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Reportagens

Reportagens

Assista ao mais recente documentário do Observatório Jovem

O mais recente filme do Observatório Jovem "Bracuí: velhas lutas, jovens histórias” já pode ser assistido on line

O filme pode ser assistido na ítegra através do link:
http://www.uff.br/pos_educacao/joomla/index.php?option=com_content&task=view&id=327&Itemid=48

Ficha técnica
Título: Bracuí – Velhas Lutas Jovens Histórias
Categoria: Documentário 
Realização: Observatório Jovem do Rio de Janeiro (Programa de Pós-Graduação em Educação/UFF)
Direção Acadêmica: Paulo Carrano
Produção e Filmagem: Ana Karina Brenner, Elaine Monteiro, Isabel Veiga, Juliana Milheiro, Lila Almendra, Luciano Dayrell, Paulo Carrano
Edição: Isabel Veiga, Lila Almendra, Luciano Dayrell, Paulo Carrano
Finalização de Áudio: Estúdio Umuarama.
Duração: 43 minutos
Formato: Digital / Mini-dv
 
Realização
Observatório Jovem do Rio de Janeiro
Programa de Pós-Graduação em Educação/UFF
 
Apoio
CNPq/PIBIC/UFF
FAPERJ

Leia mais e assista o trailler em:
http://www.uff.br/obsjovem/mambo/index.php?option=com_content&task=view&id=353&Itemid=23

Ensino médio: quem sabe o que é?

“Os direitos da juventude são um campo ainda em construção. Precisamos constituir os direitos primeiro, para que possamos nos preocupar em defendê-los”

Durante o “Seminário: Juventude e Iniciação Científica, Políticas Públicas para o Ensino Médio” , ocorrido no dia 06/11 na UFRJ, a pesquisadora Ana Paula Corti não teve medo de criticar governos ao falar sobre o Ensino Médio no país. Segundo Ana Paula, uma lógica perversa faz jovens entrarem e saírem do ensino médio sem entender as razões de cursá-lo.

Para muitos, visto como uma possibilidade de se preparar para o mercado de trabalho, o ensino médio precisa ser repensado. Uma  nova lógica deve ser seguida, que não o coloque como extensão do ensino fundamental ou como ponte para o ensino superior. Pois, assim como as outras fases do ensino, este tem, ou deveria ter, sua própria finalidade.

Corti explicou que diferente do ensino fundamental, a legislação não prevê a obrigatoriedade da oferta de ensino médio para todos, mas sim sua progressiva expansão. O que foi mostrado como um exemplo da falta de preocupação do poder público com os jovens, que se reflete na ausência de Políticas Públicas de Juventude efetivas para o setor.

Questões específicas do Ensino Médio devem ser pensadas por jovens, com jovens e para os jovens, afirma a pesquisadora.  Uma delas é o fato de a maioria dos jovens brasileiros trabalharem a partir dos 14/15 anos, o que contribui para a superlotação dos  cursos médios noturnos. A especificidade não se dá só no horário, mas no perfil do aluno, que, cansado com o trabalho de um dia inteiro, tem mais dificuldade de acompanhar aulas expositivas.

Mas, o que motivaria então os jovens para entrar no Ensino Médio? Pra que ele serviria?

Perguntas como essa foram feitas 880 estudantes de cinco escolas públicas da periferia de São Paulo, em uma pesquisa coordenada pela ONG Ação Educativa, no ano de 2007 (resultados apresentados em primeira mão aqui no Observatório Jovem).

Para os jovens que responderam aos questionários quantitativos, ou participaram dos grupo de trabalho (pesquisa qualitativa) não há ruptura entre ensino fundamental e médio. Os espaços são os mesmos, o modelo também.

Os estudantes revelaram que, quando entraram no ensino médio, 43% esperavam ser preparados para o mercado de trabalho, enquanto 25% queriam uma melhor preparação para o vestibular. Há ainda, de forma menos expressiva, aqueles que ingressaram com a expectativa de obter uma maior cidadania (8%).

Porém, após o ingresso, a ordem se inverteu, a maior parte dos entrevistados acha que o ensino médio privilegia a entrada no ensino superior (21%), enquanto 17% acham que o ensino médio está mais voltado para a preparação para o mercado de  trabalho. O dado mais impressionante é que 13% dos jovens disseram que não vêem nenhuma atividade ser desempenhada no ensino médio. Isso pode servir como exemplo para mostrar que a falta de clareza que as políticas têm acerca do ensino médio reflete-se na visão que os próprios jovens elaboram sobre a qualidade de suas presenças neste nível de ensino. 

As diferenças notadas mais fortemente pelos jovens são, na verdade, um acirramento do modelo do ensino fundamental, como o maior número de matérias, uma maior exigência, a maior presença de aulas teóricas. Quanto às relações estabelecidas no colégio, os jovens mostraram bem as diferenças existentes na relação professor-aluno.

