pouco animador, sem dúvida, mas a universalização do ensino, com todas as deficiências que ainda existem, é um passo importante. O IBGE acusa um resultado importante de redução da taxa de analfabetismo de adultos (pessoas com mais de 15 anos), que era de 14,7% em 1997 e caiu para 10% em 2007. Não é nenhuma taxa de Primeiro Mundo, mas o Brasil tem andado.

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