Segundo os dados da pesquisa, no ensino médio, existe um maior afastamento entre professores e estudantes. Esse afastamento é sentido pelos alunos principalmente nos conflitos constantes com seus professores, conforme apontaram na pesquisa.  Ana Paula Corti alerta para a importância de se estabelecer uma outra dinâmica de ensino médio que deve ser pensando como uma escola para jovens e não uma extensão do ensino para crianças ou para adolescentes.

Saiba mais sobre o ensino médio no Brasil

Dados de 2005 da Pesquisa Nacional por amostragem de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e de Estatística – PNAD/IBGE indicam que do total da população na faixa etária entre 15 e 19 anos [18 milhões], apenas 45% [cerca de 4 milhões de jovens] encontravam-se matriculados neste nível de ensino. (fonte MEC – 08/11/2007)

Ensino Médio integrado à Educação Profissional - Maio de 2006 (Programa Salto para o futuro - TVE)
http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2006/em/index.htm

Ensino Médio: entre jovens e estudantes - 24/05 a 28/05 (Programa Salto para o futuro - TVE)
http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2004/em/index.htm

Ensino Médio no Brasil Ganha Maior Análise já Feita em Pesquisa
http://www.unesco.org.br/noticias/revista_ant/noticias2003/ensino_medio_final/mostra_documento

As comunidades tradicionais

Como se classificam as Comunidades Tradicionais? Para o governo federal, estes povos devem se organizar de forma distinta, ocupar e usar territórios e recursos naturais para manter a sua cultura, mas será que é só isso?

Estudantes secundaristas reúnem 500 para comemorar o dia do estudante em Niterói

Estudantes que seguiam o caminhão de som fecharam meia pista das principais ruas de Niterói. Em comemoração adiantada ao dia do estudante (11 de agosto) meninos e meninas reivindicaram os próprios direitos e se divertiram no centro da cidade. De cima do caminhão foram entoadas músicas de protesto pelo passe livre, contra o governador Sergio Cabral e pela união entre alunos da rede pública e privada

A Passeata começou no Liceu Provincial de Niterói, no final da Avenida Amaral Peixoto e seguiu com o caminhão de som, cedido pela CUT, pela Avenida Visconde do Rio Branco até o Colégio Estadual Raul Vidal. Na porta do colégio exigiram que os alunos da instituição fossem liberados para participar da passeata. Um dos coordenadores gerais da União Niteroiense dos Estudantes Secundaristas (UNES), Edino Ribeiro, de cima do caminhão de som falava sobre o direito à manifestação do qual os estudantes não poderiam ser privados. Após negociação que durou 15 minutos, alguns estudantes foram liberados das aulas e recebidos com aplauso dos colegas que estavam do lado de fora.

Em setembro/outubro a UNES vai ter a primeira eleição direta de sua história. A organização da passeata foi uma forma de dar visibilidade à entidade. Segundo a estudante Priscila Mendonça, 13 anos, há três semanas as paredes do colégio em que estuda estão cheias de cartazes chamando os alunos do ensino médio para a passeata.

Quando o microfone não estava sendo usado, o que saía das enormes caixas de som do carro que guiava os estudantes era o funk, que animava os jovens. Segundo Natália Cindra, coordenadora geral da UNES, “O ato serve também para mostrar que essa juventude que milita no Movimento Estudantil não é careta. Para comemorar o dia 11, saímos em passeata, que reflete nossa luta, mas também organizamos o momento de shows que vai ter depois. Vamos mostrar que o Movimento Estudantil é cultura. A UNE (União Nacional dos Estudantes) está nesse movimento de resgate, com seus Centros Populares de Cultura e nós não vamos ficar de fora dessa.”

Com o apoio da prefeitura de Niterói, do vereador Leonardo Jordano, do dep estadual Rodrigo Neves, a Praça do Rink, no centro, ficou cheia de estudantes que se dirigiram para lá, já sem o caminhão de som. Os políticos presentes fizeram falas, assim como representantes da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), UNES e da ONG Cidadania e Movimento.

Estudantes falavam sobre a importância da organização da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da UBES para se posicionar frente ao Plano do Desenvolvimento da Educação (PDE) quando os estudantes começaram a esvaziar a praça. O show da primeira banda contou com a presença de 180 jovens reunidos em volta do palco.

Estavam presentes alunos dos colégios estaduais Manuel de Abreu, Alcina Rodrigues, Joaquim Távora, Paulo Assis Ribeiro, Aurelino Leal, Henrique Laje, além dos estudantes do Colégio Municipal Onorina de Carvalho e do Grêmio do colégio Abel, único colégio particular presente na passeata.

Missa em memória da Chacina da Candelária termina em ato no centro do Rio de Janeiro

Hoje, dia 23 de julho, em frente à igreja da Candelária, crianças e adolescentes seguravam faixas pedindo por paz. Paz pode parecer algo impossível no centro do Rio de Janeiro. As buzinas dos carros, os apitos dos guardas, as sirenes, a correria dos trabalhadores. Porém, dentro da igreja, os manifestantes puderam entender, no mínimo por uma hora, o que quer dizer aquela palavra escrita nos cartazes que pendiam na porta

Não se via nenhum banco vazio na parte interna da igreja. A missa era em recordação dos 14 anos da Chacina da Candelária, onde oito crianças e adolescentes foram brutalmente assassinados por policiais militares enquanto dormiam em frente à igreja. Cartazes contrários à redução da maioridade penal foram estendidos no chão da igreja durante a celebração.

Fotos: Fábio Caffé / Imagens do Povo / Viva FavelaCheia de crianças, o cenário bem poderia ser de uma missa de primeira comunhão, se não fosse a falta de sapatos e as camisetas de instituições de educação. Meninas e meninos corriam de um lado para o outro, perguntavam, olhavam com atenção e queriam mexer em tudo. Afinal, não é assim que devem ser as crianças saudáveis?

Perguntei a um menino que estava lá, chamado André César, que tinha 13 anos e era residente da Casa-Residência São Pedro, da Associação Beneficente São Martinho, porque eles estavam lá. O garoto me respondeu com um enorme sorriso no rosto: “A gente veio aqui para rezar, estamos na igreja.” Muitos da idade de André seguravam os cartazes com dizeres de não à redução da maioridade penal. Muitos destes não sabiam o que estava escrito nas faixas, afinal,  não deve ser uma luta das crianças, mas sim, uma luta pelas crianças.

Disse o padre José Algares durante a celebração, “devemos dar às crianças a chance de serem crianças.” Elas devem ser crianças e se preocupar com as dificuldades de ser criança. Quais afinal devem ser os problemas de uma criança? Falta de comida, falta de brinquedo, falta de carinho e compreensão por parte de toda a sociedade, que pretende sacrificar mais alguns em prol da distante idéia de segurança?

Para o padre, todos estavam ali para recordar uma triste tragédia. Estavam ali unidos para orar pelas vítimasFotos: Fábio Caffé / Imagens do Povo / Viva Favela da chacina da candelária, assim como pelos causadores das vítimas. Mas além das orações, o padre pediu que todos fossem atrás de soluções. A missa e o ato foram uma contribuição da sociedade para que as autoridades competentes façam da lei um instrumento de justiça, para que todas as pessoas possam viver com dignidade.
 
Encarregado por fazer manutenções na igreja, Manuel Conceição dos Santos fugia de sua função e ensinava a alguns meninos sobre as relíquias sobre as quais eles corriam. Ao ser questionado sobre o ato, Manuel disse apóia-lo, pois para ele os políticos têm que falar menos e agir mais. Para ele, os políticos se aproveitam de momentos de comoção para aparecer na TV oferecendo soluções simples para os problemas do povo.

O Presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Infância, Siro Darlan, chamou a atenção para a parcela de culpa da mídia no risco da redução da maioridade penal. Segundo Darlan, a grande imprensa, tenta conduzir a opinião pública a achar que as crianças, ao invés de vítimas, são autores da violência.

Para comemorar os 17 anos da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, crianças levavam exemplares do ECA e faixas com os direitos das crianças ao altar no momento das oferendas, enquanto a música que tocava dizia: reparem nossas mão abertas trazendo as ofertas.

Fotos: Fábio Caffé / Imagens do Povo / Viva FavelaOrações e falas de militantes de movimentos sociais clamavam conscientização e discussão de fato. A violência foi mostrada como um dos maiores problemas do Rio de Janeiro, mas o grande problema visto é este tema ter sido tratado com muita superficialidade. O menino João Hélio Fernandes  Vieites também foi lembrado, como mais uma criança, vítima do mesmo problema social que resultou na morte dos oito meninos da candelária.

Após a missa, os manifestantes organizaram um ato, que contou com intervenções artísticas de grupos de circo e de bateria. Com aproximadamente 800 pessoas, o ato, que fechou três pistas da Av. Rio Branco, Seguiu da Candelária até a Cinelândia, onde os manifestantes protestaram, a favor dos direitos humanos e contra a redução da maioridade penal, em frente à Câmara dos Vereadores.

Veja aqui vídeo produzido durante o ato : http://www.youtube.com/watch?v=O9UkEB_hxN8

Jovens de todo o país discutem a Maioridade Penal

Nos dias 16 e 17 de junho, mais de 40 jovens formaram um círculo para debater a redução da maioridade penal.  Representantes de veículos de comunicação alternativa, movimentos sociais e ONGs, realizaram a oficina contra a redução da maioridade penal na ONG Viva Rio

 A oficina contou com as ilustres presenças de: Marcelo Freixo, Dep. Estadual; Sidney Teles da Silva, ex-diretor do DEGASE; Márcia Ustra Soares, representante da Secretaria Especial dos Direitos Humanos; Antonio Carlos Gomes da Costa, ganhador do premio nacional de Direitos Humanos de 1998; e Jacques Schwarzstein, representante do UNICEF, foi aberto o encontro.

O assunto tem permeado as páginas dos jornais há tempos, porém, nenhuma discussão efetiva foi realizada. Foi consenso no grupo que toda a propaganda feita para a redução baseia-se no lado emotivo e que por isso é forte, mas não tem base para uma real discussão. Na fala de Freixo a crítica à forma como tem sido feita a segurança no estado do Rio de Janeiro ficou bem clara. Segundo o deputado, o governo confunde política de segurança com ação policial.

Com a presença de tantos representantes da chamada mídia jovem e alternativa, a análise à cobertura que a imprensa de massa tem feito sobre a questão da violência foi inevitável. O tratamento da violência com o uso de termos como “guerra civil” fazem com que o cidadão se force a “escolher um lado” sem nem discutir as raízes do problema.

Segundo Márcia Ustra, os jornais mostram como se “o tráfico fosse o mal do mundo e estivesse personificado na figura do adolescente infrator.” Porém apenas 9% dos jovens internos no sistema sócio educativo brasileiro foram condenados por tráfico, 19% são detidos por homicídio, enquanto quase a metade (49%) cometeram crimes contra o patrimônio (dano, furto, roubo, extorsão, usurpação,  estelionato e outras fraudes).

O pedagogo Antonio Carlos Gomes da Costa, um dos formuladores e redatores do Estatuto da Criança e do Adolescente, ressaltou aos presentes que o ECA jamais foi cumprido em sua plenitude. Para ele, modificar o estatuto não afetará a segurança do país. Segundo Antonio, o ECA é um tratado de direitos humanos e estes são universais, específicos e indivisíveis.

Os jovens, a mídia e a educação

O abismo cultural entre as gerações torna-se ainda mais evidente quando as atenções se voltam para as relações destas com a tecnologia. Os pais e os professores precisam acompanhar um ritmo que não lhes é comum. Com isso, a falta de parâmetros parece incomodar os jovens, que são obrigados a galgar, sozinhos, seus caminhos no universo virtual 

Basta pegar o mouse e começar a clicar para navegar na internet. A cultura digital tem como grande aliado a aprendizagem instantânea e auto-didática. Com isso, a brecha entre gerações com relação ao domínio da tecnologia tem aumentado. Não há controle, tanto por parte da escola quanto por parte dos pais, sobre o conteúdo acessado e produzido por seus filhos e alunos. Na projeto de pesquisa chamado Mediappro(linke pra http://www.mediappro.org) (Media Appropriation), 7.393 jovens de nove países europeus responderam a questionários que analisavam suas opiniões e atuações sobre a apropriação dos novos meios de comunicação.

Um fato impressionante é que os jovens afirmaram não receber qualquer tipo de orientação de seus pais ou professores sobre como usar a internet. O controle existe até a criança completar, aproximadamente, dez anos. Na juventude então, os jovens acabam por ensinar aos adultos como usar computadores e celulares. A única recomendação feita pelos pais é quanto ao tempo que os jovens passam em frente à tela. Tal falta de controle é sentida de forma negativa pelos jovens. Em entrevistas pessoais, desenvolvidas ao longo da pesquisa os jovens verbalizaram a necessidade de parâmetros.

Muitos se dizem seguros quanto à internet, uma vez que 79% declararam-se “espertos”. Porém, apenas 52% disseram saber “filtrar” as informações vindas dos sites de pesquisa como o Google. Membro do Mediappro, o professor Pier Cessare Rivoltella, da Universidade Católica de Milão, ministrou, na Pontífica Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), uma palestra sobre os resultados da pesquisa.

Rivoltella chamou a atenção para quatro pontos importantes que são modificados no conjunto sociocultural do que ele chamou de “sociedade multi-ecra” (multi-telas, ou seja, na qual nos relacionamos através de diversas telas, na era da mídia digital). Essa multiplicação de telas (meios de comunicação) quer dizer que as fontes de informação se multiplicaram, que a atenção e a possibilidade de construção da subjetividade se desloca. Essa multiplicação de espaços d conhecimento vai produzir uma mudança mto forte nos comportamentos dos jovens, que a psicologia chama de Multitasking (multitarefas).

As quatro grandes mudanças

Relação entre imagem e sua referência.
Atrás dos ecras (telas) fica mais difícil de identificar qual é a real referencia das imagens, conteúdos e informações. Nas praticas de conhecimento dos alunos é cada vez mais difícil de fazer entender “o próprio pensamento e o pensamento de quem é citado”. A facilidade de copiar coisas da internet e colá-las num trabalho pessoal dificulta a diferenciação entre “o que é meu e o que não o é”.

Relação entre Interno e Externo.
Diz respeito aos limites entre espaço publico e espaço privado. Tempo/espaço do lazer e tempo/espaço do trabalho. Além da necessidade de compartilhar o mesmo tempo e mesmo espaço, nós temos um deslocamento do trabalho no espaço e tempo que antes eram do lazer. Onde acaba o interno e começa o externo? Com o telefone celular é ainda mais simples de ver isso, como em conversas pessoais num espaço público; ou ainda, ao deixar o celular ligado dentro de casa e receber ligações sobre o trabalho.

A diferença entre o que é humano e o que é não-humano.
Podemos citar o caso dos agentes inteligentes, dispositivos semi-automáticos que ajudam nossas pesquisas na web. Um mecanismo de pesquisa que aprende sobre nossas buscas e arruma um perfil de como ele nos vê. A cada vez que entramos de novo no site de pesquisa ele pega mais informações sobre nós e nos oferece aquilo que ele “acha” que vamos “gostar mais”. Fica difícil diferenciar o trabalho humano do trabalho da máquina.

Ordem da visão e ordem da ação.
O Second Life é, hoje, o ambiente tridimensional mais desenvolvido. Não é um espaço de jogo tridimensional virtual. Second Life é, na verdade, outra dimensão, na qual a gente compra, vende e arruma situações. Antes da chegada das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) visão e ação eram bem diferenciadas, hoje em dia disputam o mesmo espaço. Eu posso fazer coisas num espaço que anteriormente eu só podia olhar, torna-se um espaço pragmático.

Onde os jovens têm acesso aos novos meios?

O acesso à internet se dá 80% em casa, 22% disseram nunca, ou raramente, fazer uso da internet na escola.  Estudantes confessam sentir dificuldade em tornar-se íntimos da rede ao ter acesso apenas durante as aulas das chamadas TICs.  As novas tecnologias se focam nessa aula, ficam restritas ao uso didático e não pessoal. Jovens aprendem a usar a tecnologia, mas não a associam com a comunicação. Vale à pena lembrar que a pesquisa foi feita na Europa, em países tecnologicamente superiores ao Brasil.

Recomendações a pais e professores foram feitas pelos organizadores da pesquisa. Orientações de como as TICs  deveriam ser agregadas pela escola e na totalidade da educação dos jovens. Segundo os pesquisadores, pais e professores devem ser guiados e encorajados a desenvolver a habilidade das crianças e jovens para a leitura crítica, mais do que enfatizar e proibir práticas ou o uso de certos programas de computador.

Os pesquisadores recomendaram uma maior conversação e abertura da parte dos pais e mestres para que estes se esclareçam e aconselhem jovens sobre como lidar com seus relacionamentos online e offline. Para os realizadores da pesquisa as escolas deveriam reconhecer que crianças e jovens podem ter experiências positivas e valiosas em jogos e vivências virtuais e isto deveria ser reconhecido em seus currículos.

Qual o lugar do professor?

Em entrevista publicada na revista ISTOÉ o senador Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação deu seu parecer sobre a importância do professor mediante as novas tecnologias: “O menino que navegou à noite na internet chega à aula, de manhã, sabendo de coisas que o professor desconhece. O ator principal não é mais o professor. São o professor, o aluno e a mídia. Ele não é mais o dono do saber, nem da informação.”

Para Cristovam “Ele (o professor) tem de estar ciente que ele não sabe da última coisa. O que ele aprendeu na universidade valeu até aquele dia, daí tem que aprender de novo. Segundo: precisa compreender que o aluno pode estar fazendo coisas que ele não domina. Terceiro: reconhecer seus limites, se não for capaz de usar os recursos novos. O professor que simplesmente não quer usar o computador é como um médico que prefere não usar uma tomografia computadorizada, o professor tem de aprender a mexer com o computador.”

Dos poucos que sabem, o muito que fazem

Os jovens têm preenchido muitos espaços da produção independente brasileira. Na internet, sites como o Fazendo Media (www.fazendomedia.com) e o Centro de Mídia Independente (www.midiaindependente.org), têm crescido muito, tanto em número de acessos, quanto em conteúdo. O espaço para o jovem na rede é ilimitado, uma vez que este tenha acesso à tecnologia.

Não só atrás das telas, os jovens têm se mobilizado bastante na produção de conteúdos para rádios livres. No site http://www.radiolivre.org/ você pode acessar e ouvir uma a programação feita por jovens de todo o país, todos com um objetivo comum, ouvir e se fazer ouvir. Ainda no rádio digital, podemos falar da revista da Agência Pulsar (http://www.brasil.agenciapulsar.org/revista.php), com edições mensais, é toda produzida por estudantes na faixa dos vinte anos.

Novas regras para Classificação Indicativa entram em vigor hoje

Hoje (12 de julho) as novas regras da classificação indicativa entram em vigor. Anunciadas ontem pelo secretário Nacional de Justiça, Antonio Carlos Biscaia, as regras anteriormente apresentadas foram alteradas em pontos referentes ao poder das próprias emissoras sobre seus conteúdos. O Ministério extinguiu a análise prévia de obras audiovisuais para televisão. As emissoras deverão fazer a autoclassificação de seus programas e encaminhar ao Ministério da Justiça

A expressão "terminantemente vedada a veiculação em horário diferente do indicado pela Classificação" foi retirada da portaria. Segundo Biscaia, em caso de divergência entre a classificação apresentada pelo Departamento de Classificação e a dada pela emissora, esta poderá apresentar um recurso. Caso as divergências não sejam esclarecidas o Ministério da Justiça encaminhará a questão ao Ministério Público, que poderá entrar com uma ação judicial contra a emissora. “Somente o Judiciário pode determinar punições com base no Estatuto da Criança e do Adolescente”, disse o secretário.

Um ponto que toca diretamente o mercado das retransmissoras das grandes televisões foi mantido pelo Ministério. Segundo a nova portaria, o fuso horário deve ser respeitado em qualquer instância, uma vez que as crianças do norte e Nordeste do país também devem ser protegidas da exposição de conteúdos inadequados. A medida está prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente desde 1990 e não cumpri-la, segundo documento publicado no site do Ministério da Justiça, pode ser classificado como discriminação.

Opiniões sobre a construção da nova portaria


 O Jornalista Alberto Dines, em Comentário para o programa radiofônico do Observatório da Imprensa de hoje ressaltou que: O que não pode ser esquecido neste episódio é o jogo pesado adotado pelas empresas de TV capitaneadas pela Globo. Aqueles anúncios de página inteira nos principais jornais do país reproduzindo o manifesto assinado pelos astros e estrelas das telinhas contra uma classificação de programas que existe em todos os países mostra que as concessionárias de radiodifusão estão somente interessadas em servir aos seus próprios interesses, e não ao interesse público.

Em matéria no Folha Online o sociólogo e professor de comunicação da USP Laurindo Lalo Leal Filho escreveu apoiando a iniciativa do governo sobre a classificação indicativa. Para o professor, “É inadmissível que algo tão delicado como é a exposição de crianças e jovens a cenas incompatíveis com os respectivos desenvolvimentos físico e mental fique a critério exclusivo dos empresários da comunicação.”

Com mudanças pautadas pelos grandes meios de comunicação e discutidas com o próprio Ministério e organizações da sociedade civil a Classificação Indicativa foi implantada. Porém, o resultado dessa medida só poderá ser visto em, no mínimo, 12 anos.

Conheça a nova portaria sobre a Classificação Indicativa 

 

Para a TV por assinatura não houve muitas restrições. Por estas disponibilizarem dispositivos para que os pais possam cancelar ou bloquear os canais que julgam impróprios para seus filhos, a única restrição imposta foi que também devem, obrigatoriamente, veicular a classificação indicativa de sua programação. Foi ressaltado também que, se a TV aberta também disponibilizar os dispositivos de bloqueio, a medida de restrição de horários será retirada.

O manual da Classificação Indicativa

O Ministério da Justiça e a Agência Nacional dos Direitos da Infância assinam O Manual da Nova Classificação Indicativa. Segundo o manual, a classificação é fundamentada na análise dos temas – Violência e Sexo – e, do chamado pelo manual de “sub-tema”, Drogas. A dificuldade da análise está explicitada no documento, onde é explicado que a análise tem que ser feita de forma profunda, para que questões importantes, como as diversas formas de violência psicológica e/ou simbólica e a exposição das minorias políticas a situações humilhantes, constrangedoras ou degradantes não sejam deixadas de lado.

Para além da questão simples de classificar cenas “chocantes” ou não, há a necessidade de uma análise semiótica dos materiais a serem transmitidos, uma vez que diferentes abordagens dadas ao mesmo conteúdo poderá o tornar saudável ou prejudicial. Consta no manual que “Assim, é essencial que sejam considerados, no momento da classificação, os conteúdos ditos “positivos” – ou seja, as adequações.” Uma cena não poderá ser analisada fora do contexto da obra em foco.

Religião é opinião?

Como os jovens têm lidado com a religiosidade? Como, num mundo cada vez mais individualista, os jovens podem se integrar num grupo religioso? Entre esses questionamentos foi traçada a reportagem do mês de maio no Observatório Jovem, que traz como tema do mês O jovem e a Religião

"Religião não se discute"  mas, parece que a juventude tem ignorado certos ditados. Segundo pesquisa feita sobre o tema juventude e religião, publicada no livro Retratos da Juventude Brasileira (Fundação Perseu Abramo – 2005), o tema encontra-se em terceiro lugar no ranking de assuntos que os jovens mais gostariam de discutir com seus pais ou responsáveis. Acima de assuntos de grande importância e visibilidade, como saúde e relacionamentos amorosos. Todo esse interesse por religiosidade tem entre suas causas o surgimento de novas religiões por todo o país.

Foto - Marcos de VasconcellosMesmo com o nascimento de religiões voltadas unicamente para a juventude, a distribuição dos jovens entre as religiões segue o resto da população. A enorme maioria é composta de jovens católicos, seguidos por evangélicos e protestantes, que, juntos, representam menos de um quarto da juventude. Os espíritas (kardecistas, umbandistas e candomblecistas) somam 3% do total de jovens. As outras religiões, ainda menos conhecidas, reúnem 2% da juventude. Enquanto os  ateus e agnósticos dividem apenas 1% do público jovem, os que acreditam em Deus sem possuir religião já somam 10%, o que é um dado impressionante.

Esses jovens que se dizem sem religião estão divididos entre os que realmente não possuem uma religião e os que são praticantes de mais de uma religião ao mesmo tempo. Os motivos que levam o jovem à igreja são muito diferentes dos que levaram os jovens das gerações anteriores a freqüentar uma religião. Com uma cultura cada vez mais individualista e multifacetada, as religiões correm risco de se tornarem objetos para satisfação unicamente pessoal. As pessoas podem migrar de uma a outra sem sentirem-se contraditórios às suas crenças. Cada vez menos os jovens entram, ou saem de uma religião por causa de suas famílias. Não há mais a tradição de uma religião atravessar várias gerações de uma família.

“A pluralidade da juventude não é contemplada por uma só religião e isso é um fato que precisa ser mostrado”, como disse Elen Linth, 22 anos, coordenadora nacional da Pastoral da Juventude. Para Elen, é natural a saída de jovens da igreja, assim como a procura dos mesmos por novas religiões. As buscas são muitas. Segundo o filósofo e especialista em fenomenologia da religião Edebrande Cabvalieri “as incertezas da sociedade atual podem levar os jovens a procurar religiões mais rígidas”. Thiago Chaves é católico praticante e participante do grupo de jovens “Encontro de Jovens com Cristo” na Capela São Gonçalo do Amarante, em Jacarepaguá - RJ. Lá ele participa de, no mínimo, uma reunião por semana. É comum marcarem ainda mais reuniões no decorrer da semana quando julgam um assunto ainda inacabado.

Pode-se ver o reflexo da pluralidade dos jovens dessa geração ao observar suas buscas espirituais, enquanto uns procuram uma maior rigidez, outros encontram-se plenamente em espaços mais flexíveis. Bernardo Ornellas, 19 anos é membro do grupo da mocidade espírita, em Petrópolis. Para ele, muitos jovens procuram o espiritismo porque no espiritismo tudo parte muito da sua consciência, não há regras, só conselhos. Assim  como a maioria dos jovens praticantes de uma única religião, Bernardo acha que falta de compromisso que uma parte da juventude tem com suas religiões pode ser um grande problema.

Estudante de música pela UFRJ e seguidor da religião do Santo Daime, Igor Telteroit é membro do grupo jovem de estudo, onde os jovens se dividem para estudar fundamentalmente música e a religião. Para Igor, a inconseqüência e a inconstância acabam por banalizar a religião. Muitos jovens chegam à sua igreja apenas para tomar o chá e utilizá-lo como um psicotrópico qualquer. Isso, segundo ele, não é uma experimentação da religião, mas sim um uso indevido da mesma, o que pode trazer sérios problemas ao jovem.

A proximidade entre as gerações pós-globalização e as religiões orientais, por muito tempo proibidas em nossa sociedade pela colonização católica, é muito grande. As lojas de produtos esotéricos oferecem uma orientalização das crenças ocidentais, como foi explicitado por Regina Novaes, doutora em Ciências Humanas (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo, em seu texto “Os jovens sem Religião” *. Com isso, a procura de uma espirtualidade e de alguma certeza, numa época em que tudo parece tão volátil, torna-se cada vez mais pessoal.

* Leia o texto na íntegra em: www.scielo.br/pdf/ea/v18n52/a20v1852.pdf

Saiba mais sobre o assunto em:

Nova paisagem religiosa (artigo)

Os desafios da religião na modernidade (matéria sobre livro "família e religião)

Comunidades de vida no Espírito Santo: juventude e religião (estudo sobre jovens da Renovação Carismática Católica - pdf)

Edição especial da revista do Instituto Humanitas Unisinos  IHU On-Line que tem como tema As mudanças no campo religioso (pdf)

MACHADO, Maria das Dores Campos. 1996. Carismáticos e Pentecostais: Adesão Religiosa na Esfera Familiar. Campinas: Ed. Autores Associados/ANPOCS. 218 pp. (resenha)

Iser Assessoria (Religião, Cidadania e Democracia)

Instituto de Estudos de Religião (ISER) - DIVERSIDADE CULTURAL E RELIGIOSIDADE

Casa da Juventude - Juventude, religião e projeto de vida (ensaio - word)

Um outro olhar sobre o sistema socioeducativo

Afirmações a favor da redução da maioridade penal têm sido feitas de forma insistente por políticos e jornais. Por isso o Observatório Jovem decidiu que, no mês de abril, o foco principal do site seria o questionamento do atual sistema socioeducativo. Será que este sistema realmente funciona? Os jovens que saem das unidades de internação estão preparados para integrar-se à sociedade?

No Rio de Janeiro o sistema socioeducativo é responsabilidade do DEGASE (Departamento Geral de Ações Socioeducativas). Uma nova diretoria do departamento tomou posse no dia 30 de março. Esta, se quiser melhorar o sistema, terá muito trabalho pela frente. Avaliações negativas do DEGASE foram feitas por diversos órgãos, alguns internacionais, como o “Human Rights Watch”, ONG norte-americana que fiscaliza violações dos direitos humanos em diversos países.

Segundo o relatório “Inspeções de Direitos Humanos”, produzido pela parceria entre Conselho Federal de Psicologia e Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, as condições da unidade de internação Padre Severino, são “absolutamente inadequadas”. A superlotação é um dos fatores que chamam a atenção, porém não mais do que os relatos dos próprios adolescentes, que demonstram um sofrimento cotidiano.

A Equipe Observatório Jovem conversou com rapazes egressos da unidade de internação provisória Padre Severino. As memórias do local, longe de refletirem bons exemplos ou motivações, são relatadas em voz baixa, com a tristeza de quem ainda acorda com medo de estar atrás das grades. A violência contra os jovens cumprindo medidas socioeducativas restritivas da liberdade parece ser prática cotidiana do sistema, como relatou “D”, 22 anos, ex-detento do Padre Severino, agora educador da ONG “Se Essa Rua Fosse Minha”:

“D”: Antes de vir pra cá (Se Essa Rua Fosse Minha) eu ficava na comunidade à toa. Me envolvi com uma coisa errada, na vida do crime. Tráfico. Eu era pipeiro (soltava pipa para dar recados sobre o movimento na comunidade), aí comecei a passar umas coisas (drogas), até eu levar um tiro.  Fiquei um mês e 15 dias no Padre Severino e depois fui pro CRIAM (“Centro de Recursos Integrados de Atenção ao Menor”). Lá no “Padre” (Severino) não tinha artes nem nada, (era) pátio, hora da comida e só. Quando fazia merda, fazia coisa errada, os “seus” (agentes de disciplina) chegavam batendo. Se um fazia, todo mundo apanhava.

Observatório Jovem (O.J): O que era fazer merda? O que era coisa errada para vocês?

“D”: A gente não podia escrever o nome na parede nem fumar dentro do alojamento, se um fizesse, eles chegavam batendo em todo mundo. Às vezes os “seus” “tiravam onda”  também, aí eles pegavam seu biscoito, seu cigarro, que  as visitas levavam, e rasgavam, pisavam, só pra te esculachar mesmo.

O. J.: Como era a questão de alojamento no Padre Severino?

“D”: Na cela ficava uns vinte e poucos numa cela pra dez. Os alojamentos já eram separados por facção. Era bom você se ligar a alguma facção, ficar esperto, se não os caras roubavam tua comida, teu lanche e você não podia fazer nada. Tinha o “alojamento do Comando Vermelho”, o “alojamento do Terceiro Comando”, o dos “sem comando” (risos) que ajudavam na cozinha, eram mais quietinhos. O pior de todos era o alojamento "A", que era “dos mais mauzinhos”, não tinha saída pro pátio, não tinha nada, eles só ficavam trancados numas celas pequenas.
De lá eu fui transferido para o CRIAM de Bangu. Eu morava no (morro da) Formiga e fui pro CRIAM de Bangu.

O. J.: E no CRIAM, como era o alojamento?

“D”: Lá era bom, tinha colchão, coberta.

O. J.: Mas no “Padre” não tinha isso?

“D”: Lá era um colchão fininho numa cama de concreto, você nem sente o colchão. Coberta não tinha.

O. J.: O que você tirou de bom da sua vivência nos dois lugares, o que você aprendeu de bom lá?

“D”: Do Padre Severino não tirei nada de bom, mas do CRIAM sim, lá aprendi marcenaria e um pouco de artes. Lá tinha esportes, oficina.

O. J.: Eles te matricularam na escola?

“D”: Não me matricularam na escola não, mas o atendimento lá era legal, tinha psicólogo, assistente.

Assim como “D”, outros meninos que hoje são educadores e “circuladores de informação” da ONG, já passaram pelo sistema socioeducativo. Foram unânimes ao dizer que as recordações dos dias em que estiveram internados servem apenas para mostrar o estado de falência deste sistema, que não respeita os direitos humanos, ainda menos o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Jovens à procura de si mesmos, de suas identidades, conseguem apenas sentir que estão cada vez mais deslocados, mais repudiados pela sociedade na qual se inserem, ao passar por um sistema que deveria ressocializá-los. A violência, tanto física quanto psicológica, com a qual são tratados nas unidades de internação nutre apenas um ciclo de violência, que se reproduz na sociedade, nas comunidades e nas páginas dos jornais.

Pesquisadoras do O.J. conversam com jovens educadores da ONG Se essa rua fosse minha. Foto Marcos Vasconcellos

Algumas imagens foram retiradas de: AdPeople Comunicações

* Marcos Vasconcellos é aluno do Curso de Jornalismo da UFF e bolsista do Observatório Jovem/UFF

Leia mais sobre o assunto em:

"Direitos Humanos, um retrato das unidades de internação de adolescentes em conflito com a lei"

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